quinta-feira, 22 de setembro de 2011

O triunfo dos porcos



O Tribunal de Justiça da União Europeia proibiu o uso do brasão da antiga União Soviética como marca registada na União Europeia.

A questão foi desencadeada em 2006 por um estilista russo, que pretendeu registar o brasão da URSS como marca, no espaço comunitário. As autoridades comunitárias rejeitaram de imediato a pretensão, argumentando que se tratava de um «simbolo de despotismo» em alguns Estados membros, nomeadamente os da antiga «Cortina de Ferro».

E o douto Tribunal foi chamado a pronunciar-se – o que fez agora, passados cinco anos, sentenciando que «Deve ser recusado o registo de uma marca, se esta for contrária à ordem pública e aos bons costumes numa parte da União», chegando ao cúmulo de invocar uma «lei húngara».

Anotemos como o acórdão não fugiu, nem numa vírgula, ao decidido cinco anos antes pelos patrões da UE, o que diz o suficiente sobre este Tribunal.

E chegou a hora de perguntar aos doutos juízes «da Europa»: de que «defesa da ordem e dos bons costumes» é que falam? A «defesa» que mantém «na ordem» os actuais 30 milhões de desempregados na zona euro? Os «bons costumes» que estão a desalojar milhões de famílias das suas casas pela cupidez da finança e da especulação que, concomitantemente, acumulam fortunas colossais fazendo alastrar a miséria em mancha de azeite pela outrora «Europa dos ricos»?

Em contrapartida, de que acusam a URSS? A de ter sido o primeiro país do mundo a pôr em prática, e para todos os cidadãos, valores universais como o direito ao trabalho, à habitação, à saúde, à educação, à reforma, às férias, aos tempos livres – e tudo isto sempre constante ao longo dos seus 74 anos de existência - e assim obrigando a «Europa dos ricos» a fazer o seu «Estado social»? Por ter sido o país que acabou com o racismo e a xenefobia num território que é o sexto da terra emersa do planeta, dando aos seus mais de 100 povos e necionalidades todos os direitos atrás enunciados, mais línguas escritas para todos e, em cada uma delas, vertidas todas as obras publicadas no país?

Ou, externamente, por ter sido o país que libertou a «Europa dos ricos» da besta nazi, à custa de 20 milhões de mortos soviéticos e furando os planos aos «ricos da Europa», que almejavam a destruição da URSS? Ou será por a URSS ter admitido a criação do Estado de Israel - agora tão incensado, pela deriva cripto-fascista que o sionismo lhe imprimiu – e que nunca teria existido sem o consentimento da URSS?

Em 1945, George Orwell escreveu uma fábula chamada «O triunfo dos porcos», procurando demonstrar que «os ideiais comunistas» desembocavam sempre numa ditadura.

Vinte anos depois da queda da URSS, o capitalismo tomou o freio nos dentes espalhou, como mancha de azeite, a miséria, a injustiça e a retirada de direitos sociais adquiridos. E falam de poleiro, como se apenas o sistema capitalista fosse a solução.

Este acórdão dos doutos «juízes europeus», afinal, faz ricochete no livro de Orwell: perante a «obra» de miséria realizada, «O triunfo dos porcos» instalou-se foi na «Europa dos euros».
  • Henrique Custódio

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

«Terroristas»

O assinalar dos 10 anos passados sobre os atentados terroristas de 11 de Setembro de 2001 nos EUA teve um impacto mediático esmagador. Não se quer com isto dizer que não se devesse ter assinalado a data. Obviamente que tais atentados devem ser recordados e condenados.
E assim deve ser também para outros grandes actos de terrorismo na História tais como o golpe fascista de Pinochet em 11 de Setembro de 1973, concebido e concretizado em conluio com a administração norte-americana, e em que foram assassinadas 40 000 pessoas; o holocausto nuclear de Hiroshima e Nagasaki, perpretado pelos EUA em 1945 e que foi responsável por 300 000 mortos; os crimes do nazi-fascismo responsáveis por algumas da maiores atrocidades que a História conhece e em que as vítimas se contam na escala dos milhões; as duas guerras do Iraque e do Afeganistão que, segundo estimativas «por baixo» terão tirado até agora a vida a cerca de um milhão de pessoas; ou ainda mais recentemente a guerra de agressão e invasão da Líbia pela NATO que em apenas dois dias fez quase tantos mortos (2000) como as vítimas dos atentados de 11 de Setembro.
O que se põe em causa é a autêntica campanha política e ideológica montada a pretexto do 11 de Setembro. Ao analisarmos as «cerimónias oficiais», os discursos, as centenas de horas de televisão produzidas para esta data, as toneladas de folhas de jornais escritas, verificamos que o que aconteceu nestes dias não foi uma leitura séria e honesta dos acontecimentos, como aliás o demonstra, à partida, o facto de 10 anos passados se continuar a impedir uma cabal investigação científica e o esclarecimento sobre todas as causas e responsáveis dos atentados às torres gémeas e ao Pentágono e se continuar a insistir numa «versão oficial» plena de contradições, agindo-se conspirativamente contra todos aqueles que contestam a «versão oficial».

Mas, para além da insistência na «versão oficial», as cerimónias do 11 de Setembro foram uma demonstração inequívoca de como, passados 10 anos, as principais potências imperialistas e seus círculos dirigentes (com destaque para os EUA, que a fotografia e os discursos de Obama e Bush tão bem simbolizam) se aproveitam deste triste acontecimento para processar uma reedição revista e aumentada das teses que estiveram por detrás de uma das mais sangrentas décadas da História recente da Humanidade. Mas não só. O que se processou nestes dias – com especial empenho do prémio Nobel da Paz Obama – foi uma gigantesca operação de branqueamento dos crimes cometidos nestes 10 anos pelo imperialismo e uma reafirmação a uma só voz das classes dominantes que a política intervencionista, belicista e criminosa dos EUA e seus «aliados» é para continuar e intensificar. Tudo em nome do dito «combate ao terrorismo» e aos «terroristas islâmicos». Os mesmos «terroristas islâmicos» que voltam agora à «barriga da mãe» e assumem posições de destaque nas guerras do imperialismo norte-americano e da NATO, como é o caso do Afeganistão em que os EUA estão envolvidos numa vasta operação de «compra» de dirigentes taliban para eternizar o seu mandato colonial sobre este país, ou na Líbia em que a «cooperação» entre as forças da NATO e grupos islâmicos ligados à Al-Qaeda do Magrebe foi reconhecida pelos próprios EUA e em que o comando militar rebelde de Tripoli é atribuído a Abdel Hakim Belhadj, antigo «inimigo» dos EUA, que segundo o próprio foi torturado pela CIA e posteriormente entregue às autoridades líbias.

Mas tudo isto acontece por uma razão de fundo. É que o Mundo não mudou no 11 de Setembro, ele está em rápida mudança, com uma crise profundíssima do capitalismo que faz com que o capital e os seus mercenários engendrem as mais obscuras conspirações para contrariar o seu declínio económico e político.
  • Angelo Alves

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