quarta-feira, 24 de setembro de 2008

HÁ 35 ANOS, O OUTRO 11 DE SETEMBRO

TALVEZ




Os media de referência são especialistas em destruir a memória sobre crimes da direita e do fascismo. Neste artigo de Correia da Fonseca denunciam-se as televisões portuguesas pelo seu esquecimento do 11 de Setembro de 1973 no Chile. Podiam desagradar ao Consenso de Washington…



Na passagem de mais um dia 11 do mês de Setembro, não dei por que a televisão tivesse feito uma só referência ao 11 de Setembro de 1973, dia em que o general Pinochet, averiguadamente telecomandado por Washington, desencadeou a maior, mais prolongada e mais repugnante matança de gente de esquerda havida no quadro geopolítico do Ocidente depois de 45. Talvez apenas eu me tenha desencontrado com alguma breve alusão ao tristíssimo acontecimento, talvez tenham sido as estações de TV portuguesa a desencontrarem-se com a memória, o que aliás lhes acontece mais vezes do que mandariam a competência e dever de informar (pois a completa informação tem um âmbito temporal que excede o que aconteceu ontem para integrar o que, sendo mais distante no tempo, ainda ilumina e esclarece alguma coisa do que ocorre hoje). O certo, de qualquer modo, é que o único 11 de Setembro que eu vi a TV assinalar foi o de 2001, afinal já não tão próximo quanto por vezes parece. E, de entre todas as referências mais ou menos extensas que lhe foram feitas, e para lá da justificada subsistência do espírito de luto sobretudo nos Estados Unidos, como é natural, terão sido particularmente interessantes os documentários agora transmitidos que abordaram as dúvidas nunca resolvidas acerca da verdadeira autoria, moral e material, dos atentados às Twin Towers e ao Pentágono. Sendo que este último, embora naturalmente muito mais esquecido pela opinião pública por ter falhado e não ter provocado vítimas, é um elemento capaz de suscitar interrogações e algumas perplexidades.

Ambos os documentários que reclamaram a minha atenção abordaram as muito graves dúvidas expressas perante a posição oficial norte-americana que, como bem se sabe, acusa a Al Qaeda e Bin Laden de terem sido os autores dos atentados. É sabido que livros assinados por jornalistas reputados, pareceres de cientistas e técnicos, não apenas põem em dúvida os relatórios oficiais como, em muitos casos, acusam os poderes dos Estados Unidos de, através das suas ramificações mais discretas, terem sido eles a prepararem os atentados a fim de conseguirem a mobilização psicológica do povo norte-americano para as invasões do Iraque e do Afeganistão, isto é, da mais rica zona petrolífera do mundo numa altura em que a aproximação da crise do petróleo já era previsível para qualquer sujeito medianamente informado. A hipótese é de tal modo chocante que repugna encará-la, mas o certo é que tem sido frequentemente avançada, de tal modo que foi catalogada como uma «teoria da conspiração» pelos que a recusam. Infelizmente, porém, esta designação, «teoria da conspiração», tem vindo a ser usada com frequência inflacionada, dir-se-ia que quase sempre que explicações plausíveis, ajustadas aos contextos mas (ainda) não provadas, contradizem as versões oficiais. Recorde-se que houve um tempo em que a inspiração USA para o golpe de Pinochet foi encarada como uma «teoria da conspiração». E, contudo, aberto o acesso a documentação outrora secreta, sabe-se que a «teoria» tinha razão.

Os dois documentários que foram agora transmitidos, longe de perfilharem qualquer «teoria da conspiração», procuram refutá-las. Contudo, por estes mesmos dias foi também transmitida uma reportagem acerca do chamado Caso Lockerbie, o de um avião da Pan Am que há mais de vinte anos explodiu sobre a localidade escocesa de Lockerbie morrendo os 259 passageiros. Dois cidadãos líbios foram então acusados de serem os responsáveis por esse acto de terrorismos e, após um longo braço de ferro diplomático com o presidente Kadhafi, então ainda uma «bête noire» dos Estados Unidos e seus anexos, foram finalmente entregues às autoridades britânicas com a condição de serem julgados num terceiro país que foi a Holanda. Um deles foi absolvido, o outro condenado a prisão perpétua. Porém, a reportagem agora transmitida pela SIC-Notícias no âmbito da rubrica «Panorama BBC» veio falar-nos da intervenção da CIA e do FBI durante todo o processo de investigação, abrindo caminho para as maiores dúvidas. A julgar pelo que ali se ouviu, talvez todo o Caso Lockerbie tenha sido uma sinistra operação dos serviços secretos norte-americanos para incriminar a Líbia de Kadhafi. E a reflexão sobre esta possibilidade devolve-nos para o 11 de Setembro. Talvez os mesmos serviços secretos, ou eventualmente outros mais secretos ainda, possam não ter sido alheios à tragédia de 11 de Setembro. Talvez a apelidada «teoria da conspiração» seja neste caso uma teoria do desmascaramento. Talvez devamos perguntar, como o herói detective de qualquer estória policial, quem é que afinal ganhou com o crime. E, ao encontrar a resposta que aponta para a política de agressões militares da administração Bush, examinar a possível conclusão.


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