quinta-feira, 7 de maio de 2009

Golpes Baixos


A campanha de provocações e calúnias que se desenvolveu contra o PCP na sequência dos incidentes do Martim Moniz deu largas ao mais primário anticomunismo, que é - invariavelmente como a História o demonstra - expressão concreta de intolerância, sectarismo, tentativa de divisão dos trabalhadores e ataque directo à democracia.

O regozijo pela possibilidade de «bater» no PCP foi evidente nas infindáveis horas de propagação de mentiras em alguns órgãos de comunicação social, com destaque para a RTP, e nas tão provocatórias como ridículas palavras de Vital Moreira reivindicando a «sua Marinha Grande» ou afirmando que «As "brigadas Brejnev" (…) resolveram ontem fazer das suas»(1). José Sócrates também explorou o filão: «Foram os militantes do Partido Comunista que insultaram os dirigentes do PS». «uma vergonha para a democracia», concluía, dando corpo à verborreia de Vital Moreira do «desprezo [do PCP] pela democracia liberal»(2).

Já Miguel Portas, lesto na demarcação, optou por usar o termo «sectarismo» com que invariavelmente brinda as sua «profundas» análises ao PCP para classificar os incidentes, numa clara tentativa de identificação partidária do sucedido. Já Daniel Oliveira, tão destacado membro do Bloco de Esquerda como papagaio do PS, referia no seu Blogue: «este tipo de comportamento (…) corresponde a um ambiente cada vez mais crispado com tudo o que não seja PCP (…). E ele é alimentado por esta direcção do partido, a mais sectária que o PCP teve desde o 25 de Abril(3).Ora, parece agora, que quem chamou traidor a V.M. não foi propriamente um «arruaceiro e sectário comuna».

A frase de D.O. «“Não é por acaso que o insulto que Vital Moreira mais ouviu foi o de “traidor”(4)» adquire neste contexto um especial significado. Esperamos sinceramente que o perceba. Será um primeiro passo na aprendizagem do que é unidade dos trabalhadores e do quanto injustiçados se sentem. E podem D.O., e outros, sossegar. O PCP não usará contra eles os golpes baixos e a «vozearia» de que foi alvo. Apenas continuaremos a exigir o justo e devido pedido de desculpas ao PCP. Caso contrário será «uma vergonha para a democracia» e um profundo sinal de «sectarismo».
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(1)http://causa-nossa.blogspot.com/2009/05/diario-de-candidatura-25.html(2) http://causa-nossa.blogspot.com/2009/04/diario-de-candidatura-9.html(3) http://arrastao.org/sem-categoria/o-sectarismo-do-pcp-prejudica-os-trabalhadores/(4) Idem
  • Ângelo Alves

(Des)memória

«Desde 1974, dias depois da Revolução dos Cravos, que o Primeiro de Maio se tornou a festa da fraternidade e da dignificação dos trabalhadores, aberta a todos os que nela queiram participar.» As palavras de Mário Soares, no artigo publicado esta terça-feira, 5 de Maio, no DN, estão longe de fazer jus ao lema que preside ao espaço, a saber, o tempo e a memória. Das duas uma, ou a memória de Soares está (outra vez) muito abalada ou os tempos não estão (se é que alguma vez o estiveram...) para lembrar a verdade dos factos. O motivo da dúvida – meramente metódica, confesso – reside num «pormenor» incontornável, cujo está intimamente ligado aos degradantes incidentes que depois viriam a ocorrer na manifestação do já longínquo 1.º de Maio de 1975.

Nesse ano, Mário Soares recusou-se a participar na «festa da fraternidade», como hoje lhe chama, alegadamente por discordar que, além dos dirigentes sindicais, nela discursasse Vasco Gonçalves, então primeiro-ministro do Governo que ele próprio integrava. A coisa podia ter ficado por aí, mas o que se passou foi completamente diferente. Cedemos a palavra a Soares para que nos conte como foi: «Estragámos a Festa. Entrámos no estádio de roldão, em puro confronto físico, [...] abrindo caminho ao empurrão, ao soco e aos encontrões. [...] Quando lá chegámos [à tribuna] fomos impedidos de entrar por elementos da Intersindical [...]. Impossibilitados de entrar e de usar da palavra» (entrevista concedida em 1995 a Maria João Avillez, depois editada em livro Soares. Ditadura e Revolução, págs 430-431).

A versão dos factos dada em 1975 não foi esta, mas algo muito parecido com o que agora Soares escreveu no DN: «Tentaram, então, evitar a entrada no Estádio Primeiro de Maio aos dirigentes e aos militantes socialistas e impediram que Salgado Zenha e eu próprio, ambos membros do Governo de Vasco Gonçalves, depois de atravessarmos o campo entre encontrões e injúrias, tivéssemos acesso à tribuna dos discursos...»

A discrepância entre as duas versões – uma confessando a provocação e outra assumindo o papel de vítima – é por demais evidente e dispensa comentários. Mas é certamente sintomático que Mário Soares volte ao assunto em 2009 para dizer que «não foi a primeira vez» que a «intolerância» se fez sentir no 1.º de Maio. Não menos sintomático é ainda o facto de Soares, tendo despido a camisola do «puro confronto físico» de 75 e envergado o fato da «tolerância» dos novos tempos, não dedicar uma linha da sua escrita aos que acusam o PCP de instigar «à violência e ao ódio» por não abdicar da justa crítica, condenação e repúdio das políticas de direita impostas (também) pelos que se dizem socialistas.

Já agora, para quem tem memória curta, vale a pena lembrar que o 1.º de Maio é muito mais do que a «festa da fraternidade». É, sobretudo, a festa que celebra a luta de todos os dias e de todos os trabalhadores contra a exploração, pela justiça social, pelo progresso, pela paz. Uma festa como esta celebra-se na rua, na secular convicção de que as ruas são do povo; por isso ninguém está livre de uma ou outra provocação, como às vezes se comprova.

  • Anabela Fino
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