quinta-feira, 30 de abril de 2009


UGT na rua

À semelhança do ano passado, a UGT vai aproveitar o 1.º de Maio para regressar à rua - mas almoçando primeiro, que não temos ali gente que lute de barriga vazia. Para tal, um convite aos associados recordava que «as inscrições para o almoço devem ser feitas, impreterivelmente, até às 17.00 do dia 24 de Abril, indicando o número de acompanhantes (sem limite), para que seja possível calcular o número de presenças e organizar tudo em conformidade».

«Em conformidade» significa contar os talheres a pôr na mesa do repasto e providenciar a confecção, problema que, naturalmente, só poderá decidir-se com uma ideia antecipada dos convivas a acolher. É essa, aliás, a única e grande incógnita da operação, agravada pela prodigalidade de convidar acompanhantes «sem limite» - isto, obviamente, não vá o diabo tecê-las e não haver sócios que cheguem para compor a mesa.

Seja como for, o que de certeza não será problema é o dinheiro a pagar pela festança, dado serem os três Sindicatos dos Bancários a pagar a conta. Se não é uma atitude «à bancário», será pelo menos um gesto à banqueiro, valha-lhes isso.

Acrescente-se que o almoço terá lugar nas instalações do Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas (SBSI), «onde aos sócios do SBSI se juntará cerca de um milhar de colegas dos Sindicatos do Norte e do Centro, e ainda dos Sindicatos dos Seguros», posto o que marcharão a caminho dos Restauradores, ajudando simultaneamente a digestão e a luta contra a crise.

Supomos que, nestas contas, os famosos «acompanhantes» valerão tanto como os sócios, pelo menos a fazer número, que é o que importa. E agora digam lá que a UGT não é mesmo um brinquinho, nestes banhos democráticos.

Com tudo isto, a supracitada proclama que «Vamos encher os Restauradores!», onde «a Central Sindical e os Sindicatos nela filiados vão pugnar por medidas de combate à crise e reivindicar a manutenção do emprego, o reforço da negociação colectiva e o fim dos off-shores».

Já é alguma coisa, apesar de as «medidas de combate» por que a UGT diz «pugnar» não terem, como de costume, qualquer medida que se veja.

Seja como for, é curioso este «desfilar na rua» da UGT durante as comemorações do 1.º de Maio, quando já institucionalizara na data, com décadas de prática contínua, umas festividades saracoteadas por «estrelas» pimba contratadas a peso de ouro e animando uma espécie de picnicão ali para os lados da Torre de Belém onde, só por desvairado acaso, as reivindicações laborais ou as lutas sindicais obtinham alguma referência.

Parece que, de repente, a UGT descobriu nas comemorações do 1.º de Maio um tempo de luta que se esforçava por denegrir nos gigantescos desfiles da CGTP-IN, aos quais há décadas contrapunha os tais bailaricos pimba tocados a petisco a que chamava «a festa dos trabalhadores».

Agora já paga almoços aos milhares, para arrebanhar um desfile que pareça uma manifestação.

Manifestamente, neste tempo de crise a UGT quer mostrar-se na rua a lutar pelos trabalhadores.Deve ser para entrar mais facilmente no bolso do patronato. É que com a crise que aí vai, já não será tão simples fazê-lo apenas no recato dos gabinetes.
  • Henrique Custódio



domingo, 26 de abril de 2009

Liberdades de classe




Agora que – com o BE a servir de lebre e a dar as deixas – a necessidade eleitoral leva o PS a mexer na questão (ou, muito provavelmente, a fingir que mexe), a legislação fiscal suscita novamente gritaria do lado da direita”. Filipe Diniz - 26.04.09


Agora que – com o BE a servir de lebre e a dar as deixas – a necessidade eleitoral leva o PS a mexer na questão (ou, muito provavelmente, a fingir que mexe), a legislação fiscal suscita novamente gritaria do lado da direita.
Gritaria que, afinal, não deveria passar de um pró-forma, porque os interesses em causa conhecem de ginjeira o PS.

Sabem, como nós sabemos e o camarada Honório Novo denunciou na AR, que o off-shore da Madeira tem sido intocável para o PS; que o PS tem chumbado sucessivas propostas do PCP no sentido da transparência e informação dos vencimentos individuais dos administradores das empresas cotadas e outras; que o PS tem rejeitado propostas do PCP no sentido do reforço do quadro sancionatório do crime económico; que o PS rejeitou que as burlas e fraudes bancárias (que os casos do BCP e do BPN colocaram mais do que nunca na ordem do dia) passassem a ser punidas com prisão tal como o PCP propõe; que o PS tem rejeitado ao longo dos anos propostas do PCP no sentido da derrogação do sigilo bancário, no sentido da alteração da Lei Geral Tributária permitindo o acesso condicionado da Administração Fiscal às contas bancárias.

O certo é que, pelo sim pelo não, os opinadores de direita lançam o seu fogo de barragem.

Em nome de quê? Pois, como não podia deixar de ser, em nome da «liberdade». Um deles, por exemplo, fala da ameaça da destruição pelo Estado das «mais básicas liberdades».

E o que são essas básicas liberdades? É a liberdade de organização dos trabalhadores nas empresas, hoje quase inteiramente reprimida e negada? É a liberdade de exercer direitos fundamentais, como o direito à greve? É a liberdade sindical? É a liberdade de opinião, que os grandes meios de comunicação social limitam à que agrada aos seus donos, e que Sócrates odeia e persegue judicialmente? É a liberdade de reunião, de associação, de difusão pública das próprias ideias, cada vez mais coarctada no que diz respeito aos trabalhadores e às forças democráticas?

As liberdades que fazem correr estes senhores são outras: a liberdade de enriquecer seja por que meio for, a liberdade de se apropriar da riqueza socialmente criada, a liberdade das classes dominantes exercerem o seu domínio com absoluta impunidade. Liberdades de classe, que são opressão e exploração das classes (ainda) dominadas.

Este texto foi publicado no Avante nº 1.847 de 23 de Abril de 2009

sábado, 25 de abril de 2009

quinta-feira, 23 de abril de 2009

ESTAMOS EM ABRIL
LEMBREI-ME DO FERNANDO TORDO



Justiça, para que te quero?


Antes de chegar ao fim do seu mandato o Governo vai anunciar mais uns quantos casos de «sucesso» entre os quais, não duvidamos, se incluirá a redução drástica dos processos pendentes em tribunais. Ouviremos então os discursos do costume sobre a genialidade das medidas tomadas, cujas, está bom de ver, são sempre tomadas em nome do povo e as melhores possíveis para o povo.

Desta vez, e ao contrário do que se poderia pensar, temos de reconhecer que o Governo vai ter razão. Os tribunais correm mesmo o risco de ficar às moscas, que é como quem diz à míngua de litígios, não porque os mesmos desapareçam por um passo de mágica da sociedade portuguesa mas porque quem tiver a veleidade de querer recorrer à Justiça vai ter que pensar duas vezes, mais a mais em tempo de vacas magras. Ou três, ou quatro, ou um ror de vezes, fazendo contas que serão sempre de sumir. E por quê? Porque o Governo Sócrates, sempre preocupado com o bem-estar do povo, decidiu que isso de Justiça, pese embora o que diz a Constituição, é como a Saúde, ou a Educação, ou Habitação... Ou seja, quer a quer, que a pague. Nem mais.

A menos que se tenha a «sorte» de auferir menos do que três salários mínimos nacionais, a partir desta segunda-feira os portugueses que queiram rercorrer à Justiça vão ter de pagar à cabeça as custas judiciais, não obstante o ministro Alberto Costa garantir que as «melhorias introduzidas» no novo regulamento «vão agilizar o processo e diminuir, no seu todo, as custas em cerca de 10 por cento». Até pode ser verdade, mas como é que se chega ao «todo» do processo se não houver verba para lhe dar início? Fácil, fácil. Deixem os tribunais em paz, vão para a conciliação, entendam-se, não atrapalhem, não chateiem, tenham paciência...

Num tempo em que há cada vez mais gente a acreditar que o crime compensa, estas novas regras são ouro sobre azul: o ofendido paga «à cabeça»; o arguido, se requerer a instrução do processo, nada paga «à cabeça»; mais, se o arguido for pronunciado, no final da instrução não poderá ser condenado em mais de três Unidades de Conta (cada uma corresponde agora a 102 euros), enquanto o ofendido, se perder, pode ser condenado até um máximo de dez Unidades de Conta.

Moral da história: não se ofendam, façam contas. E se o caso for grave, resta sempre o velho ditado «a vingança serve-se fria».
  • Anabela Fino


quarta-feira, 22 de abril de 2009

Sr.iiiiingenheiro!

Aumento da evasão e da fraude fiscal provoca descalabro nas receitas

Eugénio Rosa

RESUMO DESTE ESTUDO


A Direcção Geral do Orçamento do Ministério das Finanças acabou de publicar a informação relativa à execução do Orçamento de Estado de Março de 2009. E os dados publicados confirmam o descalabro que se está a verificar nas receitas fiscais, que não tem apenas como causa a contracção da economia. No 1º Trimestre de 2009, só as receitas do IRS, e do Imposto Único de Circulação é que cresceram, embora estas últimas em apenas +13,8 milhões de euros (as do IRS aumentaram em 62,4 milhões de euros). As receitas de todos os outros impostos diminuíram relativamente ao arrecadado em idêntico período de 2008, nomeadamente as do IVA que tiverem uma quebra de -20,3% (menos 736,6 milhões do que o arrecadado em 2008). Como consequência, no 1º Trim. de 2009 o Estado arrecadou menos 991,9 milhões € de receita fiscal do que no 1º Trim. 2009.


domingo, 19 de abril de 2009

ESTAMOS EM ABRIL
LEMBREI-ME DO JOSÉ MÁRIO BRANCO


Tentativa de atentado contra Evo Morales Nas vésperas da Cimeira das Américas

Na madrugada da passada sexta-feira, elementos de força de elite da polícia boliviana abateram a tiro três terroristas, no 4º andar do Hotel Las Américas, situado no centro da cidade de Santa Cruz, depois de cerca de 20 minutos de tiroteio e do lançamento de granadas contra a polícia.

Na operação foram mortos os terroristas Mayarosi Ariad, romeno, Duayer Michael Martin, irlandês e o boliviano Eduardo Rózsa Flores. Saíram ilesos do confronto, tendo sido presos pela polícia, Mário Fardig Astorga, um militar na reserva correspondente da BBC e do jornal catalão La Vanguardia, grande amigo de Branco Marinkovic principal dirigente do movimento separatista Comité Pró Santa Cruz, e um cidadão húngaro Iedad Toazo.

O comandante da polícia, Victor Hugo Escobar, informou em conferência de imprensa que os detidos se preparavam para atentar contra a vida do presidente Evo Morales, do Vice-presidente Garcia Linera e de outros membros do Gabinete.

No quarto do hotel foi apreendido diverso armamento ligeiro utilizado no confronto, um computador portátil e diversos planos, documentos com dados sobre os movimentos de Evo Morales, croquis, etc. Posteriormente, por informação dos terroristas sobreviventes, foi apreendido num armazém da COTAS, empresa privada e a mais importante telefónica do país, na FEXPO (Feira Exposição de Santa Cruz), um arsenal muito completo e material explosivo C4, de uso exclusivo militar, mas não existente na Bolívia.

Os dois terroristas confessaram ainda que foi esta célula quem colocou os explosivos na casa do Cardeal Júlio Terrazas, na noite da passada terça-feira.

Com o desmantelamento desta célula terrorista e com os dados já disponíveis fica claro que a oligarquia boliviana, particularmente a de Santa Cruz, e o imperialismo não aceitam as mudanças necessárias ao desenvolvimento da revolução democrática e nacional que o povo boliviano tem sucessivamente ratificado nas urnas.

  • Os editores de odiario.info

sábado, 18 de abril de 2009

ESTAMOS EM ABRIL
LEMBREI-ME MANUEL FREIRE


Um notável dirigente político
O exemplo da «Praça de Jorna»

Para além dos notáveis romances e contos que escreveu, Soeiro Pereira Gomes produziu também textos políticos, em forma de cartas, folhetos ou artigos.

As questões abordadas eram variadas, como o foram as tarefas partidárias que desempenhou, particularmente na clandestinidade: o papel dos intelectuais na luta antifascista, a construção da unidade nacional contra a ditadura ou a utilização das praças de jorna para a conquista de direitos e para a luta pelo derrubamento do fascismo.

Neste último caso, escreveu em Agosto de 1946 Praça de Jorna. Nesse folheto, começa por clarificar o que eram as praças de jorna: «um mercado de mão-de-obra, a que vão assalariados e proprietários rurais (ou os seus delegados: os capatazes), e em que os primeiros, como vendedores, oferecem a sua força de trabalho, e os segundos, como compradores, oferecem o salário ou jorna, que é a paga de um dia de trabalho.»

Soeiro Pereira Gomes, que trabalhava então com os camponeses e operários agrícolas do Alto Ribatejo, rejeita a visão de alguns, segundo os quais as praças eram, ainda, «restos do antigo mercado de escravos e, portanto, desumanas e inteiramente condenáveis». Afirmando, pelo contrário, que estas eram instituições capitalistas, realçava que as praças eram um processo mais «progressivo e mais útil de contratar trabalho do que o processo individual de contrato em cada dos patrões ou dos camponeses». E insistia mesmo na ideia de que, nas condições do fascismo, poderiam ser úteis para a unidade camponesa e mesmo para a sua libertação do jugo fascista.

Que assim é provava-o, por exemplo, a resistência constante que o patronato opunha ao seu regular funcionamento.

«Dizemos apenas que a “praça” é útil à unidade dos camponeses; e não simplesmente à subida das jornas, porque a “praça” não representa apenas um campo de luta por melhores jornas, mas também por outras condições de trabalho: e, além disso, porque é somente através da sua unidade que os camponeses conseguirão melhorar essas condições e o seu nível de vida.» Se é verdade que «a união faz a força», a praça de jorna comprova este ditado, afirmava Soeiro Pereira Gomes: «Naquela, o trabalhador sente a força da união dos seus companheiros; levanta a voz; teima; defende os seus direitos. Ao passo que, no pátio do patrão ou na sua casa, porque está isolado, o trabalhador sente-se fraco.»

No entanto, prosseguia, «não basta lançar a palavra de ordem de formação de novas praças e defesa das que existem. É preciso organizar as praças de jornas para a luta». Organização que seria assegurada pela criação de comissões de praça, que tratariam de «todas as condições de trabalho dos camponeses em praça»: ajuste de salários ou jornas; modo de execução de certos trabalhos; horário de trabalho e de sesta... Para desempenhar bem as suas funções, a comissão deveria manter um «estreito contacto com as massas camponesas, a fim de saber a tempo as suas disposições e garantir o seu apoio».


sexta-feira, 17 de abril de 2009

ESTAMOS EM ABRIL
LEMBREI-ME DO LUIS CÍLIA







Uma ajuda desinteressada



O arquivo de opiniões do PS encerra tesouros. Uns estão um pouco gastos, porque acaba por cansar deparar com as contradições de sucessivas gerações de troca-tintas.

Mas outros são pérolas. Por exemplo: essa luminária que se chama Augusto Santos Silva produziu (Público, 8-9-2002) a afirmação, lapidar e inesquecível, de que «o PS não deve afirmar-se nem pró nem contra o capitalismo: foi nessa recusa que se formou o socialismo democrático».

Esta profissão de fé no mais desavergonhado oportunismo deve estar inscrita em letras de ouro na sede do Rato. Foi com esta ideologia e este ideólogo que o PS deu os passos que faltavam no terreno da política de direita. Nunca desde o 25 de Abril o capitalismo encontrara um partido que, não sendo «nem pró nem contra o capitalismo», executasse com tão canina obstinação as políticas do grande capital.

Afundou o país na crise, e agora que ela se insere na «mais profunda e sincronizada crise financeira do nosso tempo» e com o comércio mundial «em queda livre», nas palavras da insuspeita OCDE, os propagandistas PS estão algo descalços.

Mas, se o pior da crise ainda está para vir, as suas consequências políticas (naturalmente contraditórias) também estão em desenvolvimento, e irão decerto muito fundo. Uma sondagem divulgada na passada semana nos EUA deixou alguma gente alarmada. Apenas 53% dos norte-americanos consideram o capitalismo superior ao socialismo. Nos que têm idade inferior a 30 anos essa percentagem baixa para 37%. Nessa mesma faixa etária 30% consideram o socialismo superior ao capitalismo.

O choque foi violento. Vários comentadores (citados pelo New York Times) divergiram. Uns opinam que os inquiridos não sabem do que estão a falar. Outros lastimam as fraquezas do sistema de ensino que permite tais devaneios. Outros acham que a culpa é dos conservadores, que chamam «socialista» tudo o que não encaixa nos interesses do grande capital. Alguns, por estranho que pareça, interrogam-se se o capitalismo não terá perdido um pouco do seu encanto com o colapso da economia. Em resumo, estão confusos.

Não poderíamos, com algum egoísmo nacional, enviar em seu auxílio o «socialista» Santos Silva?

  • Filipe Diniz

quinta-feira, 16 de abril de 2009

ESTAMOS EM ABRIL
LEMBREI-ME DO FAUSTO

Milhões

Arriscamo-nos a desagradar ao doutor Vítor Constâncio se dissermos que por aí andam salários obscenamente luxuosos. O governador do Banco de Portugal, confrontado certa vez com o chorudo vencimento que recebe por um trabalho aliás pouco qualificado e cujos resultados provam que não sabia o que deveria saber (ou, sabendo-o, faz vista grossa), acusou de demagógicas as «insinuações» de que arrecadava para si muito dinheiro em comparação com os seus compatriotas. Ao longo dos últimos tempos – a crise tem a sua parte na responsabilidade de tais revelações – ficou o público a saber, sem que fossem os comunistas a divulgá-lo mais amplamente, que abundam, neste País de milhões de pobres e de centenas de milhares com fome, que há gente por aí que se farta de ganhar.

Anteontem, o accionista do BPN, Joaquim Coimbra, ouvido na Comissão de Inquérito da Assembleia da República, revelou que Miguel Cadilhe, presidente do mesmo banco, aceitara entrar para o grupo ganhar um salário de um milhão de euros por ano. Os restantes administradores, coitados, só auferiam 700 mil euros... Isto durante um período de foi de final de Junho até à data da «nacionalização»...

Escrevemos «nacionalização» entre aspas porque, de facto, do que se tratou, foi de, mais uma vez, o Estado arcar com os prejuízos originados pelas manigâncias de banqueiros destes. Mas haverá outra sorte de banqueiros? Mas será o capitalismo um sistema onde impera a honestidade, manchada embora por algumas nódoas?
O certo é que o capitalismo é o menos democrático de todos os sistemas, onde são escolhidos e eleitos, em função do dinheiro possuído por accionistas, os que mandam na economia e... nos governos.

A simbiose entre o capital e o poder é tal que é vê-los saltar da banca para os governos, e dos governos para os conselhos de administração. Por facilidade, citemos os exemplos de Jorge Coelho, que salta da ponte de Entre-os-Rios para a Motaengil. Ou de Ferreira do Amaral, que de ministro das Obras Públicas, assina contrato com a Lusoponte e acaba administrador da mesma. Os exemplos são muitos. Como no tempo do fascismo.
  • Leandro Martins





quarta-feira, 15 de abril de 2009

ESTAMOS EM ABRIL
LEMBREI-ME DO CARLOS

Os nomes e os bois

Uma das dificuldades da luta política tem a ver com as palavras.
Para os políticos burgueses as palavras, os programas eleitorais, os discursos, as entrevistas, as promessas públicas são outros tantos meios, não de dizer o que querem e o que propõem, mas de o ocultar cuidadosamente. As razões são evidentes: se alguma vez lhes fugisse a boca para a verdade os seus eleitores reduzir-se-iam ao pequeno punhado de criaturas cujos interesses defendem.

Uma das palavras mais proferidas pelos trabalhadores ao longo dos últimos quatro anos é certamente a palavra mentiroso. É a altura de chamarmos a atenção para ela.

Porque uma questão que se deve colocar neste ano eleitoral é se o povo vai voltar a ter de a gritar nos próximos tempos. Se isso voltar a suceder é mau sinal. Quer dizer que uma parte dos eleitores se deixou novamente enganar.

Num dos seus textos sobre a situação em França Marx observa: «a questão não é se tal ou tal personagem traiu o povo. A questão é porque é que o povo aceitou ser traído por esse personagem». Recrudescem os esforços por parte do PS/Sócrates para voltar a vender como lebre «anti-neoliberal» o desastroso gato neo-liberal que durante quatro anos pôs no prato do povo português. Ou para o PSD se apresentar como «alternativa». Ou para outros presumirem de «forças dirigentes da esquerda». Ou para outros ressurgirem da sua hibernação quadrienal com a finalidade de sempre, a de confundir alguns eleitores com a foice e martelo que usurpam.

Por isso nenhum trabalhador que endereçou a palavra mentiroso se deveria esquecer não apenas de a quem a dirigiu, mas a que política e forma de agir a dirigiu.

Seria mais fácil se cada eleitor identificasse por detrás de cada palavra e de cada sigla as palavras certas. Se onde alguns dizem «governabilidade» identificasse prepotência e arbitrariedade. Se onde dizem «consciência social» identificasse exploração e sopa dos pobres. Se onde dizem «europa» identificasse multinacionais e subalternização nacional.
Se onde vem PS, PSD, CDS/PP identificasse apenas ppd (ou seja, partidos da política de direita).

Se onde vem «governo actual» identificasse comissão eleitoral do PS.

  • Filipe Diniz



terça-feira, 14 de abril de 2009

ESTAMOS EM ABRIL
LEMBREI-ME DO SAMUEL


segunda-feira, 13 de abril de 2009

O Obama é do Soares


«Um mundo em mudança» é o título de um livro no qual Mário Soares reincide na publicação de alguns dos artigos que tem vindo a dar à luz em vários jornais – um livro sobre o qual deu caudalosa e garrida entrevista ao Semanário Económico e para cuja capa chamou Obama, mais o seu sorriso, a par do foto também sorridente do autor reincidente.

A «mudança», obviamente, é Obama e a «nova era» por este iniciada: «nova era» que, assim espera e confia Soares, virá salvar o capitalismo da mais grave e profunda de todas as suas crises.

«Salvar», não, corrige o entrevistado: «o capitalismo não tem que ser salvo», porque, se é verdade que «o capitalismo de casino está morto, o capitalismo em geral não está», graças a Deus.

Assim sendo, o capitalismo tem é que «ser corrigido com princípios éticos», após o que ficará como novo e pronto para as curvas, ou seja, pronto para explorar eticamente – que é a forma democrática de explorar.
Sobretudo, adverte, e essa é, para ele, a questão essencial, não venham para cá com ideias de «voltar ao comunismo puro e duro»: o comunismo morreu, implodiu: «voltar às ideias de Marx», sim senhor, «mas não lido pela cartilha leninista, estalinista ou maoista» - porque, explica Soares, «Marx e Engels eram socialistas» e, por isso, «estamos a voltar a algumas das suas ideias, sobretudo quanto à análise que fizeram do capitalismo». Análise que, de acordo com a peculiar leitura que dela faz o marxista Soares, conduz à exigência de que «o capitalismo seja corrigido»…

Por tudo isto, é em Obama – outro marxista - que ele, Soares, deposita todas as suas esperanças de correcção ética do capitalismo.

E tão longe leva a sua fé em Obama que o trata como se fosse seu - seu e de mais ninguém. Daí a irritação que lhe causam os elogios despejados por Durão Barroso sobre o Presidente dos EUA - esse Barroso da Cimeira da Vergonha, que foi só elogios e sorrisos para o Bush, não tem legitimidade para vir, agora, elogiar e sorrir para Obama.

Legitimidade tem, isso sim, Soares, que sempre criticou o Bush e sempre elogiou quem o merecia: agora, Obama e, antes, Clinton, por exemplo. Para não falar do Carlucci...


  • José Casanova






domingo, 12 de abril de 2009


ESTAMOS EM ABRIL LEMBREI-ME DO ADRIANO


quarta-feira, 8 de abril de 2009




NATO e G20, maus sinais num cenário de crise



1- Os 60 anos da NATO não constituem motivo para comemoração. As seis décadas de existência desta organização político-militar configuram uma história de constantes ameaças à paz, de ingerências e agressões imperialistas, de crimes de guerra, de ofensas à soberania e ao direito dos povos à emancipação social e nacional.

Que Portugal esteja associado com o nome de Salazar à sua fundação e que - em confronto com a Constituição de Abril - sucessivos governos do regime democrático tenham continuado a prestar vassalagem a tal organização constituem motivo, não de festejo, mas de condenação nacional.

2- Esta organização é hoje, mais do que nunca, uma ameaça contra a humanidade. Num quadro de profunda crise do sistema capitalista, as ambições deste seu braço armado (nomeadamente o que se adivinha do “novo conceito estratégico” em discussão), os projectos de prosseguimento escalada militar a Leste, no Iraque, no Paquistão e no Afeganistão, o alargamento da acção no Atlântico Sul e em África, constituem outros tantos passos no sentido de uma ameaça global de enorme risco. A presença servil de José Sócrates na Cimeira da NATO, a sua imediata disponibilidade para ceder às exigências norte-americanas de participação acrescida na escalada em curso no Afeganistão constituem uma nova confirmação do crescente carácter anti-nacional de que a política de direita hoje se reveste.

3- O facto de esta Cimeira se ter realizado praticamente no seguimento da reunião do G20 tem a vantagem de associar com clareza as duas ameaças que hoje ensombram o conjunto da humanidade: a catástrofe económica, social e ambiental para a qual o capitalismo globalizado conduz, por um lado, e, por outro, o imenso e inumano potencial militar de que dispõe para tentar prosseguir e impor o seu domínio explorador, opressor e devastador. Uma organização tão insuspeita como a OCDE publicou nas vésperas da reunião do G20 uma caracterização duríssima da situação actual: “a economia mundial encontra-se no meio da mais profunda e sincronizada recessão do nosso tempo, provocada por uma crise financeira global e agravada por um colapso no comércio mundial”. “No conjunto dos 30 países membros da organização a previsão do aumento do desemprego é de mais 25 milhões de desempregados”.

4- As conclusões da reunião do G20, se traduzem alguma coisa, traduzem sobretudo as contradições internas entre as maiores potências capitalistas que o integram. Mas traduzem igualmente o esgotamento das soluções que têm a apresentar, a repetição das fórmulas e das soluções institucionais que são parte do problema, como o FMI, o cinismo com que esperam fazer cair os efeitos da crise sobre os povos e os trabalhadores em particular.

5- Uma outra organização igualmente insuspeita, a OXFAM, dirigiu ao G20 uma violenta denúncia: só os 175 mil milhões de dólares que o Governo dos EUA empregou no resgate da seguradora AIG representam uma vez e meia o total dos fundos que o conjunto dos países do G8 destinam anualmente ao apoio ao desenvolvimento. Os 8,42 biliões de dólares gastos no resgate de bancos e seguradoras falidas seriam suficientes para pôr fim à extrema pobreza durante 50 anos. Dificilmente poderia ter-se um retrato mais vivo da natureza actual do capitalismo.

6- É neste quadro de profunda crise, de gritantes injustiças, de fortíssimas ameaças que hoje nos encontramos. Os perigos são enormes. Mas a história é, em última instância, escrita pelos povos. Queiram ou não o imperialismo e a NATO.

  • Editores

terça-feira, 7 de abril de 2009

Sobre Darwin e o darwinismoReflexão crítica de Álvaro Cunhal



Na sua introdução às notas sobre Darwin escritas por Álvaro Cunhal na cadeia em 1951, no ano das comemorações dos 200 anos de nascimento de Charles Darwin e dos 150 anos da publicação do seu livro A Origem das Espécies, André Levy vem testemunhar que Álvaro Cunhal, “Além das qualidades exemplares como organizador e dirigente político, como teórico marxista-leninista e analista da situação concreta portuguesa, nas suas múltiplas vertentes (económica, social e política), exprimiu também as suas qualidades humanas através da produção artística, como são exemplos a sua arte plástica e escrita criativa.”

André Levy*
As notas sobre a obra de Darwin, republicadas no Avante!, são mais uma pequena ilustração de um facto incontestável: Álvaro Cunhal foi um notável intelectual. Além das qualidades exemplares como organizador e dirigente político, como teórico marxista-leninista e analista da situação concreta portuguesa, nas suas múltiplas vertentes (económica, social e política), exprimiu também as suas qualidades humanas através da produção artística, como são exemplos a sua arte plástica e escrita criativa. Apesar das suas raízes familiares burguesas e sua formação académica em Direito, enquanto militante do PCP (a partir de 1931, com 17 anos) aprofundou uma ligação estreita com os trabalhadores e o povo português, condição indispensável para conhecer as carências e aspirações mais profundas do nosso povo, o que veio a justificar inteiramente a sua auto-caracterização, em 1950, durante o seu julgamento perante o tribunal plenário, como «filho adoptivo da classe operária».


segunda-feira, 6 de abril de 2009


As dores do PS
Dias a fio, em jeito de confissão antecipada de uma derrota anunciada, como se pressentisse já onde mais lhe dói, PS e respectivo candidato insistiram na professoral argumentação em torno do que designam de desnacionalização do voto para as europeias. E, se na boca destes, a ideia seria de que em Junho se abriria um parêntesis para onde se varreria tudo o que hoje verdadeiramente pesa na vida dos portugueses, bem se pode dizer que pela boca acabará por morrer o peixe. Mesmo que à pressa venham agora desdizer o que até domingo haviam dito.

Percebe-se que aqueles que se apressaram a desvalorizar os resultados dos referendos na Irlanda ou em França sobre o Tratado Europeu com base em que o que aí foi julgado pelos eleitores foi, não o modelo europeu e o Tratado, mas sim as políticas internas desses mesmos países, vejam agora o prenúncio de uma derrota. Com a curiosa particularidade de, a confirmar-se, essa derrota constituir em si mesmo, pela boca dos próprios, seja à luz da velha ou da nova argumentação, uma clara condenação à política do Governo e às suas consequências.

Sobrará sempre a legitima suspeita de que a cambalhota do discurso se destine a atenuar o mistério sobre as razões que levavam quem, querendo sacudir qualquer relação entre os resultados de 7 de Junho e a sua acção no Governo, tem no terreno um uso despudorado de meios e recursos públicos destinados a comprar votos e a manter dependências de que a vertiginosa passagem de ministros, secretários de Estado e governadores civis carregados de promessas e alguns cheques é testemunho.

De um modo ou de outro, só ganha actualidade e importância, fazendo mossa onde mais lhes doerá, insistir na relação entre o sentido do voto em 7 de Junho e o juízo concreto que os eleitores não deixarão de fazer em função da situação, problemas e inquietações que resultam da política do Governo, da insistência de que por esta mesma razão 7 de Junho é uma oportunidade, não apenas para nesse momento penalizar esta política, mas sobretudo para criar condições para essa mesma condenação ser confirmada nas legislativas. Ou seja, mais do que um «sinal» difuso, os resultados de 7 de Junho têm de ser uma primeira expressão de uma clara opção de ruptura com a política de direita que o país reclama.
  • Jorge Cordeiro


quinta-feira, 2 de abril de 2009


Critérios...


A CDU apresentou, na segunda-feira passada, a sua lista para as eleições do Parlamento Europeu. Foi a primeira das forças concorrentes a fazê-lo – e já assim acontecera em relação ao anúncio do primeiro nome da lista, Ilda Figueiredo.Num caso e noutro, os media dominantes primaram pelo (quase) silenciamento – à semelhança do que têm vindo a fazer no que respeita à intensa intervenção de Ilda Figueiredo.

Já no que respeita aos primeiros candidatos do BE e do PS, esses media têm-lhes dedicado tempo e espaço à labúrdia. Mostram os factos que, por parte dos media, as notícias sobre a intervenção dos três cabeças de lista até agora anunciados, assenta no pragmatíssimo critério de ignorar a candidata da CDU (e as inúmeras iniciativas em que participa) e de anunciar com luzido foguetório eleitoralista tudo o que fazem, e sobretudo o que não fazem, os candidatos do BE e do PS. Ou seja: silenciamento dos que, lá como cá, são os que mais trabalham; e projecção às alturas dos que, lá como cá, são os que mais descansam...

Mas o critério vai mais longe: entre esses jornais que silenciam cirurgicamente a actividade da candidata da CDU, alguns há que, provavelmente para preencherem o espaço previsto para as campanhas eleitorais, se entregam à curiosa tarefa de noticiar o não-acontecido... É o caso, por exemplo, do Diário de Notícias que, há dias, gastou quase meia página a informar que o CDS/PP apresentará o seu cabeça de lista... na Páscoa – e que, reincidente, divulgou, na sua edição de 31 de Março, com destaque de primeira página, a relevante notícia segundo a qual o nome de uma determinada pessoa «ainda está na short-list do PSD»...

Foi este mesmo DN, registe-se, que nem uma linha dedicou à apresentação da candidatura de Ilda Figueiredo e que, de então para cá, dedicou uma dúzia de linhas, se tanto, às dezenas de iniciativas protagonizadas pela candidata da CDU.O mesmo DN, aliás, que acaba de informar – também com chamada primeira página – que «Ferreira Torres já arrancou com a campanha» - deixando-nos na dúvida sobre quem é que, de facto, «arrancou com a campanha»: se Ferreira Torres, se o DN, se ambos...
  • José Casanova


quarta-feira, 1 de abril de 2009

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