quinta-feira, 24 de junho de 2010

Luísa Basto


«Quarenta anos a cantar o povo e a liberdade»: assim chamou a Luísa ao espectáculo com o qual assinalou quatro décadas de cantigas, por esse País fora, com o povo e pela liberdade.

Foi no Politeama, cedido por Filipe La Féria, num gesto solidário – gesto raro no tempo de egoísmo que vivemos e que, por isso, é justo registar.
Foi uma festa de amigos: amigos da Luísa, que o mesmo é dizer amigos do povo e da liberdade que a Luísa canta.

Com a Luísa esteve um conjunto de excelentes músicos dirigidos pelo Manuel Gomes. E esteve o Manuel Loureiro, com quem cantámos, todos, coisas bonitas que todos sabemos de cor porque fazem parte de uma memória colectiva onde o Zeca e o Adriano têm lugar cativo.

E esteve o Cândido Mota que, para ajudar à festa, trouxe consigo o Zé Carlos – sem o qual, aliás, a festa não seria a festa de amigos que foi.

Por exigência assumida da Luísa – e por obra do João Fernando e do Nuno Gomes dos Santos - esteve também o Nobel do nosso contentamento, o nosso Nobel levantado do chão – desse chão onde nasce o povo e a liberdade que a Luísa canta há 40 anos.

Depois, a Luísa cantou. Como só ela sabe. Com aquela voz levantada do chão com a (aparente) simplicidade das coisas simples, bela, transportando memórias: o Alentejo, a luta clandestina, a coerência de cantar sempre e sempre o povo e a liberdade. Voz de que o poder não gosta, que o incomoda e que ele tudo faz para silenciar. Porque, como é sabido, cantar o «povo e a liberdade» não é coisa que agrade à classe dominante. Muito menos se o «povo» que a Luísa canta é feito de trabalhadores, de luta, de sonhos. E se a «liberdade» de que ela nos fala é feita de direitos. Direitos a sério, não aqueles direitos de faz-de-conta com os quais nos querem vender gato por lebre. Direitos de Abril, que são todos aqueles a que todo o ser humano, pelo simples facto de existir, tem direito e que ninguém tem o direito de lhe recusar ou roubar: o direito ao emprego, a um salário digno, à saúde, à educação, à habitação, à infância, à velhice. À felicidade.

Foi uma festa de amigos: amigos da Luísa, que o mesmo é dizer amigos do povo e da liberdade que a Luísa canta. Há 40 anos.

Obrigado Luísa.
  • José Casanova
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