sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009


Pornofascismo



Se a palavra é nova, a prática, que talvez não o conceito, não deixa de ser velho, tão velho como o fascismo que, conforme se lembram alguns e esqueceram muitos, representou a resposta a que o desespero reaccionário do capitalismo lançou mão para se opor, na Europa e depois por aí fora, ao fim anunciado da exploração do homem pelo homem que a Revolução de Outubro trouxe para a arena da História. Enleado em crises sucessivas criadas pelo seu próprio sistema de acumulação, o capitalismo precisava de ser salvo. E encontrou em cada país os seus aliados na pequena burguesia vacilante e na atávica traição da social-democracia. Campo fértil para medrar, chegando a obter, como foi o caso da Alemanha e da Itália, um amplo apoio de massas.

Regime bárbaro e sanguinário, o fascismo e o nazismo erigiram o Estado como feroz perseguidor das liberdades e, sobretudo, o feroz capataz do capital, impondo aos trabalhadores a miséria e a obediência em face da exploração desenfreada. Fazedor de guerras, destrutor de nações, torturador e assassino, o fascismo é o retrato a corpo inteiro do capital que hoje, uma vez mais, vacila perante a crise que engendrou.

Não admira, assim, que, de tempos a tempos, seja forte a tentação de repintar o retrato dos ditadores. Hitler já foi «maluco» e toxicómano, já foi pederasta e machão, representou o papel, em numerosas histórias, tanto de frio e calculista como de apaixonado que «descansava» dos seus feitos no regaço rechonchudo de Eva Braun. O fascismo de Mussolini já foi presenteado com um filme – aliás genial – de Visconti, que se interessou mais pela escatológica pornografia de Sodoma do que pela natureza corrupta do capitalismo.

Por cá, pobrezinhos que somos, entre a tentativa de erguer um monumento ao ditador ou de abrir um museu com o seu execrável nome, aparecem estas «novelas» que novamente nos impingem. Há tempos, o inefável Moita Flores, «inventou» os «ballets roses», baseado na escandaleira dos ministros e das suas róseas rapariguinhas. Agora, vendem-nos o Salazar, esse «Botas» «sempre casto», como um orgástico cavaleiro que não deixava escapar nenhuma dama.

Coisas para a gente se distrair. Está na moda, e apresenta imagens escaldantes. Como deve ser.
  • Leandro Martins



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