quinta-feira, 30 de abril de 2009


UGT na rua

À semelhança do ano passado, a UGT vai aproveitar o 1.º de Maio para regressar à rua - mas almoçando primeiro, que não temos ali gente que lute de barriga vazia. Para tal, um convite aos associados recordava que «as inscrições para o almoço devem ser feitas, impreterivelmente, até às 17.00 do dia 24 de Abril, indicando o número de acompanhantes (sem limite), para que seja possível calcular o número de presenças e organizar tudo em conformidade».

«Em conformidade» significa contar os talheres a pôr na mesa do repasto e providenciar a confecção, problema que, naturalmente, só poderá decidir-se com uma ideia antecipada dos convivas a acolher. É essa, aliás, a única e grande incógnita da operação, agravada pela prodigalidade de convidar acompanhantes «sem limite» - isto, obviamente, não vá o diabo tecê-las e não haver sócios que cheguem para compor a mesa.

Seja como for, o que de certeza não será problema é o dinheiro a pagar pela festança, dado serem os três Sindicatos dos Bancários a pagar a conta. Se não é uma atitude «à bancário», será pelo menos um gesto à banqueiro, valha-lhes isso.

Acrescente-se que o almoço terá lugar nas instalações do Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas (SBSI), «onde aos sócios do SBSI se juntará cerca de um milhar de colegas dos Sindicatos do Norte e do Centro, e ainda dos Sindicatos dos Seguros», posto o que marcharão a caminho dos Restauradores, ajudando simultaneamente a digestão e a luta contra a crise.

Supomos que, nestas contas, os famosos «acompanhantes» valerão tanto como os sócios, pelo menos a fazer número, que é o que importa. E agora digam lá que a UGT não é mesmo um brinquinho, nestes banhos democráticos.

Com tudo isto, a supracitada proclama que «Vamos encher os Restauradores!», onde «a Central Sindical e os Sindicatos nela filiados vão pugnar por medidas de combate à crise e reivindicar a manutenção do emprego, o reforço da negociação colectiva e o fim dos off-shores».

Já é alguma coisa, apesar de as «medidas de combate» por que a UGT diz «pugnar» não terem, como de costume, qualquer medida que se veja.

Seja como for, é curioso este «desfilar na rua» da UGT durante as comemorações do 1.º de Maio, quando já institucionalizara na data, com décadas de prática contínua, umas festividades saracoteadas por «estrelas» pimba contratadas a peso de ouro e animando uma espécie de picnicão ali para os lados da Torre de Belém onde, só por desvairado acaso, as reivindicações laborais ou as lutas sindicais obtinham alguma referência.

Parece que, de repente, a UGT descobriu nas comemorações do 1.º de Maio um tempo de luta que se esforçava por denegrir nos gigantescos desfiles da CGTP-IN, aos quais há décadas contrapunha os tais bailaricos pimba tocados a petisco a que chamava «a festa dos trabalhadores».

Agora já paga almoços aos milhares, para arrebanhar um desfile que pareça uma manifestação.

Manifestamente, neste tempo de crise a UGT quer mostrar-se na rua a lutar pelos trabalhadores.Deve ser para entrar mais facilmente no bolso do patronato. É que com a crise que aí vai, já não será tão simples fazê-lo apenas no recato dos gabinetes.
  • Henrique Custódio



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