domingo, 16 de novembro de 2008

Obama: renovar das ilusões e recuperar o sistema


Percebe-se agora, com as primeiras escolhas de barack Obama o que está por trás. “Por muito que os media (onde o lobby judeu tem posições determinantes…) falassem da campanha inovadora, do futuro, do uso da Internet, dos jovens, foi evidente que este inexperiente senador de 45 anos, com um discurso bem ritmado e servido por um timbre agradável, mas oco de ideias, publicitariamente marcado até à exaustão por «sim nós podemos» e a palavra «mudança» foi lançado por uma poderosa máquina publicitária, como se um qualquer produto se tratasse.



Se há alguma coisa em que o capitalismo ainda pode surpreender, é na sua extraordinária capacidade de recuperar o sistema e renovar ilusões nas massas oprimidas e exploradas.

Daí, apesar de ainda estarmos no início da mais profunda crise do sistema capitalista, há muito está em curso, nos EUA e no mundo, uma poderosíssima campanha de criação de ilusões em torno do ora presidente eleito norte-americano, Barack Obama.

Mesmo em Portugal, gente séria e instruída que sempre integrou o campo democrático, rejeitou o capitalismo e parece conhecer, em abstracto, o imperialismo norte-americano, pessoas que se indignaram com a invasão do Afeganistão, do Iraque e a tentativa de criação de um império planetário viveram as recentes eleições norte-americanos como se tivessem a possibilidade de contribuir com o seu voto para a decisão. Conhecidos os resultados, muitos foram os que exultaram até ás lágrimas.
Escolhas de Obama desfazem ilusões
A mais fiável sondagem eleitoral nos EUA é a dos milhões de dólares que cada candidato consegue angariar. E a campanha de Obama, superou em muitos milhões a de Hilary Clinton nas primárias e a de McCain nos actos eleitorais. Por isso perderam.

Ninguém no seu perfeito juízo acredita que os mais de 650 milhões de dólares da bilionária campanha de Obama lhe foram doados, dólar a dólar, pelos jovens, os negros, os latino-americanos e as dezenas de milhares de norte-americanos já despejados das suas casas hipotecadas. Este foi um mistério que a nomeação do Chefe de Gabinete da futura administração, Rahm Emanuel, permite levantar a ponta do véu.

Rahm Emanuel, poderá ser «uma das maiores cabeças políticas de Washington», como disse Bill Clinton, mas mesmo que o seja, não é essa a qualidade que o distingue. Filho de um sionista russo «membro das forças do Irgún de Begin» na limpeza étnica da Palestina em 1948, Rahm alistou-se, em 1991, como voluntário civil na guerra do Iraque lançada por Bush pai (Operação Tormenta do Deserto) e «membro do dispositivo desenvolvido para garantir a defesa de Israel no caso de um ataque iraquiano». Dos principais artífices do ALCA, quando o acusaram de ser oficial do exército israelita, afirmou que «nunca vestiu a farda», talvez por, de acordo com a rede Voltaire, ser apenas membro do Amal, o serviço secreto do exército israelita.

Membro do Instituto de Washington para a Segurança de Proximidade do Este (WINEP na sigla inglesa), Rahm também é consultor do Instituto Judeu para Assuntos de Segurança Nacional (JINSA, na sigla inglesa), estruturas associadas do Comité de Assuntos Públicos EUA-Israel (AIPAC, na sua sigla inglesa), estrutura que com o Comité Judeu Americano dirige o Poder dos Poderes que nenhum presidente norte-americano se atreve contrariar.

Rahm, que também serviu na Casa Branca com Clinton antes de, em 1998, ir trabalhar com Bruce Wasserstein, um importante especulador de Wall Street e dos principais financiadores dos democratas, é considerado o principal responsável pelo fechar da brecha que a derrota de Hilary nas primárias abriu com a candidatura de Obama. A escolha do Vice-Presidente já prenunciava a teia em que Obama estava envolvido: apresentado como uma mais valia e «muito experiente em política internacional» do império, Joe Binden, católico e assumido defensor de Israel, é o principal elemento dito liberal da «poderosa direita católica aliada do lobby sionista que controla Wall Street, os bancos da Reserva Federal, Complexo Militar-Industrial e Sillicon Valley».

Entre os nomes falados para seu secretário do Tesouro estão Warren Buffet, um dos maiores especuladores de Wall Street que recentemente absorveu o banco Goldman Sachs (a crise vai proporcionar uma muito maior concentração do capital), evitando a sua falência, Lawrence Summers (ideólogo do sionismo bancário) que foi membro do gabinete de Bill Clinton, Paul Vocker, ex-presidente da Reserva Federal e Robert Rubin, ex-secretário do Tesouro de Clinton e assessor do Citigroup, um dos bancos salvos da falência por ter abocanhado parte dos 700 mil milhões de dólares do plano de Bush há pouco aprovado.
Como um produto publicitário
Quando há pouco mais de dois anos, apresentou a sua candidatura à nomeação de candidato pelo Partido Democrático à Presidência dos EUA, Barack Obama era, apesar de senador, um ilustre desconhecido. A sua figura agradável, alto e esguio, aliado ao facto de ser o único senador negro presente no Senado e o atrevimento de disputar a nomeação ao poderoso clan Clinton, gerou um sentimento de curiosidade e simpatia.

Por muito que os media (onde o lobby judeu tem posições determinantes…) falassem da campanha inovadora, do futuro, do uso da Internet, dos jovens, foi evidente que este inexperiente senador de 45 anos, com um discurso bem ritmado e servido por um timbre agradável, mas oco de ideias, publicitariamente marcado até à exaustão por «sim nós podemos» e a palavra «mudança» foi lançado por uma poderosa máquina publicitária, como se um qualquer produto se tratasse.

Se no início das primárias o lobby judeu ainda punha as fichas nos dois principais candidatos democratas (Rahm Emanuel dirigia a campanha das primárias de Hilary Clinton!) como fórmula de, internamente, recuperar o orgulho americano e de apagar a onda de anti-americanismo que cresce no mundo, consequência natural dos dois mandatos de Bush, o rebentar da crise em Agosto de 2007 definiu onde pôr a cave. O clan Clinton estava demasiado comprometido com o establishment para credibilizar qualquer esperança de mudança. Obama, ainda por cima negro, encaixava como recortada peça de puzzle no imaginário do orgulho americano, e no objectivo de reverter a vaga de descrédito dos EUA que alastrou em todos os continentes.

O mundo vive o início de uma profunda crise do capitalismo, que simultaneamente com a concentração de mais riqueza em menos pessoas, vai lançar na miséria muitos milhões de pessoas em todo o mundo.A solução não está na recuperação do sistema, mas na intensificação da luta contra o sistema, por um outro mundo possível, por mais longínquo que esse horizonte se nos apresente.

  • João Paulo Gascão
O magarefe


por Iván Márquez [*]

O cruel assassinato de milhares e milhares de civis a mãos do exército, para a seguir apresentá-los nos seus "falsos positivos" como guerrilheiros dados como baixa em combate, é o mais recente e horroroso grito de vitória dessa seguridad democrática do presidente Uribe. Não pode agora esse presidente magarefe rasgar hipocritamente as roupagens quando sempre mediu em litros de sangue o êxito da sua política. Não pode agora posar como querubim celestial, ele que é o pai dos incentivos perversos à política de recompensas que dizimou tantas vítimas inocentes na Colômbia. Ainda que apareça com o rosto contrito a dizer que tudo aconteceu nas suas costas, este Uribe continua a ser o mesmo que condecorou o general Rito Alejo del Rio por haver massacrado a população civil de Urabá, e continua a ser o mesmo que há pouco se consolava diante do corpo ensanguentado de Raúl Reyes e diante da mão decepada de Iván Ríos, cujos cadáveres ainda não devolveu aos seus.

Nenhum governo, nenhum povo do mundo, deve dar crédito a um mentiroso teatral e cínico manipulador da opinião pública. O que se passou nas ditaduras do Cone Sul, apesar da sua gravidade, é apenas um pálido reflexo diante do voraz holocausto humanitário activado por Uribe no norte da América do Sul. Tanta barbárie e tanta impunidade ofendem a humanidade.

Quando o ministro da Defesa, senhor Juan Manuel Santos, reitera e insiste que este governo matou em seis anos mais de 30 mil guerrilheiros, pode-se perguntar quem serão então esses mortos se a guerrilha continua nos seus mesmos postos de combate contra a tirania. É necessário identificar também os milhares de massacrados que os paramilitares entregaram ao exército a fim de que os utilizassem como partes positivas da sua suja guerra contra-insurgente. As organizações de direitos humanos no mundo deveriam ajudar a esclarecer este dantesco drama humanitário do vitimizado país do esquecimento que é a Colômbia.

O que foi descoberto até agora é apenas a ponta do iceberg da infâmia. A triste história dos jovens de Soacha que foram levados enganados pelo exército até Ocaña para serem ali ultimados em nombe da política de "seguridad democrática" de Uribe é a mesma, sombria e lutuosa, de um universo de cidades, de aldeias e de campos da Colômbia implacavelmente castigados pela política fascista. Quantos crimes contra jovens desempregados..., quantos camponeses assassinados pelo exército nas serranias e nas selvas apresentados como guerrilheiros mortos em combate no âmbito do funesto Plano Patriota... Os cárceres estão cheios de "falsos positivos", ou melhor, de milhares de inocentes presos acusados injustamente de guerrilheiros e terroristas pela perfídia do regime actual. O iníquo sistema judicial premeia com promoções os juízes e promotores que mais condenem guerrilheiros, estendendo assim a prática dos "falsos positivos" à justiça. A Colômbia precisa ser iluminada por potentes reflectores que contribuam, a partir do exterior, para dissuadir os ultrajes do poder.

Derrotado pelas provas – não sem antes jurar e rejurar que os abatidos foram mortos em combate –, Uribe viu-se forçado a destituir alguns generais de Divisão e de Brigada, assim como cinco comandantes de batalhões para lavar as mãos e apaziguar a tormentosa crítica. Contudo, sustentou esta decisão no argumento peregrino de que saíam por falta de controle das suas tropas e por conluios com delinquentes, negando que se trata de um problema estrutural. "Agora o êxito será medido por desmobilizações e capturas" – disse –, sem explicar convincentemente a directriz 029 de Novembro de 2005 na qual o seu então ministro da Defesa, Camilo Ospina, actual embaixador na OEA, estabelecia recompensas por mortos, material de guerra e equipamentos apreendidos ao inimigo. Também parece ter-se esquecido que o mesmo instaurou nos princípios do governo uma rede de mais de 1 milhão de "sapos" ou informantes movidos pelas recompensas. Se os generais e os coronéis objecto de sanção saíram, como diz Uribe, por "conluio com delinquentes", então deveria ser aplicada a mesma consideração aos que se reuniram com delinquentes mafiosos da "Oficina de Envigado" [*] na própria sede do governo: o Palácio de Nariño.

O diário El Tiempo, de que são proprietários os Santos, ou seja, o ministro da Defesa e o vice-presidente, referindo-se ao expurgo de 27 militares intitulou com tintas escuras de cortina de fumo: "Varrida exemplar": "Há sérios indícios de negligência no comando"; "Actuavam na contramão da seguridad democrática e da doutrina e da honra militar"; "Não é um problema estrutural". Tão estrutural é que se actuassem consequentemente teriam que ir até si próprios, incluído o presidente. Já se foi esse sanguinário comandante do exército, general Mario Montoya, porque entendeu que era causa perdida tentar tapar o sol com as mãos. O espantoso facto delitivo estimulado pelo governo de dizimar vidas por recompensas e promoções não deve ficar numa demissão mediática; deve conduzir a uma responsabilização penal.

Dói e indigna ver como alguns politólogos, directores de notícias e colunistas estipendiados fazem-se eco da manipulação mediática posta em andamento pelo presidente Uribe e os senhores Santos. Outros optaram por um inexplicável silêncio cúmplice frente a este pavoroso crime de lesa humanidade. Até o silêncio de alguns purpurados fez soluçar Deus. Não deve demorar mais o julgamento e o castigo dos carniceiros do Palácio de Nariño.

Montanhas da Colômbia, 4 de Novembro 2008 (Modificado a 12/Novembro/2008 )

[*] Envigado: municipalidade no departamento de Antioquia. Na Área Metropolitana de Medellin existe um local com o mesmo nome.

[*] Membro do Secretariado do Estado Maior Central das FARC EP
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