quinta-feira, 15 de julho de 2010

Ao trabalho, até à Festa



Para muitos comunistas (e não só) que ano após ano participam na construção da Festa do Avante!, as jornadas de trabalho são a verdadeira festa. Aí, apesar do esforço despendido na execução das mais variadas tarefas – ou talvez mesmo por causa dele – sobressai como em poucos momentos o que de mais belo tem o ideal e o projecto comunistas: o trabalho colectivo, a generosidade, a abnegação, a acção comum por um mesmo objectivo.


Aos fins-de-semana (e sempre que for possível), toda a ajuda é bem-vinda na Quinta da Atalaia. O trabalho é mais que muito – da montagem de estruturas às pinturas, dos acabamentos às arrumações – mas vale a pena. Porque a Festa do Avante! deste ano será, seguramente, a melhor de todas.

O jogo
 
O PS e o PSD – seja através de Sócrates e Passos Coelho, seja por via das respectivas figuras de proa de serviço – inventaram mais um jogo para entreter as massas, agora que se acabou o mundial e as novas sobre o filho de Ronaldo já tresandam a leite azedo. Trata-se do vamos-lá-a-descobrir-quem-é-que-é-mais-neoliberal-ou-defensor-do-estado-social-serás-tu-ou-serei-eu-quem-perder-morreu. Apesar do nome tão pouco apelativo quanto pretensioso (e por isso mesmo não oficial), a verdade é que a iniciativa tem pretensões à internacionalização, aspirando a tornar-se assim numa espécie de jogos sem fronteira da política da direita portuguesa. A primeira fase teve como arena o espaço ibérico, com Sócrates e seus muchachos acantonados em Lisboa num cenário de jornadas parlamentares a que um criativo cheio de humor juntou o slogan «O socialismo democrático e a crise económica e social». Já Passos Coelho – que tirou o jóker no sorteio de posições – viajou até Madrid e tomou de assalto a sede dos populares do país vizinho, com a ingente missão de colar os cacos feitos nas sessões preliminares por Ferreira Leite e mandar mensagens cifradas (mas pouco) à Telefónica, a Bruxelas e ao grupo de Bilderberg (o tal das reuniões secretas, onde só se vai por convite e de que se diz ser o filtro dos futuros dirigentes nacionais e internacionais).
 
Na segunda linha da contenda perfilaram-se personalidades como Francisco Assis e Paula Teixeira da Cruz, Mário Soares e Miguel Macedo, só para citar alguns nomes, tendo cada qual como missão desancar no adversário e somar pontos em juras de fidelidade ao interesse nacional e ao bem-estar do povo, na apresentação de medidas de combate à crise e na garantia de que os sacrifícios serão distribuídos irmamente (no melhor estilo do «vamos rachar no meio: um pra eu, um pra tu, um pra eu... um pra eu, um pra tu, um pra eu... aqui está o meu e aqui está o teu»).
 
 Como seria de esperar, dado o calibre dos jogadores, a coisa terminou num empate, pelo que se aguarda com expectativa as próximas jornadas.
 
 Lamentavelmente – e logo agora que tanto se fala de interactividade – o público não foi chamado a participar, mas apenas a assistir. Valha-nos que alguns indígenas mais expeditos resolveram tomar a iniciativa e contribuir para o jogo lançando grãos de areia na engrenagem a ver no que dá. Uns vieram para a rua subverter as regras, berrando a plenos pulmões que o jogo está viciado; outros deram em catar o bicho à letra das intervenções das equipas para lhes revelar os podres. Os jogadores não gostaram, evidentemente, que o objectivo é distrairem e não serem distraídos. Vai daí, agendaram os próximos lances para Agosto, quando a arraia miúda estiver a banhos na Caparica, e já contrataram dois tinos de rãs, um treinador espanhol, uma bailarina russa, uma banda de rock, três clones do Marcelo e um arrastão em Algés para reescrever o guião e despistar os engraçadinhos. Consta que a Presidência da República vai emitir um comunicado explicando que coordenar jogos é muito difícil, mas não impossível, e que podemos estar descansado que não há qualquer risco de o jogo entre PS e PSD estar descoordenado.
  • Anabela Fino
 
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