quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

COMO SE CALA A VOZ DA SOLIDARIEDADE


domingo, 24 de janeiro de 2010

Terramoto e ocupação





Neste bem informado artigo, Jorge Cadima diz-nos que “É cada vez mais evidente a opção dos EUA por uma solução militar de largo espectro para a profundíssima crise em que estão atolados. Do Afeganistão e Paquistão, do Iémen à América Latina, quem conseguir descobrir diferenças entre Obama e Bush que avise”.

Jorge Cadima* - 24.01.10


O terramoto do Haiti ocorreu na terça-feira, 12 de Janeiro. Em 24 horas, os militares dos EUA haviam «tomado controlo» do aeroporto da capital (BBC, 18.1.10). Numa semana os EUA transportaram 9 a 10 mil soldados para o Haiti e «o Pentágono prepara-se para enviar mais» (New York Times, 17/1). O Canadá vai enviar mais mil soldados (Financial Times, 17/1). Mas a solidariedade internacional quase não saiu do aeroporto de Port-au-Prince: 5 dias após o sismo «a ONU diz que alimentou 8 mil pessoas, mas 2 a 3 milhões continuam desesperadamente necessitadas» (NYT, 17/1).

Ainda o NYT explica: «O Programa Alimentar Mundial (WFP) conseguiu finalmente fazer aterrar voos com comida, medicamentos e água no sábado, depois de tentativas goradas na quinta e sexta-feira, afirmou um funcionário dessa agência. Esses voos foram desviados para que os Estados Unidos pudessem aterrar tropas e equipamento, e transportar americanos e outros estrangeiros para [destinos] seguros. «Há 200 voos a chegar e partir todos os dias, o que é uma quantidade incrível para um país como o Haiti» disse Jarry Emmanuel, o funcionário logístico de transportes aéreos da operação haitiana da agência [WFP]. «Mas a maioria desses voos são para os militares dos Estados Unidos». Acrescentou: «As prioridades deles são garantir o controlo do país. As nossas são dar de comer».


A BBC (18/1) informa que «várias agências protestaram pelo facto de não conseguirem fazer chegar auxílio através do aeroporto», mas a família Clinton e a sua corte de jornalistas passam por lá à vontade. «A França e o Brasil apresentaram protestos oficiais porque os militares dos EUA que controlam o aeroporto negaram autorização de aterragem a voos de auxílio dos seus países» (AP, 17/1), incluindo um avião francês com um hospital móvel. Idêntico protesto veio da organização dos países das Caraíbas (CARICOM) e da Nicarágua (cubadebate, 17/1). O embaixador de França no Haiti declarou que «o aeroporto não está à disposição da comunidade internacional, transformou-se num apêndice de Washington» (Il Messaggero, 17/1). O Secretário de Estado francês para a Cooperação Alain Joyandet, pediu à ONU para definir o papel dos EUA: «trata-se de ajudar o Haiti, não de ocupar o Haiti» (Xinhua, 18/1).

Nos últimos dias repete-se que o Haiti «já não tinha Estado» antes do terramoto. Mas a comunicação social de regime pouco falou da história do Haiti no Século XX: uma história de ocupação pelos EUA (1915-34), feroz ditadura pró-americana da família Duvalier e os seus facínoras «Tontons-Macoute» (1957-86), golpes e invasões patrocinadas pelos EUA e França. Por duas vezes nos últimos 20 anos o Presidente Aristide, eleito por esmagadoras maiorias, foi derrubado em golpes de Estado inspirados em Washington. Em 2004, Aristide, tal como o Presidente hondurenho Zelaya, foi metido num avião e exilado. O próprio contou (entrevista à jornalista Amy Goodman, democracynow) que foram militares e membros da embaixada dos EUA no Haiti que o raptaram na noite de 28-29 de Fevereiro, sob o pretexto de garantir a sua segurança. Logo no dia 29, o Conselho de Segurança da ONU «tomou nota da demissão» de Aristide e aprovou o envio duma missão militar (resolução 1529), tendo os Marines dos EUA chegado ao país antes do anoitecer (Wikipedia, «2004 Haiti rebellion»). Como nas Honduras, o «quarto poder» do grande capital optou por um silêncio conivente. O papel da missão militar da ONU é relatado num filme disponível em globalresearch (item 16998).


A atitude do gigante imperialista vizinho do Haiti é coerente com a sua História. Mas o significado da ocupação militar, a pretexto da tragédia, extravasa as fronteiras daquele martirizado país. Integra-se no cerco militar que os EUA estão a montar à Venezuela e a Cuba, com as novas bases militares na Colômbia, as provocações aéreas a partir da colónia holandesa de Curaçao, o reforço da presença militar no Panamá, a recente inclusão de Cuba na lista de «países promotores do terrorismo». É cada vez mais evidente a opção dos EUA por uma solução militar de largo espectro para a profundíssima crise em que estão atolados. Do Afeganistão e Paquistão, do Iémen à América Latina, quem conseguir descobrir diferenças entre Obama e Bush que avise.
* Professor universitário e analista de politica internacional.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Afinal porquê a crise


Fala-se muito na desregulação do sistema financeiro, em produtos tóxicos ou na bolha de crédito mal parado. E o cidadão fica perguntando qual é afinal a causa da crise.


Adam Smith, o grande economista do equilíbrio perfeito entre a oferta e a procura decerto se espantaria com a arrogância dos que querem dar comandos ao mundo a partir de um omnipotente «mercado global». Mas vejamos: há mais de 150 anos o cidadão Karl Marx já falava sobre as crises do capitalismo. São, dizia ele, crises de sobreprodução em relação à capacidade de consumo solvente. Isto é: em relação à capacidade de pagamento de que a população dispõe.


E aqui entra contradição insuperável do capitalismo:


É que, ao mesmo tempo que desenvolve a capacidade produtiva do homem, com a apropriação privada da mais-valia provoca uma pauperização crescente à escala mundial e nos próprios países capitalistas. E daí a queda de consumo solvente de que Marx falava.


O «crédito fácil» criou a ilusão de que a capacidade de consumo crescia e soprou a «financeira». Expressão, tal como os «produtos tóxicos», da ganância de lucro de que o capital é inseparável.


Como aditamento vale a pena acrescentar:


Quando a pretexto da crise se esmaga o valor da força de trabalho para aumentar os lucros – diminuindo assim a capacidade de consumo solvente – o capitalismo está preparando novas e mais graves crises para o futuro.
  • Aurélio Santos

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Ménage à trois


O FMI, Bruxelas, a OCDE e as agências de 'rating', entre muitos outros, estão à espera – ou dizem estar, para o caso tanto dá – do Orçamento do Estado (OE) que o Governo Sócrates II está a cozinhar numa ménage à trois com o CDS e o PSD. A dar crédito às notícias diariamente fornecidas pela imprensa da especialidade, pelos órgãos generalistas e pelos especialistas que nestas alturas parecem saltar de debaixo das pedras para se pronunciar sobre o assunto tal a fartura de comentários a que vimos assistindo, a dar crédito a tais notícias, dizíamos, o mundo está suspenso do nosso OE para determinar se Portugal é ou não um país credível, pelo menos no que a 2010 diz respeito. É mesmo de admitir, embora não se saiba de ciência certa, que o adiamento da escolha do vice-presidente do Banco Central Europeu (a que Vítor Constâncio é candidato, recorda-se) para 15 de Fevereiro se deva justamente a tão candente questão.


Tirando Manuel Alegre, que vive obcecado por Belém, não há cão nem gato (sem desprimor para os bichanos) que não se pronuncie sobre o assunto. E o mais curioso é que apesar de tamanha polifonia se regista uma interessante sintonia nas «abébias» que vão dando: ele é a crise, ele é o défice, ele é a imprescindível contenção nas despesas, ele é o congelamento dos salários e das pensões... Os avisos à navegação não podiam ser mais explícitos: esta semana, na televisão pública, António Vitorino afirmava que este vai ser um OE de «más notícias» e sem «margem para contemplar reivindicações»; uns dias antes, num canal da concorrência, um especialista muito especialista lembrava o «exemplo» da Irlanda, que cortou 10 por cento nos salários dos funcionários públicos, coisa que em Portugal não se coloca para já, embora outros especialistas não se coíbam de defender o congelamento, até porque, como dizia Pedro Curto ao Diário Económico de dia 19, «já resta muito pouca coisa para resolver do lado da despesa».


Os portugueses, que por motivos óbvios são os mais directamente interessados no assunto, a esta hora já perceberam o recado. Por maior que seja o ruído de fundo, por mais diatribes que PS, PSD ou CDS inventem para distrair as atenções, o resultado está feito. Vem aí mais do mesmo.
  • Anabela Fino

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

RECORDAR ELIS REGINA

Os lucros da gripe

Durante longas semanas no ano que terminou não houve noticiário em que não fosse dado um amplo destaque à pandemia da Gripe A. Entretanto, nas últimas semanas, essas notícias quase desapareceram da comunicação social. Mas eis que surgem agora outros registos colocando a hipótese de ter havido pressões da indústria farmacêutica sobre a Organização Mundial de Saúde, que levaram os governos a comprar vacinas em grandes quantidades.


Sem precipitar conclusões mas conhecendo nós os caminhos tenebrosos por onde se movimentam as multinacionais da indústria farmacêutica e a subserviência dos diferentes governos, é legítimo interrogarmo-nos sobre algumas destas revelações. Sobretudo quando se sabe que só a venda e comercialização de vacinas e antivirais contra a Gripe A rendeu às multinacionais do sector qualquer coisa como 5000 milhões de euros de lucro e que só a Glaxo, o laboratório que fornece as vacinas para Portugal, teve 2642 milhões de euros de lucro com este negócio.


As dúvidas começaram a surgir em vários países. Esta semana foi o insuspeito presidente da Comissão de Saúde da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa, Wolfgang Wodarg, a requerer a abertura de um inquérito para apuramento desta questão e a afirmar que a «falsa pandemia da gripe, criada pela OMS e outros institutos em benefício da indústria farmacêutica, é o maior escândalo do século na Medicina». Entretanto, em vários países há milhões de vacinas em stock ou encomendadas que, aparentemente, «os povos não querem usar». É o caso da Holanda, da Alemanha, da Suíça ou da França, que pediu 94 milhões de doses e tem agora 50 milhões mais do que as suas «necessidades».


Estas notícias não surpreendem. O negócio da saúde é hoje, no quadro do capitalismo, uma fonte de lucros para o capital. Não são apenas os medicamentos. São os hospitais, os seguros de saúde, o fornecimento de equipamento, a investigação. É a lógica de favorecimento dos interesses privados que está presente na política do Governo PS, que na mesma semana em que anunciou o objectivo de encerrar serviços oncológicos no SNS lançou a construção de mais dois hospitais privados com dinheiros públicos.


A confirmar-se estas notícias sobre a Gripe A, está-se perante uma verdadeira monstruosidade que não pode ficar impune.
  • Vasco Cardoso

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

PSD – bate, bate, coração!


Vai dura a guerra dos barões do PSD pelo poder no partido. Há dias F. P. Balsemão, «militante número um» e patrão dos média dominantes, veio dizer que o PSD, por este caminho, estava à beira do «suicídio». Este fim-de-semana, após a prestação do líder parlamentar e de estar à vista um OE acordado entre PS e PSD, o mesmo bilionário, num jantar da Quinta da Marinha, veio rectificar o tiro - afinal, o PSD está «vivo» e recomenda-se. Mas logo L.F.Menezes fez saber que «o PSD está muito doente».

São pelo menos 10(!) os pré-candidatos na corrida a presidente do PSD: P.Coelho, o único que se assume há muito; A.Branco, à bolina da AR; M.R.Sousa, à espera da «vaga de fundo» que não aparece; P.Rangel, R.Rio e M.Sarmento, à «coca» da oportunidade, mas receosos de avançar cedo de mais; P.S.Lopes, M.Mendes, L.F.Menezes e mesmo M.F.Leite que não desdenhariam uma nova oportunidade.

Os pré candidatos não se entendem - directas ou congresso antecipado? «Intransigência negocial» QB ou «consenso fácil» com Sócrates? Voto a favor de um OE PS/PSD de inspiração presidencial, ou apenas abstenção que o viabilize mas marque distâncias, por não se ir mais longe nas políticas de direita(?) - por exemplo, até ao corte dos salários, como defende M.Frasquilho.

Facto é que a guerra dos barões do PSD está ainda mais inconclusiva, depois do grande capital e o PR Cavaco Silva terem tornado ainda mais imperativa a exigência de que PS e PSD se ponham de acordo, empurrando a putativa crise política – e a janela de oportunidade eleitoral do PSD - lá para 2011.

Facto é que as dificuldades actuais do PSD vêm de 2005, quando o PS lhe sacou de novo as clientelas e passou a fazer de forma mais eficaz a mesma política de direita. E a única esperança do PSD é o «rotativismo» e que o poder lhe caia, um dia, no regaço por esgotamento do PS, para poder então assumir o comando da continuidade da mesma política de direita. Basta esperar por esse dia. Bate, bate, coração(!).

E igualmente facto é que o PSD - como bem se viu na recente cena de ciúmes com o CDS, por «amor» ao PS - é tão responsável como o Governo de Sócrates, por acção e omissão, pela desgraçada situação em que hoje vivemos. E, com mais ou menos teatralidade, vão todos continuar juntinhos – PS, PSD e CDS – no essencial das políticas de direita. E por isso serão denunciados e combatidos, sem hesitações, pelos comunistas, os trabalhadores e o povo.
  • Carlos Gonçalves

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

A lista

Depois de terem passado boa parte do século XX a espreitar para debaixo da cama a ver se estava lá escondido algum comunista, os norte-americanos correm o risco de passar o novo século a esventrar bainhas de calças à procura de terroristas. A paranóia está instalada e não cessa de ser convenientemente fomentada por quem de direito, ou seja, quem lucra com o assunto.


Num país responsável por mais agressões a países terceiros do que qualquer outro, com o armamento, as forças de segurança e os serviços de espionagem mais desenvolvidos do mundo, não deixa de ser curioso que não suscite a menor perplexidade – tanto a nível interno como externo – esta persistente necessidade de terror securitário. E no entanto se olharmos para a lista – há sempre uma lista que os média dominantes se apressam a reproduzir sem o mínimo sentido crítico –, se olharmos para a lista, dizia, dos 14 países que passaram a estar sob alta vigilância no respeitante ao trânsito aéreo de passageiros com destino aos EUA, fácil se torna perceber que ali há rabo escondido com o gato todo de fora.

É sintomático que a dita lista de «países que apoiam o terrorismo», não tendo sido oficialmente distribuída, tenha aparecido na comunicação social sem que houvesse qualquer desmentido. Mais sintomático ainda é que nessa lista fantasma conste o nome de Cuba, a pequena ilha que nem o maior radicalismo consegue rotular de superpotência, que há mais de meio século é alvo dos ataques e do bloqueio norte-americano. De Cuba, que do seu lado tem um trágico saldo de milhares de mortos e muitos milhões de prejuízo à sua economia causado pelo gigante vizinho, nunca partiu qualquer ataque aos EUA. Os terroristas que dali sairam estão todos instalados nos EUA ou ao seu serviço. E o terrorismo, que existe, é patrocinado pelos EUA contra Cuba. É caso para dizer que não há coincidências; há isso sim, uma clara aposta no terror de Estado que nem a «simpatia» de Obama consegue disfarçar.
  • Anabela Fino
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