quinta-feira, 8 de janeiro de 2009


Como é possível?


Como é possível tanto desprezo pela vida e pela dignidade humana? Como é possível tão frontal e contumaz violação da legalidade internacional e dos direitos humanos mais elementares?

Como é possível que há mais de sessenta anos o povo palestiniano veja negado o reconhecimento do seu próprio Estado independente e soberano e que, ano após ano, continue prisioneiro e barbaramente perseguido na sua própria pátria?

Como é possível que o «mundo ocidental» e a «comunidade internacional» permitam, qualquer que seja o pretexto invocado, que a faixa de Gaza, território ocupado que as tropas israelitas se viram forçadas a abandonar pela luta heróica do seu povo, se tenha transformado num imenso campo de concentração, uma autêntica Auschwitz de novo tipo?

Como é possível que um Estado que nasceu expulsando pela violência e o terror centenas de milhares de palestinianos dos seus lares, e que pratica sistematicamente o terrorismo de Estado, seja ainda hoje, após tantos e tão monstruosos crimes (como o bombardeamento de Beirute ou o complot com os fascistas libaneses nos massacres de Sabra e Shatila) cinicamente apresentado como vítima do «terrorismo», ontem da OLP, hoje do Hamas, força que ele próprio ajudou a erguer contra o movimento nacional palestiniano?

Como é possível que um Estado enfeudado a uma ideologia racista e expansionista, o sionismo, altamente militarizado, dispondo da arma nuclear e ameaçando utilizá-la, não só não seja objecto de quaisquer sanções, como seja o principal beneficiário da ajuda financeira e militar dos EUA (a que se seguem o Egipto e a Colômbia) e mantenha um privilegiado «Acordo de Associação» com a União Europeia?

É possível porque o heroísmo do povo palestiniano não pode por si só derrotar tão cruel e poderoso inimigo. Porque a solidariedade das massas árabes e muçulmanas, que se tem manifestado nestes dias em grandes acções de protesto e indignação, não encontra tradução a nível de governos geralmente reaccionários e enfeudados ao imperialismo. Porque, na sequência dos acordos de Oslo, a que o PCP desde o primeiro momento se opôs, se enfraqueceu e foi mesmo posta em causa a posição da OLP como única e legítima representante do povo palestiniano, ao ponto de Israel não esconder a esperança de encontrar no campo palestiniano interlocutores que claudiquem e traiam o seu próprio povo. Tudo isto dificulta extraordinariamente uma resposta firme e unida aos adversários da causa nacional palestiniana. E tanto mais quanto a correlação de forças no plano internacional é ainda desfavorável às forças do progresso social e da paz e Israel, como o comprova toda a sua existência, é um instrumento imprescindível ao imperialismo na sua estratégia de tensão, desestabilização e domínio do Médio Oriente com tudo o que isso representa na luta pelo controlo dos recursos petrolíferos da região e na expansão imperialista em curso na Ásia Central em que avulta – interligada com a situação no Iraque e as pressões contra a Síria e o Irão - a intensificação da guerra no Afeganistão.

É esta a questão central em nome da qual o capitalismo não recua diante das maiores mentiras e se auto-absolve dos piores crimes, e em torno da qual, apesar de reais contradições, EUA e UE se dão as mãos sujas do sangue de milhares e milhares de crianças, mulheres e homens cujo único crime é amarem a sua terra e recusarem a rendição.

Entretanto a profunda crise do capitalismo que aí está obriga a observar a criminosa ofensiva israelita também pelo ângulo do agravamento no plano internacional dos factores de tensão e de guerra. É nela que jogam os sectores mais reaccionários do capital como saída para a crise, para a destruição do capital sobre acumulado perante a pauperização crescente das massas. A esta luz a corajosa resistência do povo mártir da Palestina adquire ainda maior importância. E a nossa solidariedade para com a sua justa causa libertadora também. Com ela o povo palestiniano vencerá.


  • Albano Nunes

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