sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Já não há pachorra!


António José Seguro, secretário-geral do PS, prossegue a estratégia de tentar fazer crer que nada tem a ver com a política que está a ser seguida no País e que é mesmo o campeão das oposições ao Governo.

Com esse objectivo, por estes dias, Seguro afivelou o seu ar mais zangado para dizer que nem o Governo, nem a troika têm legitimidade democrática para reduzir os salários dos trabalhadores.

Num assomo de rebeldia chegou mesmo a perguntar se os senhores da troika falavam em nome pessoal ou em nome das instituições que representam.

Seguro, de nome e de si, ergue a voz para tentar dizer presente, garantindo que «o PS estará contra esta estratégia de empobrecimento e de redução de salários».

Perante tais e tamanhas certezas, fico com a ideia de que o que mais sobra são dúvidas por esclarecer.

Por exemplo, porquê ficar calado perante a proposta terrorista do Governo de aumentar em meia hora por dia o horário de trabalho? Não é uma forma de reduzir os salários, quer pela redução do valor/hora do trabalho, quer pelo não pagamento de horas extraordinárias?

E não foi o governo do PS que escancarou as portas à troika, negociando o pacto de agressão, que PSD e CDS apadrinharam e que o seu Governo está a aplicar em toda a sua dimensão, com adaptações aqui ou ali?

Não eram os sucessivos PEC, que Seguro, ele próprio, votou na Assembleia da República, a mesmíssima receita, em doses que vinham sendo sucessivamente maiores, até chegarem à dose cavalar agora preceituada pelo actual Governo?

Como é que um tal posicionamento oposicionista se compagina com a viabilização (por mais violenta que ela seja!) do Orçamento do Estado que é, em si, a própria estratégia de empobrecimento e de redução de salários ? Um OE onde estão, directamente, a redução dos salários dos funcionários públicos e o corte nas reformas e pensões, e todas as outras malfeitorias de injustiça e exploração, que aqui, hoje, já não cabem.

Aliás, se dúvidas houvesse, o facto de Seguro fazer estas declarações num Congresso de dirigentes sindicais do seu partido, a quatro dias da greve geral, sem uma única vez se referir a ela, é bem revelador da atitude de comprometimento, de facto, com o rumo que vem sendo seguido!

Já não há pachorra para tanta abstenção!
  • João Frazão

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

O dia das surpresas


Já se esperava que a operação ideológica para procurar enfraquecer a adesão à greve geral de 24 de Novembro fosse brutal. Governo, PS, patrões, o habitual coro de comentadores e especialistas, reportagens estudadas ao milímetro, conjugam-se numa enorme operação de chantagem que procura limitar a liberdade de pensamento e de acção de todos e de cada trabalhador.

Na televisão e nos jornais sucedem-se os argumentos «científicos» para não se fazer a greve: custa dinheiro ao país, não resolve nada, só prejudica outros trabalhadores e utentes, a troika e os mercados não gostam, etc.

Nos locais de trabalho a pressão cresce: as ameaças – mais veladas nuns casos, mais escabrosas noutros –, as alterações de escalas e turnos para que dia 24 fiquem mais expostos os trabalhadores mais vulneráveis, até artigos nos jornais de gente a declarar que não faz greve. É o caso de 31 pessoas que assinam como «quadros da Metro do Porto, SA», que assinam um artigo de opinião no Público com o esclarecedor título «Metro do Porto: oito razões para não fazer greve». Não é aqui o espaço para desmontar o artigo, mas fica o registo de até onde pode chegar o lambe-botismo.

E no entanto, nas empresas e nos locais de trabalho, constrói-se uma enorme adesão à greve geral. Em plenários, comunicados, contactos individuais, conversas na linha, na pausa, no balneário, no caminho de casa, nos espaços de convívio, em casa, são milhões os trabalhadores que estão neste momento a decidir o que fazer a 24 de Novembro. Milhões que fazem contas ao dia de salário perdido, e nalguns casos ao prémio que a arbitrariedade patronal tentará tirar e que faz tanta falta, milhões que pensam no seu posto de trabalho e na chantagem de que são vítimas, milhões que se interrogam até onde será esta gente capaz de ir para impor mais exploração. Milhões que, contra todas as pressões, sentem na pele que já chega, que é preciso dar uma resposta de unidade ao brutal saque a que o País está sujeito, que é preciso mostrar que estamos dispostos a lutar pelo emprego, pelo salário, por horários dignos, por uma vida digna, por um país com futuro.
  • Margarida Botelho

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

«Referendo» na Grécia – chantagem e coacção


O anúncio pelo primeiro-ministro George Papandreou de um referendo ao novo «acordo» imposto na sequência das recentes cimeiras da UE suscitou uma onda de reacções na Grécia, na Europa e nos ditos «mercados». Aparentemente todos estão contra a decisão do governo de realizar o referendo. Os partidos gregos na «oposição» já se pronunciaram contra, os «mercados» estão em «baixa» por toda a Europa, e Alemanha e França reagiram à notícia com termos que vão desde o «consternado» de Sarkozy, ao «irritado» do principal parceiro de coligação de Merkel.

Alguns destes «nãos» são na verdade um grande «sim». A grande manobra, o grande plano posto em marcha pelo PASOK é o da chantagem e coacção do povo grego, tentando transferir para ele o ónus de um caminho e de uma política até agora imposta à força, não se apresentando nenhum caminho verdadeiramente alternativo. Ou seja este será um referendo tipo: «ou a submissão ou o caos».

Na Grécia os «nãos» da direita e da extrema-direita têm a ver não com a condenação da chantagem e da coacção mas sim com a preocupação de a discussão em torno do referendo (e não tanto o próprio referendo) poder alargar a base social de rejeição das medidas e compromissos que aquelas forças também apoiam, e estragar a sua estratégia de derrube do governo e de eleições antecipadas. Na Europa as declarações conhecidas do directório de potências, com o aparente «não» da Alemanha, da França e dos «mercados», acabam por ser um «sim» à estratégia de Papandreou, pois, numa demonstração clara de até onde estão dispostos a ir nas manobras de chantagem e ingerência externa, acenam já com o papão da expulsão da Grécia da União Europeia.

Cá pelo burgo, comentadores de política internacional «encartados» pelo sistema deram o mote e as suas palavras traduzem-se na frase: ou o povo grego se submete ou apanha. Só que o tiro pode-lhes sair, a todos, pela culatra. O povo grego pode nem querer apanhar, nem se submeter. A situação é tal, que face a mais do que uma previsível e esmagadora campanha internacional de chantagem ao povo grego, este pode de facto perceber que há um momento em que os de baixo já não querem e os de cima já não podem e que não será um referendo que resolverá a situação
  • Angelo Alves
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