segunda-feira, 6 de abril de 2009


As dores do PS
Dias a fio, em jeito de confissão antecipada de uma derrota anunciada, como se pressentisse já onde mais lhe dói, PS e respectivo candidato insistiram na professoral argumentação em torno do que designam de desnacionalização do voto para as europeias. E, se na boca destes, a ideia seria de que em Junho se abriria um parêntesis para onde se varreria tudo o que hoje verdadeiramente pesa na vida dos portugueses, bem se pode dizer que pela boca acabará por morrer o peixe. Mesmo que à pressa venham agora desdizer o que até domingo haviam dito.

Percebe-se que aqueles que se apressaram a desvalorizar os resultados dos referendos na Irlanda ou em França sobre o Tratado Europeu com base em que o que aí foi julgado pelos eleitores foi, não o modelo europeu e o Tratado, mas sim as políticas internas desses mesmos países, vejam agora o prenúncio de uma derrota. Com a curiosa particularidade de, a confirmar-se, essa derrota constituir em si mesmo, pela boca dos próprios, seja à luz da velha ou da nova argumentação, uma clara condenação à política do Governo e às suas consequências.

Sobrará sempre a legitima suspeita de que a cambalhota do discurso se destine a atenuar o mistério sobre as razões que levavam quem, querendo sacudir qualquer relação entre os resultados de 7 de Junho e a sua acção no Governo, tem no terreno um uso despudorado de meios e recursos públicos destinados a comprar votos e a manter dependências de que a vertiginosa passagem de ministros, secretários de Estado e governadores civis carregados de promessas e alguns cheques é testemunho.

De um modo ou de outro, só ganha actualidade e importância, fazendo mossa onde mais lhes doerá, insistir na relação entre o sentido do voto em 7 de Junho e o juízo concreto que os eleitores não deixarão de fazer em função da situação, problemas e inquietações que resultam da política do Governo, da insistência de que por esta mesma razão 7 de Junho é uma oportunidade, não apenas para nesse momento penalizar esta política, mas sobretudo para criar condições para essa mesma condenação ser confirmada nas legislativas. Ou seja, mais do que um «sinal» difuso, os resultados de 7 de Junho têm de ser uma primeira expressão de uma clara opção de ruptura com a política de direita que o país reclama.
  • Jorge Cordeiro


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