quinta-feira, 1 de julho de 2010

Merecia mais


Foi pequena, aliás, muito singela, e até contida, a homenagem que durante três dias foi feita a Mário Soares, em Arcos de Valdevez.

Frank Carlucci, ex-director da CIA, amigo de longa data do homenageado, limitou-se a enviar uma mensagem e Gorbachov, último presidente da URSS a quem o imperialismo muito deve, ficou-se pela sempre distante videoconferência. No plano nacional, só a presença do actual primeiro-ministro para uma troca de elogios mútuos conseguiu disfarçar a falta de mobilização das mais altas figuras da nação.

Mário Soares merecia mais. Muito mais. Afinal de contas foi ele que, à frente do PS, deu uma contribuição decisiva para o início e consolidação do processo contra-revolucionário em Portugal. Foi com ele que o PS primeiro vestiu a camisola do «socialismo», para a seguir tirar a máscara, transformando-se num dos principais executantes da política de direita contra a própria Constituição da República. Foi com ele que importantes conquistas de Abril como a Reforma Agrária foram liquidadas. Foi com ele que se deu importantes saltos qualitativos na ofensiva contra os direitos dos trabalhadores, como foi a introdução dos contratos a prazo. Foi com a sua acção e iniciativa que se liquidou parcelas determinantes da nossa soberania, desde logo com a integração do país na então CEE. E é com o apoio dele que, hoje, essa mesma política de abdicação dos interesses nacionais, de agravamento da exploração, de imposição de novos sacrifícios ao nosso povo, prossegue e se aprofunda.

E para que não restem dúvidas, elogiando Sócrates, MS vai pensando no futuro da política (de direita) que ele próprio concretizou e soltando palavras virtuosas para o actual líder do PSD.

Foi por isso muito curta a homenagem prestada a tão exemplar figura do nosso País. Os homens de mão do imperialismo norte-americano deveriam corar de vergonha. Não se pode esquecer um amigo assim. Grupos económicos, alguns deles recompostos depois do 25 de Abril – como é o caso dos Mello ou Espírito Santo – e outros que floresceram nestes mais de trinta anos de política de direita deveriam ter outra atenção para com o «pai da democracia» onde as suas volumosas fortunas florescem na exacta medida em que diminuem as condições de vida do povo português.

  • Vasco Cardoso
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