quinta-feira, 16 de abril de 2009

Milhões

Arriscamo-nos a desagradar ao doutor Vítor Constâncio se dissermos que por aí andam salários obscenamente luxuosos. O governador do Banco de Portugal, confrontado certa vez com o chorudo vencimento que recebe por um trabalho aliás pouco qualificado e cujos resultados provam que não sabia o que deveria saber (ou, sabendo-o, faz vista grossa), acusou de demagógicas as «insinuações» de que arrecadava para si muito dinheiro em comparação com os seus compatriotas. Ao longo dos últimos tempos – a crise tem a sua parte na responsabilidade de tais revelações – ficou o público a saber, sem que fossem os comunistas a divulgá-lo mais amplamente, que abundam, neste País de milhões de pobres e de centenas de milhares com fome, que há gente por aí que se farta de ganhar.

Anteontem, o accionista do BPN, Joaquim Coimbra, ouvido na Comissão de Inquérito da Assembleia da República, revelou que Miguel Cadilhe, presidente do mesmo banco, aceitara entrar para o grupo ganhar um salário de um milhão de euros por ano. Os restantes administradores, coitados, só auferiam 700 mil euros... Isto durante um período de foi de final de Junho até à data da «nacionalização»...

Escrevemos «nacionalização» entre aspas porque, de facto, do que se tratou, foi de, mais uma vez, o Estado arcar com os prejuízos originados pelas manigâncias de banqueiros destes. Mas haverá outra sorte de banqueiros? Mas será o capitalismo um sistema onde impera a honestidade, manchada embora por algumas nódoas?
O certo é que o capitalismo é o menos democrático de todos os sistemas, onde são escolhidos e eleitos, em função do dinheiro possuído por accionistas, os que mandam na economia e... nos governos.

A simbiose entre o capital e o poder é tal que é vê-los saltar da banca para os governos, e dos governos para os conselhos de administração. Por facilidade, citemos os exemplos de Jorge Coelho, que salta da ponte de Entre-os-Rios para a Motaengil. Ou de Ferreira do Amaral, que de ministro das Obras Públicas, assina contrato com a Lusoponte e acaba administrador da mesma. Os exemplos são muitos. Como no tempo do fascismo.
  • Leandro Martins





1 comentário:

Fernando Samuel disse...

Mais um excelente texto do Leandro.

Um abraço.

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