domingo, 15 de março de 2009


Como o azeite

No programa Negócios da Semana de 6.ª feira passada, a SIC-Notícias entrevistou Alexandre Soares Santos, presidente do Conselho de Administração do grupo Jerónimo Martins. O motivo imediato foi a abertura do milésimo supermercado Biedronka, na Polónia, naquele que é considerado um dos maiores investimentos de capital português no estrangeiro. Por cá, a Jerónimo Martins é conhecida por ser proprietária das cadeias Pingo Doce, Feira Nova e Recheio, além de significativas participações noutros grupos e investimentos. Além de, claro, ter voltado a bater recordes nos lucros de 2008.

Em pouco mais de 45 minutos de entrevista, Soares Santos pronuncia-se sobre tudo – do Estado à agricultura, defendendo o «direito ao trabalho» em vez do «direito ao emprego», entre outras pérolas.

Mas é sobre «a política» que Soares Santos mais se solta e brilha: espera que das próximas eleições legislativas saia uma maioria absoluta «seja de quem for. Só espero que não seja da esquerda. A partir do PS, perfeitamente.» Diz-se incomodado com a «esquerda retrógada», que quer impor por cá os «regimes que caíram no Leste»: «ainda no outro dia ouvi um político a falar do capital como se fossem uns malandros que tudo estragam e nada estão a fazer. Esquecem-se que 25 de Abril houve um, não dois. A iniciativa privada não tem de aturar isto e, se assim for, passem muito bem que nós temos para onde ir». E acrescenta que o que faz falta é «criar na iniciativa privada a confiança que foi perdida com o 25 de Abril» e reconquistada com o primeiro governo de Mário Soares.

Diz o nosso povo que a verdade é como o azeite, por vir sempre ao de cima. Mas tanta sinceridade até espanta e dá vontade de gravar a entrevista para explicar melhor aos incrédulos três coisinhas muito importantes: até que ponto se identificam os objectivos do PS com os dos grandes grupos económicos; o quanto foram profundas as conquistas de Abril para, 35 anos depois, esta gente ainda andar a recuperar; e que é do PCP que têm medo – da sua firme opção de classe, do seu enraizamento, da luta de massas, da determinação em romper com a política de direita.

  • Margarida Botelho

1 comentário:

Fernando Samuel disse...

Excelente texto!


um abraço.

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