quinta-feira, 28 de agosto de 2008


Antes que seja tarde


Em meados deste mês, o semanário católico italiano, Famiglia Cristiana, alertava nas suas páginas, a propósito das medidas racistas do governo contra imigrantes clandestinos e ciganos, para o espectro do ressurgimento do fascismo que paira sobre a Itália.


Uma semana depois, a 21 de Agosto, a agência Lusa, citando o jornal La Repubblica, informava que um tribunal siciliano retirara a uma mulher a custódia do seu filho de 16 anos porque o menor pertencia a um «grupo extremista».


Entre as «provas do crime» entregues pelo pai do jovem aos serviços sociais da Catânia e apresentadas em tribunal juntamente com um relatório onde se afirma que o adolescente frequentava «ambientes» propícios ao «uso de substâncias alcoólicas e psicotrópicas», contam-se o cartão da Juventude da Refundação Comunista e uma bandeira com a imagem de «Che» Guevara.


O insinuado consumo de drogas não se comprovou, mas as «provas materiais do crime» convenceram o Tribunal da Catânia, que para além de decidir entregar a custódia do menor ao pai, deliberou ainda que a mãe do adolescente lhe terá de pagar 200 euros mensais de pensão de alimentos e abandonar a casa onde residia.


Para se ficar com o quadro completo desta perturbante decisão falta dizer que o Partido da Refundação Comunista fez parte da coligação que apoiou o governo de Romano Prodi até à sua queda, em Janeiro último.


O caso levou já o secretário-geral da Refundação, Paolo Ferrero, a pedir a intervenção do presidente italiano, Giorgio Napolitano, considerando «inconstitucional e inaceitável num Estado de Direito» que um tribunal baseie a sua sentença no facto de um adolescente pertencer a um partido democrático. Desconhece-se quais serão os desenvolvimentos do processo, mas quando numa «democracia» europeia se considera crime aderir a um partido de esquerda e admirar «Che» Guevara, é caso para dizer que o espectro do fascismo está não só a ganhar forma como cada vez mais força, e não apenas em Itália. Da República Checa a Portugal, da Alemanha à França, eles andam aí. Como diria o sempre actual Brecht, quando baterem à nossa porta será demasiado tarde.



  • Anabela Fino

O ilusionista

A notícia veio no Sol e até foi citada pelo Diário de Notícias: há pelo menos 100 mil «falsos» empregados nas profusas contabilidades governamentais sobre o assunto, o que transforma a actual e propalada taxa oficial de 7% de desemprego nuns deprimentes 9%...A explicação é simples e está escarrapachada na notícia: «100 mil é o universo de pessoas em formação profissional remunerada e que, por isso, não são consideradas desempregadas à luz dos critérios usados pelo Instituto Nacional de Estatística».



Não são consideradas desempregadas, mas em breve o serão: é só acabar a «formação profissional» remunerada (que geralmente dura seis meses não renováveis – era o que faltava! de «formações» a metro passar-se a «formações» de empreitada), e então sim, ficarão irrevogavelmente no desemprego e sem qualquer remuneração, o que – valha a verdade - não preocupará por aí além a propaganda governamental, porque tais desempregados já irão engrossar novas estatísticas e outras «taxas», né?



O que também se sabe – até porque já se sabia, por esse País sindical fora - é que não só a taxa de desemprego real anda mais pelos 9% do que pelos 7% que o Governo quer impingir, como a fasquia do meio milhão de desempregados efectivos já foi claramente atingida no nosso País, restando apenas averiguar em quanto já foi ultrapassada...


Tudo isto, sublinhe-se, sem entrar em linha de conta com os recibos verdes que proliferam desde a mais variada administração pública à desvairadíssima actividade privada, camuflando salários de miséria, animando explorações desenfreadas, impondo acumulações de trabalhos e empregos para se sobreviver e, finalmente, salvando as estatísticas com que o Governo vai forjando as suas «vitórias contra o desemprego». Tudo isto sem descontar, sequer, os «empregados instantâneos» com que o Governo encharca as suas estatísticas, contabilizando, às carradas, trabalhadores sazonais como empregados efectivos, indiferente ao facto de todos eles, igualmente às carradas, estarem a trabalhar à época, à semana, à hora ou até à peça, vivendo em total insegurança, nenhuma garantia e completa ausência de futuro – o que define e caracteriza a vida de um desempregado, como o Governo está farto de saber.



Foi com este pano de fundo que o primeiro-ministro José Sócrates teve, há dias, o desplante de reivindicar para o seu Governo a «criação de 130 mil novos postos de trabalho» nestes três anos de governação, chegando ao extremo de citar os seus 150 mil empregos prometidos na campanha eleitoral que lhe deu o poder para considerar que «já não falta tudo» para «concretizar a promessa»!


É evidente que José Sócrates não deu a mais leve indicação sobre o paradeiro dos tais «130 mil postos de trabalho» que o seu Governo criou assim de repente em três anos, tal como, na semana passada – como aqui mesmo nesta coluna se assinalou -, não explicou que os tais 1200 novos postos de trabalho que foi anunciar para Santo Tirso, num novo «call center»» que a PT só abrirá daqui a um ano, afinal não são «novos» e apenas correspondem ao mesmo número de trabalhadores que a PT «dispensou» nos últimos dois anos.


Em rigor, já não falta é nada para que o País veja, a entrar-lhe pelos olhos adentro, que o actual primeiro-ministro não passa de um ilusionista, mas dos maus – dos que acabam o espectáculo com todos os truques à mostra.



  • Henrique Custódio

A NOSSA FESTA É NOSSA!


A ofensiva contra a FESTA DO AVANTE! já vai em 32 anos - tantos quantos tem a política de direita...Nessa ofensiva, os inimigos da Festa - que são os inimigos da Revolução de Abril - têm utilizado os meios e métodos correspondentes, em cada momento, às práticas contra-revolucionárias.

Em 1976 - quando o terrorismo bombista era uma das suas principais armas - eles colocaram uma bomba nas instalações da FIL, dias antes da abertura da Festa, tentando, assim, impedir a sua realização.Não o conseguiram: apesar dos estragos provocados pela bomba, a Festa abriu no dia marcado á hora marcada - graças a múltiplos esforços suplementares dos militantes comunistas seus construtores.


Depois, porque a FIL era pequena, a Festa passou para o Jamor - terreno cheio de pedras, de entulho, de mato, que os militantes comunistas desbravaram e limparam construindo ali uma Festa ainda maior e mais bonita do que a do ano anterior.Dois anos depois, o Governo da altura (era do PS mas podia ser do PSD) decidiu que o terreno do Jamor era necessário para, urgentemente, ali ser iniciada uma obra que já não me lembro qual era e que, até hoje, não foi construída...

A Festa deslocou-se para o Alto da Ajuda - terreno cheio de pedras, de entulho, de mato, que os militantes comunistas desbravaram e limparam e transformaram num aprazível espaço.Anos depois, o Governo da altura (era do PSD mas podia ser do PS) decidiu que aquele terreno era necessário, com carácter de urgência, para ali construir um polo universitário (que viria a ser construído anos depois).E a Festa ficou outra vez sem terreno...

Em extremo recurso, procurou-se e encontrou-se a Quinta do Infantado, em Loures - terreno cheio de pedras, de entulho, de mato, que os militantes comunistas desbravaram e limparam garantindo ali a construção da Festa.Foi então que o Partido decidiu comprar um terreno que assegurasse a realização tranquila de Festa. E comprou-se a Quinta da Atalaia - na sequência de uma grande campanha nacional de fundos, que o colectivo partidário comunista levou por diante com êxito e para a qual contribuiram milhares de amigos e simpatizantes do Partido.A ATALAIA É NOSSA!: foi este o grito de milhares e milhares de camaradas, no dia em que teve início a primeira Festa ali realizada.

Os objectivos da política de direita em relação à Festa tinham sido uma vez mais vencidos e, aparentemente, os problemas estavam resolvidos. Aparentemente, apenas.Na verdade, o ódio deles à Festa do Avante!, é incomensurável: eles não suportam aquela que é a maior realização política, cultural, artística, convivial ocorrida no nosso País; muito menos suportam que a Festa seja construída e realizada na base, essencialmente, do trabalho voluntário, da militância revolucionária - e não dormem a pensar que a Quinta da Atalaia é, durante três dias, o espaço com maior índice de fraternidade por metro quadrado no território nacional - um pedacinho do futuro de liberdade, de justiça, de paz, de solidariedade, de fraternidade, de amizade e camaradagem, pelo qual os comunistas lutam.

Daí o seu ódio de classe à Festa; daí o seu desejo de acabarem definitivamente com ela: daí o recurso aos métodos que lhes são característicos...Foi assim que os partidos da política de direita - PS, PSD e CDS/PP - aprovaram na Assembleia da República duas leis antidemocráticas, anticomunistas e exalando nauseabundos cheiros fascizantes: as leis dos partidos e da seu financiamento - leis que, recorde-se, o então Presidente da República, Jorge Sampaio, considerou «muito positivas»...

A partir daí, como por eles estava determinado, a lei do financiamento dos partidos passou a ser a principal arma utilizada contra a Festa do Avante! - para além, é claro, das habituais provocações sobre a presença das FARC, a venda de t-shirts com o Stáline, e tantas outras em que estes «democratas» são especialistas eméritos.E aí estão eles, outra vez, ao ataque, empunhando a lei e, de dedo no gatilho, «argumentando»...

Na conferência de imprensa da direcção da Festa, ontem realizada e que alguns jornais de hoje relatam, falou-se do principal desses «argumentos» que pode levar, dizem eles, à «inconstitucionalidade da Festa»...Dizem os responsáveis pelo cumprimento da lei que a posição assumida pelo PCP é inaceitável.E qual é essa posição inaceitável?Simples:o PCP «sustenta que o lucro da Festa é a diferença entre as receitas e as despesas».Ora, para os tais «responsáveis», «o lucro da Festa é a soma de todas as receitas»...Isto é: segundo os tais «responsáveis», os lucros nada têm a ver com as despesas e vice-versa: se, por exemplo, um almoço é vendido por dez euros, o lucro dessa venda para a organização são dez euros.

E pronto...Não julguem que estou a caricaturar. É isso mesmo que eles dizem - e é através desta boçalidade que desferem o actual ataque à Festa.Quando a desfaçatez, a desvergonha e o descaro atingem tais níveis, é caso para dizermos que nada do que esta gente diga ou faça surpreende...E, já agora, é caso para lhes dizermos, também, que a NOSSA FESTA É NOSSA - e que assim continuará a ser no futuro.

Publicado no blog "cravo de Abril"
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