sexta-feira, 6 de agosto de 2010

«O sacrifício americano»


Obama anunciou a retirada, até final de Agosto, de parte dos soldados norte-americanos que ocupam o Iraque. A ocupar o país ficam, agora, apenas 50 mil soldados. Isto porque, explica o Prémio Nobel da Paz no seu linguajar imperial, «a triste realidade é que ainda não vamos ver o fim do sacrifício americano no Iraque».

São uns sacrificados estes «americanos»: sempre, sempre a semear democracia, liberdade e direitos humanos por tudo quanto é sítio - numa sementeira de sacrifícios que, no Iraque, provocou a destruição do país e a morte de centenas de milhares de homens, mulheres e crianças inocentes.

Aliás, o «sacrifício americano» não é de hoje: tem tantos anos de idade quantos tem a ambição do imperialismo norte-americano de domínio do mundo, com o implacável vale-tudo a que é uso recorrer para concretizar essa ambição.

Como é sabido, foi com grande «sacrifício» que, faz agora 65 anos, os EUA lançaram as bombas atómicas sobre Hiroshima e Nagasáqui – três meses depois da rendição de Hitler e quando o Japão estava irremediavelmente vencido. Foi com igual «sacrifício» que os bombardeiros norte-americanos espalharam a devastação e a morte no Vietnam. Foi com esse mesmo «sacrifício» que os sucessivos governos norte-americanos instalaram no poder e apoiaram ditaduras fascistas um pouco por todo o mundo - e não nos esqueçamos que o fascismo salazarista/caetanista teve o sacrificado apoio dos EUA até ao dia 24 de Abril de 1974.

Foi ainda desse «sacrifício» que nasceu há 50 anos o criminoso bloqueio a Cuba e, há um ano, o golpe fascista nas Honduras e, mais recentemente, a ocupação da Costa Rica e as sucessivas provocações contra os povos que na América Latina decidiram ser donos do seu próprio destino. E por aí fora, numa sucessão de «sacrifícios» que deixa atrás de si um rasto de destruição e morte – a barbárie.

O «sacrifício americano» - sempre com consequências trágicas para milhões de cidadãos não norte-americanos - é uma expressão que, de tantas vezes utilizada pelos vários presidentes dos EUA ao longo da história, bem pode passar a constituir o refrão do hino nacional daquele país.

  • José Casanova

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Já basta!


(...) «Basta de gente que ganha num dia aquilo que outros ganham num ano. Tem que haver alguém que ponha cobro a isto e que tenha coragem.» (...) «O investimento deve ser feito em bens verdadeiramente úteis e não em realidades virtuais, que estiveram na base da crise financeira mundial.» (...) «É preciso ultrapassar o capitalismo neoliberal, pois a crise é também uma crise de valores.»

As palavras são do bispo auxiliar de Lisboa, D. Carlos Azevedo, que a semana passada desafiou os políticos portugueses a abdicar de 20 por cento dos seus salários em benefício de um fundo social. A proposta surgiu no seguimento da reunião extraordinária do Conselho Consultivo da Pastoral Social que pediu «mais responsabilidade social e política perante a crise» e «soluções corajosas» para a ultrapassar.

Mesmo considerando, numa leitura mais fina, que o bispo poderia ter ido muito mais longe – e logo aproximar-se muito mais da verdade – se tivesse dito, por exemplo, que «basta de gente que ganha num dia aquilo que muitos e muitos outros Não ganham numa vida inteira de trabalho», há que reconhecer que não é difícil – diria mesmo que é bastante fácil – comungar das opiniões reproduzidas acima. O que é difícil, isso sim, é conjugar estas palavras com o resto do discurso do eclesiástico que actualmente tutela a acção social da Igreja e, sobretudo, conciliá-las com a prática da Igreja católica.

Com efeito, na mesma entrevista em que reconheceu a escandalosa injustiça da repartição da riqueza e invectivou os gestores que ganham ordenados «obscenos» – palavras suas – o bispo Carlos Azevedo também disse que «a crise é tão grave que não poderemos superá-la uns contra os outros: empresários contra sindicatos, sindicatos contra patrões, Governo contra Oposição e Oposição contra Governo.» A solução? Um «pacto social sustentado e justo» entre cidadãos, partidos, sindicatos e empresários. Houve quem, como Mário Soares, se confessasse «impressionado» pela «lucidez e coragem» de D. Carlos Azevedo e, sem rebuços, «aplaudisse». Outros, menos exuberantes, foram dizendo «nim», que isso de fazer caridade pode ser muito católico mas 20 por cento sempre é 20 por cento, mas lá que um pacto dava jeito, isso dava...

Pois é, milénios de vida têm essa vantagem: num parágrafo alimenta-se a sede de justiça dos oprimidos, noutro cuida-se dos interesses dos opressores. Porque isto de pactos entre patrões e sindicatos, exploradores e explorados, direita e esquerda, algozes e vítimas não passa de poeira para os olhos destinada a prevenir o que de facto assusta a Igreja, ou seja o reconhecimento de que «situações extremas de pobreza e de fome podem conduzir à revolta e à violência, numa sociedade de desigualdades», como bem alertou o bispo.

Para a Igreja, o que está em causa não é acabar com a exploração, é torná-la suportável; não é acabar com a miséria, é mantê-la controlada; não é pugnar pela justiça social, é criar mecanismos de escape para aliviar a pressão. Daí a proposta dos 20 por cento, que afinal mais não é do que a reafirmação do princípio de que sempre haverá ricos e pobres ou, dito de outro modo, uma sociedade de classes em que uns vendem a força de trabalho ou estendem a mão à caridade, e outros se apropriam do lucro.

De facto, já basta! Mas esta realidade só a luta a pode alterar.

  • Anabela Fino

quinta-feira, 29 de julho de 2010

O pai da política de direita


 
Às terças-feiras, infalivelmente, Mário Soares enche, de cabo a rabo, uma página do Diário de Notícias (só legível por dever de ofício, diga-se, em abono da verdade).

 Ali, Soares, de espada em riste, trava a semanal cruzada na defesa daquela que é, inequivocamente, a menina dos seus olhos: a política de direita.

 A política de direita por ele concebida e da qual é o incontestável e incontestado pai; por ele iniciada em 1976, enquanto líder, reconhecido internacionalmente, da contra revolução; e, de então para cá, praticada por sucessivos governos PS/PSD/CDS-PP. Com os resultados que estão à vista.

Ali, Soares faz o elogio repetido do protagonista principal dessa política, na actualidade: José Sócrates, ao qual não se cansa de incentivar e no qual não pára de descobrir inteligência e coragem.

 Ali, Soares exibe a sua condição de propagandista do capitalismo do qual ele tem sido, em Portugal, o maior e mais eficaz defensor nas últimas décadas.

 Ali, Soares faz o incontinente panegírico de Obama, o líder por excelência, afinal o único que, certamente por obra e graça das guerras e ocupações do Iraque, do Afeganistão, da Colômbia, das Honduras, da Costa Rica…, é capaz de assegurar ao imperialismo norte-americano o domínio do mundo.

 Enfim, ali, Soares mostra o que é – e confirma o que sabemos que é.

 Na última terça-feira, os aplausos do pai da política de direita foram para o bispo auxiliar de Lisboa, Carlos Azevedo. Mais precisamente para as declarações por este proferidas – e que os média dominantes se fartaram de divulgar – sobre a «crise» e sobre as «soluções» para a dita.

Das propostas do bispo auxiliar, a que mais fundo tocou a sensibilidade, digamos assim, de Mário Soares foi a do «pacto social sustentado e justo entre cidadãos, partidos, sindicatos e empresários».

 Soares vê na proposta do bispo o «remédio seguro para vencer a crise».

 Porque «a crise toca a todos», não é verdade? E nada melhor do que «o empenhamento de todos, o compromisso solidário», para «vencer a crise», isto é: para assegurar a continuação da política de direita...
  
De que Soares é o pai.
  • José Casanova

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Sem nível nem regras


«Com esta proposta, num regime semi-presidencial, Pedro Passos Coelho põe-nos ao nível da Namíbia ou do Burkina Faso, países onde não há regras», disse Francisco Louçã, comentando as notícias sobre a proposta do PSD de revisão constitucional.

Vê-se a infeliz declaração do coordenador do BE e há uma parte de nós que fica com a sensação de que desta vez é que o pé do eficiente e infalível Louçã lhe escorregou para a poça. São coisas que acontecem, todos temos deslizes – pensamos –, e podia ter-se dado o caso de um arcaico preconceito ter saído do inconsciente para a boca, sem controlo, para embaraço do cosmopolita Louçã.

Mas parece que não causou vergonha nenhuma. A expressão lá está, repetida como se tivesse dignidade, no portal do BE na Internet, a abrir o artigo sobre a sessão pública em que foi proferida.

Neste pequeno texto não se fazem juízos sobre o Burkina Faso e a Namíbia, não se abordam as propostas de revisão constitucional do PSD, nem se discute o regime semi-presidencialista. É público que o PCP considera que o que faz falta ao País é cumprir a Constituição da República e não introduzir-lhe mais golpes e mutilações.

Neste pequeno texto apenas se anota que a forma que o BE entendeu usar para se referir a estes dois países revela um enorme preconceito, com a habitual dose de populismo e a profunda arrogância de quem vê o mundo dividido entre civilizados e bárbaros, desenvolvidos e primitivos – incluindo-se sempre no grupo dos primeiros.

É uma frase típica do pensamento dominante, que encaixa no preconceito, oriundo do mais escuro colonialismo, que atribui aos países do «terceiro mundo» em geral e aos africanos em particular uma suposta incapacidade, quase genética, de viver em democracia. Uma frase que revela um profundo desrespeito pela história, pela cultura, pelos processos de luta e de independência destes dois países – para os mais distraídos, relembre-se que a Namíbia é independente há apenas 20 anos.

De resto, uma busca rápida pelas enciclopédias digitais revela que são cerca de 35 os países «sem regras» que têm regimes semi-presidenciais, entre os quais a Finlândia e a França, que darão decerto origem a brilhantes trocadilhos em próximas iniciativas do BE.
  • Margarida Botelho

quinta-feira, 22 de julho de 2010



Os «presos políticos»

A decisão do Estado cubano de libertar cidadãos julgados, condenados e presos em Cuba teve uma grande visibilidade mediática. Mas, em vez da verdade, foram as mentiras, a ocultação de factos e as acusações gratuitas contra Cuba que marcaram o tom das notícias veiculadas pelos media dominantes. Mais uma vez, como em tantas outras, o que se pôde ler nos jornais europeus tem muito pouco de notícia e muito de operação de desinformação e intoxicação ideológica.


Não se pretende aqui defender que o assunto não devesse ser notícia. Pelo contrário, deve sê-lo porque não são muitos os países que tomam a decisão de libertar 52 pessoas que participaram numa ampla conspiração internacional contra o Estado e a Constituição desse mesmo país. E aqui reside a grande ocultação e mentira das «notícias» que têm sido publicadas. Os cidadãos ora libertados, e os que o serão ao longo dos próximos meses, não são inocentes e desprotegidos cidadãos cubanos cujo crime seria o de discordarem do regime político da ilha socialista. Não!


Como está bem documentado em provas apresentadas pelas autoridades cubanas e reconhecido por várias organizações internacionais, estas pessoas receberam de países estrangeiros (os EUA) fundos e materiais para conspirar contra o Estado cubano, um crime punido por lei em Cuba e de forma geral em todos os países do mundo. Essa conspiração teve um nome: projecto Varela. Visava por diversos meios derrubar, se necessário pela força e por via de uma invasão militar estrangeira, as instituições cubanas, convocar um parlamento e nomear um governo provisório que tivesse como missão desmantelar o Estado e a constituição socialistas em Cuba. Uma conspiração que envolvia dezenas de organizações, entre as quais várias norte-americanas, coordenada a partir do escritório de interesses dos EUA em Havana, dirigida por Washington e pela máfia de Miami. O facto, e este deveria ter sido notícia, é que estas pessoas foram condenadas por crimes contra a independência e a integridade territorial de Cuba. O facto é que foram pagos a peso de ouro pelos EUA por via de um financiamento milionário norte-americano ao projecto Varela de mais de 40 milhões de dólares

É importante relembrar o período (2002/2003) da prisão destes mercenários. Esse foi o tempo da inclusão de Cuba no “Eixo do Mal” de Bush; das ameaças directas de intervenção militar em Cuba; das acusações de que Cuba possuía armas de destruição massiva e desenvolvia um programa de armas biológicas. O tempo da célebre ameaça de Bush de que o “regime de Castro não mudará por decisão própria”. Foi deste perigo que Cuba se defendeu e foi nesse contexto que os cidadãos agora libertados foram julgados à luz da Constituição da República de Cuba e do seu ordenamento jurídico. Não são portanto presos de consciência ou presos políticos. E tão pouco são exilados, outra mentira repetida mil vezes nestes dias. A decisão de sair de Cuba coube aos próprios, como o comprova a decisão de outros, de ali ficarem a residir. O que sobressai desta libertação é que Cuba, no quadro do exercício da sua inquestionável soberania, acaba de realizar um gesto diplomático importantíssimo.


O futuro dirá da prevalência ou não da hipocrisia das posições dos que defendem medidas criminosas contra Cuba como a posição comum da União Europeia, ou o famigerado bloqueio. Mas tudo isso é relegado para segundo plano. O que interessa para os media é insistir na ladainha dos presos políticos e de uma feroz ditadura vigente na ilha do Caribe. Simultaneamente assobiam para o lado face a verdadeiros crimes como o de Guantanamo onde cerca de 200 prisioneiros são mantidos em cativeiro há anos sem direito a julgamento; como o assassinato pelo exército e paramilitares colombianos de dezenas de milhares de cidadãos colombianos; como o golpe nas Honduras e o assassinato de opositores ao regime golpista ou ainda como o envio de assassinos a soldo para a Venezuela visando a vida do presidente Chavez e de dirigentes comunistas e progressistas venezuelanos. Mas Cuba e os seus amigos já ensinaram ao mundo que sabem resistir e avançar, e é isso que incomoda os seus inimigos.
  • Ângelo Alves

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Trabalhar até morrer
 
A Comissão Europeia voltou à ideia do aumento da idade da reforma, apresentada como única solução para a «sustentabilidade do sistema de pensões». Desta vez propõe o aumento progressivo da idade de reforma até aos... 70 anos em 2060.
 
A argumentação, de tão básica, explica-se depressa: como a esperança média de vida aumenta, é preciso aumentar o tempo de trabalho para que se desconte durante mais anos.
 
É um argumento inaceitável e falso. Inaceitável porque tenta transformar um importante avanço civilizacional, como é o aumento da esperança de vida, num castigo, destruindo o direito do trabalhador a viver a idade da reforma de maneira digna e livre e tentando impor o regresso aos tempos em que se trabalhava até à morte.
 
O que tem posto em risco a sustentabilidade da Segurança Social é a política de direita, com o seu cortejo de ataques: subfinanciamento crónico, fraude e evasão fiscal do grande patronato, crescente desemprego, precariedade, lay-off, reformas antecipadas, deslocalizações de empresas, etc.
 
É completamente falso que a Segurança Social esteja condenada a definhar. O PCP tem proposto de forma reiterada várias medidas para defender e aprofundar o direito à reforma: mais emprego, melhores salários, diversificação das fontes de financiamento da Segurança Social, combate efectivo à fraude e à evasão fiscal, ou a introdução de uma nova contribuição para as empresas em função do seu Valor Acrescentado Bruto.
 
Aumentar a idade da reforma acentuaria ainda mais o desemprego, particularmente entre a juventude, e dificultaria o rejuvenescimento dos diversos sectores de actividade. Num tempo em que os avanços científicos e tecnológicos permitem produzir mais em menos tempo, impor o aumento do tempo de trabalho só interessa a quem quer explorar cada vez mais.
 
Em 2005 foram 120 mil os portugueses que subscreveram o abaixo-assinado do PCP contra o aumento da idade da reforma. Em Portugal, como em toda a Europa, estas tentativas têm encontrado um combate firme por parte dos trabalhadores. Com a sua unidade e luta vai ser possível derrotar mais esta ofensiva.

  • Margarida Botelho

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Ao trabalho, até à Festa



Para muitos comunistas (e não só) que ano após ano participam na construção da Festa do Avante!, as jornadas de trabalho são a verdadeira festa. Aí, apesar do esforço despendido na execução das mais variadas tarefas – ou talvez mesmo por causa dele – sobressai como em poucos momentos o que de mais belo tem o ideal e o projecto comunistas: o trabalho colectivo, a generosidade, a abnegação, a acção comum por um mesmo objectivo.


Aos fins-de-semana (e sempre que for possível), toda a ajuda é bem-vinda na Quinta da Atalaia. O trabalho é mais que muito – da montagem de estruturas às pinturas, dos acabamentos às arrumações – mas vale a pena. Porque a Festa do Avante! deste ano será, seguramente, a melhor de todas.

  • JCP
  • pcp
  • USA
  • USA