quinta-feira, 29 de outubro de 2009



À espera do vídeo-clip


A mediatizada vacinação do director-geral da Saúde, Francisco George, contra a gripe A (H1N1) trouxe à memória uma outra cena fixada para a posteridade em que um membro do governo português à época deglutia alegremente um prato de mioleira, com o objectivo confesso de incentivar ao consumo da carne de vaca e desmentir as notícias – ditas alarmistas – sobre a doença das «vacas loucas».

A semelhança entre os dois episódios, salvaguardadas as devidas distâncias já que nem Francisco George governa nem a gripe A muge, leva-nos a perguntar por que motivo parece haver entre os investidos em cargos oficiais a convicção de que o seu exemplo é razão, se não necessária pelo menos suficiente, para credibilizar o que dizem e fazem, pelo que se dispensam de responder às legítimas dúvidas dos seus concidadãos.

Veja-se o caso da Alemanha, onde a campanha de vacinação está a encontrar fortes resistências, sobretudo depois de se saber que o governo – que entretanto admitiu o facto – tinha encomendado uma vacina diferente, a Cevalpan, com menos aditivos, para altos quadros da administração pública e militares em missão no estrangeiro. O que fez o Ministério da Saúde? Veio a público «garantir» que a vacina para a populaça – o Pandemrix – era tão boa como a outra, com a vantagem de poder ser produzida mais depressa. Mas então, se assim é, perguntam os ignorantes, para quê a Cevalpan? Isso já seria querer saber muito. Os alemães que fiquem com a «garantia» e ponto final.

Por cá, depois do Tamiflu, não se ouve falar em marcas. Mas o defeito deve ser nacional; também nunca mais se ouviu falar da Gripe das Aves – olha aí o consumo dos frangos! – e ninguém se surpreende. Para já, crê-se que basta mostrar Francisco George – um «imprescindível» do Ministério da Saúde – a ser picado para dar como «esclarecidas» todas as dúvidas sobre a vacinação. É possível que haja ainda um «plano B» em caso de resistência – tipo um vídeo-clip de Francisco George a cantar me and you e uma vacina tamiflu – mas por enquanto ainda é cedo para avaliar.
  • Anabela Fino




O Sr. Governador


O Sr. Governador é uma figura marcante destes mais de 30 anos de política de direita. Foi deputado, secretário de Estado, ministro das Finanças, administrador da EDP e do Banco Português de Investimento, passou também pelo Banco de Portugal em meados dos anos 80, e fixou-se como Governador deste banco desde o ano 2000 com o apoio de PS e PSD. Economista, homem de números e de contas, mas também de elevadíssimas responsabilidades partidárias, entre as quais as de Secretário-geral do PS, Vítor Constâncio, é por assim dizer um... Sr. Governador.

Homem de silêncios cúmplices com os milhares de milhões de lucros da banca nos últimos anos, «supervisor» embaraçado e comprometido quando se tratou de explicar a vista grossa e conveniente negligência do Banco de Portugal face à persistente actividade criminosa verificada no BPN, no BPP, já para não falar do BCP, o Sr. Governador é o primeiro a abrir a boca quando se trata de justificar novos sacrifícios para os trabalhadores e o povo português.

Para além das contínuas referências ao longo dos anos sobre a «rigidez da legislação laboral», qual obstáculo ao desenvolvimento do País, ou o «excessivo endividamento das famílias» fruto da irresponsabilidade de quem quer ter um tecto para viver e tenta pagar uma casa ao banco durante 50 anos, a obsessão do Sr. Governador chama-se: CONTENÇÃO SALARIAL. Isso mesmo foi dito – ou contenção salarial ou desemprego – pelo Sr. Governador, na passada semana, perante uma plateia de economistas que, atentamente, ouviram as palavras sábias, tecnicamente validadas pelo cargo que ocupa e absolutamente desprendidas de outros objectivos que não os do interesse nacional sobre o perigo dos aumentos salariais. Palavras que rapidamente foram amplificadas pelos principais órgãos de comunicação social e que se juntaram às do Presidente da CIP, que vociferou contra o acordo estabelecido para o aumento do salário mínimo nacional para 500 euros até 2011.

É para isso que pagam ao Sr. Governador, para dar assertivos conselhos do alto da sua fulgurante inteligência e rasgadíssima visão. Palavras sábias, que facilitam a vida ao grande patronato e ao Governo PS – que age como se não tivesse perdido a maioria absoluta nas recentes eleições – para que, de braço dado, intensifiquem a sua política de injustiças e exploração. Palavras pagas a peso de ouro, ou não fosse o Sr. Governador homem para ao fim do mês levar para casa qualquer coisa como 20 000 euros de salário. E até aposto que ainda haverá quem ache pouco para tão grande serviço prestado à Nação.

  • Vasco Cardoso
  • JCP
  • pcp
  • USA
  • USA