sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

O SAPATO COMO MONUMENTO

Um monumento ao sapato acaba de ser inaugurado na cidade de Tikrit, no Iraque. O modelo do sapato é igual aos do jornalista Muntadhir Al Zaidi. A escultura, feita inteiramente em cobre, mostra os sentimentos do povo iraquiano para com Bush e o seu império.

O parto do monstro


O primeiro-ministro britânico disse esta semana que a actual crise do capitalismo (Brown não fala de capitalismo, evidentemente, isto sou eu já a meter a colherada...) deve ser vista como «as contracções dolorosas para dar à luz uma nova ordem mundial» e que a tarefa dos que hoje se encontram no poder é «nada mais nada menos do que permitir uma transição para uma nova ordem mundial em benefício de uma sociedade mundial em expansão».

Brown não explicou que coisa é essa da «sociedade mundial em expansão», mas a avaliar pelo que se passa no mundo, Grã-Bretanha incluída, não é difícil adivinhar. O país de sua majestade entrou em recessão na sexta-feira, mas na cartilha de Brown, para além dos discursos, parece não constar mais nada a não ser a contínua transferência de milhões e milhões de libras para o sector financeiro. Esta receita não é original e nem sequer nos é estranha, pelo que onde se diz Brown poder-se-ia dizer outra coisa, tipo Sarkozy, ou Sócrates, ou Merkel, que vai dar no mesmo. É só trocar as libras por euros e nem se dá pela diferença.

Numa semana negra para os trabalhadores de todo o mundo – e o pior ainda está para vir, repetem os bem informados, não vá a gente esquecer-se – e quando começa finalmente a aflorar na imprensa dita de referência que os «prejuízos» dos que encerram postos de trabalho para «fazer face à crise» são na verdade quebras de lucros, que ainda assim se contam por milhões e milhares de milhões (os lucros arrecadados, note-se), numa semana desta, dizia, é sintomático que um Brown qualquer fale de «dores do parto», quando quem se contorce – com dor, com angústia, com raiva – são os trabalhadores que ficaram ou estão em vias de ficar sem trabalho, ou seja, sem a sua forma de subsistência. Será caso para dizer que uns parem os monstros e outros sofrem as dores.

Do gabinete de Downing Street saiu ainda a informação de que Brown espera encontrar com os seus homólogos «a melhor maneira de poder trabalhar conjuntamente a nível internacional para reformar o sistema financeiro, a expansão económica e a criação de empregos em novos sectores como o ambiente». Onde raio é que já ouvimos isto?


  • Anabela fino



Uma semana no Líbano martirizado


Israel, pela sua ambição ilimitada, pela irracionalidade de uma estratégia de violência criminosa pode, sem tomar consciência, estar a abrir a sepultura para o Estado-nação criado artificialmente há 60 anos na Palestina. Uma nova diáspora judaica não é uma impossibilidade.”


Na minha idade as emoções são mais controladas e menos frequentes do que nos anos da juventude. O encontro com o Líbano rompeu essa tendência. Os breves dias que ali passei foram vividos em estado de tensão permanente, tocado por emoções muito fortes.

O contacto directo com o sofrimento dos povos palestiniano e libanês desencadeou em mim um sentimento de dor, uma sensação próxima da angústia, acompanhada de outro sentimento, que fundia a compreensão do ódio dos povos da Região ao sionismo com a frustração nascida da consciência da pobreza da solidariedade dos ocidentais progressistas às vitimas dos monstruosos crimes do Estado de Israel.

O primeiro choque foi produzido pelo ajustamento à realidade do quadro físico e humano imaginado. Quase tudo diferia daquilo que esperava encontrar.

  • Miguel Urbano Rodrigues

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009








Sete anos de Guantanamo



O governo português, que significativamente obstaculiza e “recusa admitir ou ver investigado” o apuramento das responsabilidades portuguesas nos ilegais voos da CIA para Guantanamo, ofereceu-se para receber em Portugal presos daquela prisão dos EUA em Portugal. Neste texto, André Levy, desmonta a manobra e coloca questões


André Levy*

A 11 de Janeiro cumpriram-se sete anos que os EUA montaram o campo de detenção na base naval da Baía de Guantanamo, na ilha de Cuba, onde têm aproveitado o vazio jurídico para deter, interrogar e torturar centenas de detidos, apelidados de «combatentes inimigos», privando-os dos direitos mais elementares, como o de saberem de que são acusados, terem acesso a um advogado de defesa, ou poderem contactar as suas famílias e informá-las da sua localização. As condições de detenção têm sido alvo de crítica por parte de inúmeros países, partidos, instituições e organizações de direitos humanos. O número de presos que se suicidaram ou tentaram o suicídio é segredo classificado.

Os detidos têm nacionalidades diversas e muitos foram alvo de «rendições extraordinárias» ilegais, algumas das quais através de aeroportos portugueses. Ao longo destes sete anos alguns dos detidos foram libertados após campanhas pela sua libertação. Tal tem sucedido sobretudo no caso da nacionalidade dos presos ser de países «amigos» dos EUA. As experiências recontadas por estes detidos é testemunho da violência exercida pelas forças armadas dos EUA no campo, e da arbitrariedade de que foram alvo muitos presos, cujo único «crime» foi estar no «local errado na altura errada». Veja-se, a título de exemplo, o filme «A Caminho de Guantanamo» (2006) que descreve como 4 amigos, cidadãos britânicos, que foram ao Paquistão para um casamento, cometeram o «erro» de visitar o país vizinho, o Afeganistão, dias antes da invasão dos EUA. Foram capturados pela Aliança do Norte, entregues aos EUA e transportados secretamente para Guantanamo, onde foram presos, interrogados e torturados durante três anos.

Ao longo dos seus dois mandatos, a administração Bush interrogou até ao tutano os presos e tentou julgá-los secretamente em tribunais militares. Somente em Junho de 2008 o Supremo Tribunal dos EUA reconheceu a estes detidos o direito às protecções concedidas pela Constituição dos EUA, incluindo o direito ao habeas corpus. O presidente eleito, Obama, anunciou que irá fechar Guantanamo. Embora esta decisão seja louvável, há que recordar que os EUA possuem outros campos espalhados pelo mundo, onde existem prisioneiros em condições semelhantes, sujeitos a tortura, sem poderem comunicar com advogado ou família, como o campo de Bagram, no Afeganistão, e dezenas de outras «prisões negras», algumas em navios circulando no alto mar, portanto em águas internacionais, em regime jurídico indefinido. Há que pôr fim a todos estes locais de detenção.

Destino incerto

O encerramento de Guantanamo levanta o problema do que fazer com os detidos. Alguns dos países da nacionalidade dos presos – não necessariamente o país onde foram apreendidos – recusam-se a recebê-los. Eis que Portugal, na linha da cooperação de Durão Barroso na Cimeira dos Açores, da cooperação com os voos da CIA para Guantanamo – que o actual Governo recusa admitir ou ver investigado – decide oferecer o nosso território como possível destino para alguns dos detidos cujos países nacionais se recusam a recebê-los. O ministro dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado, terá certamente querido dar maior pompa à sua declaração por ocasião do 60.º Aniversário da Declaração Universal dos Direitos do Homem (10/Dez.) [1]. Mas Amado, ofuscado pela oportunidade de ajudar o «amigo americano» e dar ares de grande humanitário, não terá certamente pensado em todas as consequências da sua oferta. Tal ficou claro quando os deputados do PCP lhe colocaram questões práticas durante uma sessão da Comissão Parlamentar de Negócios Estrangeiros. Amado não tinha respostas, gerando ainda mais interrogações.

Portugal, antes de mais, tem de tomar uma posição clara sobre a ilegalidade da detenção dos presos de Guantanamo. Depois, as instituições portuguesas têm de discutir porque haveria Portugal de descalçar esta bota aos EUA. Se os países de origem não aceitam os presos, porque não vão para os EUA? Naturalmente, o governo dos EUA receia o processo judicial de que, merecidamente, seria alvo por parte dos detidos, da compensação que lhes teria de dar, e da desculpa pública que teria de engolir. É para evitar isto aos EUA que Portugal os vai receber? E em que condições estariam eles em Portugal? É absolutamente inaceitável que em Portugal haja quaisquer limitações às suas liberdades e direitos: qual seria a base de sustentação legal nacional para o fazer? A estarem livres, o que os impediria de viajar para outros países da UE que não fizeram declarações gratuitas como as do Amado? Talvez Amado esteja a pensar deixá-los na ilha do Corvo sem um tusto.

* Biólogo

sábado, 24 de janeiro de 2009

O IRS não diminui com a nova tabela de renteções para 2009

  • Manipulação da opinião pública procurou criar a ideia falsa de que o imposto iria baixar







por Eugénio Rosa


RESUMO DESTE ESTUDO


Contrariamente aquilo que alguns jornais fizeram crer, a nova tabela de retenção de IRS para 2009, publicada recentemente pelo governo, não vai determinar qualquer diminuição no IRS que os trabalhadores terão de pagar relativamente às remunerações que receberem em 2009.

Vários jornas diários, por não dominarem a matéria ou intencionalmente, acabaram por participar na campanha de desinformação da opinião publica que o governo tem desenvolvido a pretexto das medidas contra a crise, medidas essa manifestamente insuficientes, nomeadamente as destinadas a apoiar os grupos da população com maiores dificuldades (desempregados, reformados, etc.) e, muitas delas, com conteúdo muito diferente daquele que o governo pretende fazer crer.

A propósito da nova tabela de retenção do IRS aprovado pelo governo, o Correio da Manhã de 21/01/2009 escreveu : "IRS dá mais dinheiro nos salários". E no Diário Económico pôde-se ler: " A generalidade dos trabalhadores vai descontar mensalmente menos IRS". E o Jornal de Negócios do mesmo dia afirmava: "A generalidade dos trabalhadores dependentes vai descontar mensalmente menos IRS este ano através das chamadas retenções na fonte, ficando com mais rendimento disponível por mês". A percepção que se obtém com a leitura de tal tipo de noticias não tem qualquer correspondência com a realidade. A falta de rigor jornalístico de muitas notícias é um aspecto chocante da realidade actual pois acabam por contribuir, objectivamente, para a gigantesca campanha de manipulação da opinião pública que este governo tem desenvolvido.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Cartas ao vazio ou eu acuso


Ao longo dos 60 anos da história da mártir Palestina ficámos a saber “quem é o genocida. Agora só nos falta identificar os seus cúmplices. Estes são muito mais numerosos e dão-lhe muita cobertura, inclusive sob a teia de modestas e limitadas críticas. (…) Sem os cúmplices, seiva de parasitas e afins, o genocida não teria razão de ser.



Pedro Prieto

Sempre que a imprensa e os media ao serviço do poder me permitem ver sair o fumo dos crematórios e dos maiores campos de concentração que alguma vez existiram, a fúria obriga-me a escrever cartas a essa imprensa cúmplice deste genocídio, cartas que ficam sistematicamente por publicar, num limbo mediático nada inocente. Falo do campo de concentração de Gaza (4 por 40 Km), muito maior que o campo de concentração de Auschwitz-Birkenau (2 por 3 km), e falo dos campos de concentração da Cisjordânia, muito superiores em presos e em extensão que os que os nazis instalaram na Polónia ocupada.



Governo à direita - lérias à «esquerda»


J. Sócrates apresentou a sua «moção global» ao XVI Congresso do PS que decorrerá no final de Fevereiro. Como era inevitável e foi orquestrado pela omnipresente mas dissimulada central de informações e comunicação do Governo, a moção foi valorizada nos media dominantes, pelos escribas ao serviço do poder económico, ou que cobrem os flancos do PS/Sócrates, como uma «viragem à esquerda».

Assim o impõe a agenda do PS e dos seus especialistas de manipulação para procurar minorar o desgaste político (e eleitoral) na sua base de apoio, para prosseguir na utilização desenfreada da crise económica e social, em que - ao contrário do que diz o Primeiro Ministro - lhe assistem elevadíssimas responsabilidades, para se vitimizar, para fabricar a interiorização massiva do medo da crise, como instrumento para a resignação dos trabalhadores, para permitir a fuga às responsabilidades e o aprofundamento das suas políticas estruturantes de concentração de capitais e riqueza, para - se possível for - modificar em seu proveito o calendário eleitoral e mistificar as eleições.

Desde há muitos anos que o PS se faz de esquerda nas moções dos futuros líderes - Sócrates no XIV e XV Congressos era por «modernizar Portugal» e pela «esquerda moderna», agora no XVI é pelo «PS, força da mudança» - e assim tem sido nas «novas fronteiras» e nas eleições. São momentos instrumentais, para o ilusionismo eleitoralista, para enganar incautos e descansar consciências, uma espécie de intróito, que todos sabem destinado a novos avanços na política de direita, até se chegar a este Governo e à política mais à direita depois de Abril.

Uma «viragem à esquerda» não se faz de mais promessas falsas, como a de «reduzir desigualdades sociais» do Governo que é responsável pelo seu agravamento brutal e pela salvação dos banqueiros, como a de combater o neoliberalismo o Governo campeão da dogmática do défice, das privatizações e da reconfiguração do Estado.

Uma política de esquerda não se faz de 3 medidas avulsas aceitáveis, mas esvaziadas de substância e fora de contexto, ou de paleio contra os offshores, cuja concretização fica a depender das grandes potências.

Em Portugal-2009, uma «viragem à esquerda» é possível. Faz-se da luta de massas, do reforço do PCP, da ruptura democrática e da construção da alternativa – contra esta política e o Governo PS/Sócrates.
  • Carlos Gonçalves


quarta-feira, 21 de janeiro de 2009



O brutal ataque que o governo de Israel desencadeou sobre a população da Faixa de Gaza a 27 de Dezembro, traduziu-se num criminoso massacre, numa destruição e numa catástrofe humanitária sem precedentes. Mais de 1300 palestinianos foram mortos, entre os quais 417 crianças e 107 mulheres cobardemente assassinados.

Exigimos o fim dos massacres que há mais de 60 anos são perpetrados contra o povo palestiniano Os bombardeamentos e a invasão foram mais um exemplo da política de terrorismo de Estado de Israel numa guerra desigual contra o povo da Palestina e contra o seu inalienável direito a construir o seu Estado independente e soberano em solo da Palestina. As bombas deixaram de cair na Faixa de Gaza mas a actual situação de cessar-fogo é frágil. As declarações e discursos políticos de Israel não dão qualquer garantia de que novos massacres não voltem a acontecer.

O espectro da reocupação de Gaza permanece actual, o criminoso bloqueio ao território mantém-se, tal como permanece a ocupação da Palestina, a construção dos colonatos, o muro de separação e o autêntico genocídio do povo palestiniano. As bombas deixaram de cair mas a Paz não chegou ao Médio Oriente. Essa só terá lugar com o reconhecimento dos direitos nacionais do povo palestiniano, com o estabelecimento do Estado da Palestina nas fronteiras anteriores à guerra de ocupação de 1967, com capital em Jerusalém Leste. A luta continua por uma Palestina livre e independente!

As organizações promotoras da Manifestação que tem lugar em Lisboa, no Largo Camões, no dia 24 de Janeiro, às 15 horas, apelam a todos os homens e mulheres de paz que unam as suas vozes em solidariedade com o povo palestiniano que resiste e luta:

Pelo Fim dos massacres do Povo Palestiniano!

Pela investigação e processamento dos responsáveis israelitas pelos crimes de guerra e contra a Humanidade!

Pelo Fim ao Bloqueio a Gaza!
Pelo Fim à Ocupação da Palestina !

Por uma Paz Justa e duradoura no Médio Oriente!
CONTINUA A SAGA - AMARAL /OLHÃO








O Exame da Dona Rosete


A Dona Rosete é porteira há mais de 40 anos. Como boa observadora que é, um dia lembrou-se de ser comentadora.É ouvi-la falar de tudo e todos… E nada escapa ao exame da Dona Rosete!" Com Maria Rueff.Ouça aqui a bem disposta opinião da Dona Rosete sobre a candidatura de Gonçalo Amaral á Câmara Municipal de Olhão: Ouvir.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Operação chumbo impune


Tudo indica que esta carnificina de Gaza, que segundo seus autores pretende acabar com os terroristas, conseguira multiplicá-los. Desde 1948, os palestinos vivem condenados à humilhação perpétua. Não podem nem respirar sem autorização.

Perderam a sua pátria, as suas terras, a sua água, a sua liberdade, perderam tudo.
Nem sequer têm direito a eleger os seus governantes.

Quando votam em quem não devem votar, são castigados. Gaza está a ser castigada. Converteu-se numa ratoeira sem saída. Algo semelhante ao que ocorreu em 1932, quando o Partido Comunista triunfou nas eleições de El Salvador.

Banhados em sangue, os salvadorenhos expiram o seu mau comportamento e desde então viveram submetidos a ditaduras militares.
A democracia é um luxo que nem todos merecem

São filhos da impotência os foguetes caseiros que os militantes do Hamas, encurralados em Gaza, disparam com má pontaria sobre as terras que haviam sido palestinas e que a ocupação israelense usurpou. E o desespero, à margem da loucura suicida, é a mãe das bravatas que negam o direito de Israel à existência, gritos sem nenhuma eficácia, enquanto a muito eficaz guerra de extermínio está a negar, desde há anos, o direito à existência da Palestina.

Já pouca Palestina resta. Passo a passo, Israel está a apagá-la do mapa. Os colonos invadem e atrás deles os soldados vão corrigindo a fronteira. As balas sacralizam o roubo, em legítima defesa. Não há guerra agressiva que não diga ser guerra defensiva. Hitler invadiu a Polónia para evitar que a Polónia invadisse a Alemanha. Bush invadiu o Iraque para evitar que o Iraque invadisse o mundo. Em cada uma das suas guerra defensivas, Israel devorou outro pedaço da Palestina, e os almoços prosseguem. A devoração justifica-se pelos títulos de propriedade que a Bíblia concedeu, pelos dois mil anos de perseguição que o povo judeu sofreu e pelo pânico que geram os palestinos à espreita.

Israel é o país que jamais cumpre as recomendações nem as resoluções das Nações Unidas, o que nunca acata as sentenças dos tribunais internacionais, o que se burla das leis internacionais, e é também o único país que legalizou a tortura de prisioneiros. Quem lhe deu o direito de negar todos os direitos? De onde vem a impunidade com que Israel está a executar a matança de Gaza? O governo espanhol não terá podido bombardear impunemente o País Vasco para acabar com a ETA, nem o governo britânico terá podido arrasar a Irlanda para liquidar o IRA.

Acaso a tragédia do Holocausto implica uma apólice de eterna impunidade? Ou esse sinal verde provém da potência mandona que tem em Israel o mais incondicional dos seus vassalos?

O exército israelense, o de armamento mais moderno e refinado do mundo, sabe a quem mata. Não mata por erro. Mata por horror. As vítimas civis chamam-se danos colaterais, conforme o dicionário de outras guerras imperiais. Em Gaza, de cada dez danos colaterais, três são crianças. E somam milhares os mutilados, vítimas da tecnologia do esquartejamento humano, que a indústria militar está a ensaiar com êxito nesta operação de limpeza étnica.

E como sempre, sempre o mesmo: em Gaza, cem a um. Por cada cem palestinos mortos, um israelense.

Gente perigosa, adverte o outro bombardeamento, a cargo dos meios maciços de manipulação, que nos convidam a acreditar que uma vida israelense vale tanto como cem vidas palestinas. E esses meios também nos convidam a acreditar que são humanitárias as duzentas bombas atómicas de Israel, e que uma potência nuclear chamada Irão foi a que aniquilou Hiroshima e Nagasaki.

A chamada comunidade internacional, existe? Será algo mais que um clube de mercadores, banqueiros e guerreiros? Será algo mais que o nome artístico que os Estados Unidos se põem quando fazem teatro? Perante a tragédia de Gaza, a hipocrisia mundial brilha mais uma vez. Como sempre, a indiferença, os discursos vazios, a declarações ocas, as declarações altissonantes, as posturas ambíguas rendem tributo à sagrada impunidade.

Perante a tragédia de Gaza, os países árabes lavam as mãos. Como sempre. E como sempre, os países europeus esfregam as mãos. A velha Europa, tão capaz de beleza e de perversidade, derrama uma ou outra lágrima, enquanto secretamente celebra esta jogada de mestre. Porque a caça de judeus foi sempre um costume europeu, mas desde há meio século essa dívida histórica está a ser cobrada aos palestinos, que também são semitas e que nunca foram, nem são, anti-semitas. Eles estão a pagar, em sangue contante a sonante, uma conta alheia.

(Este artigo é dedicado aos meus amigos judeus assassinados pelas ditaduras latino-americanas que Israel assessorou).

  • Eduardo Galeano

domingo, 18 de janeiro de 2009

ARY SEMPRE

Original é o poeta

que se origina a si mesmo

que numa sílaba é seta

noutro pasmo ou cataclismo

o que se atira ao poema

como se fosse um abismo

e faz um filho ás palavras

na cama do romantismo.

Original é o poeta

capaz de escrever um sismo.

Original é o poeta

de origem clara e comum

que sendo de toda a parte

não é de lugar algum.

O que gera a própria arte

na força de ser só um

por todos a quem a sorte faz

devorar um jejum.

Original é o poeta

que de todos for só um.

Original é o poeta

expulso do paraíso

por saber compreender

o que é o choro e o riso;

aquele que desce á rua

bebe copos quebra nozes

e ferra em quem tem juízo

versos brancos e ferozes.

Original é o poeta

que é gato de sete vozes.

Original é o poeta

que chegar ao despudor

de escrever todos os dias

como se fizesse amor.

Esse que despe a poesia

como se fosse uma mulher

nela emprenha a alegria

de ser um homem qualquer.

CARTA A OBAMA
1220 MORTOS DEPOIS


Depois de 22 dias de bombardeamento da força aérea, que em 2500 raids despejaram 1000 toneladas de bombas e fósforo branco sobre o martirizado povo palestino (sem contar o que foi lançado pela artiharia, tanques, infantaria e canhoneiras), o estado nazi-sionista anuncia que vai suspender o seu ataque.

Mas reserva-se o direito de reinicia-lo quando muito bem lhe apetecer. Os 1220 mortos e 5500 feridos na Faixa de Gaza ainda não satisfizeram o governo sionista. É apenas uma suspensão para não constranger Obama no dia da sua posse como presidente. Desta guerra genocida contra um povo indefeso já se podem fazer algumas constatações:

1) A bravura, dignidade e coragem do governo legítimo do Hamas e das demais organizações democráticas e progressistas do povo palestino, como a FDLP , que não se renderam ao agressor sionista.

2) O papel vergonhoso desempenhado pela Autoridade Palestina encabeçada pelo sr. Abbas, que se comportou como o cúmplice amestrado do imperialismo e do governo sionista.

3) A atitude dúbia ou conivente de muitos países árabes, particularmente o governo egípcio.

4) O papel hipócrita do governo português (e da UE) pondo em pé de igualdade o criminoso e a vítima.

5) O dever moral das instituições internacionais de levar a julgamento os responsáveis pelos crimes de guerra israelenses.

6) O facto de que o povo de Gaza, agora com as suas infraestruturas destruídas, continua submetido a um cerco que visa dizimá-lo pela fome, pela falta de assistência médica e de tudo o mais.

7) A realidade de que o problema continua por resolver e que continua a ser indispensável a criação de um Estado Palestino, autónomo, livre e democrático.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Carta ao embaixador de Israel em França



Senhor Embaixador,

Para vós é shabat, que devia ser um dia de paz mas que é o da guerra. Para mim, e desde há vários anos, a colonização e o roubo israelense das terras palestinas exaspera-me. Escrevo-vos pois a vários títulos, como francês, como judeu de nascimento e como artesão dos acordos entre a Universidade de Nice e a de Haifa.

Não é mais possível calar diante da política de assassinatos e de expansão imperialista de Israel. Vós vos conduzis exactamente como Hitler se conduziu na Europa com a Áustria, a Checoslováquia. Desprezais as resoluções da ONU tal como ele as da Sociedade das Nações e assassinais impunemente mulheres e crianças; não invoqueis os atentados, a Intifada. Tudo isso resulta da colonização ILEGÍTIMA e ILEGAL. QUE É UM ROUBO.

Vós vos conduzis como ladrões de terras e virais as costas às regras da moral judia.

Vergonha para vós: Vergonha para Israel! Cavais a vossa tumba sem vos dar conta. Pois estais condenados a viver com os palestinos e os estados árabes. Se vos falta esta inteligência política, então sois indigno de fazer política e vossos dirigentes deveriam ir para a reforma. Um país que assassina Rabin, que glorifica seu assassino, é um país sem moral e sem honra. Que o céu e que o vosso Deus leve à morte Sharon o assassino. Haveis sofrido uma derrota no Líbano em 2006. Sofrereis outras, espero, e enviais à morte os jovens israelenses porque não tendes a coragem de fazer a paz.

Como os judeus que tanto sofreram podem imitar os seus carrascos hitlerianos? Para mim, desde 1975, a colonização recorda-me velhas lembranças, aquelas do hitlerismo. Não vejo diferença entre vossos dirigentes e os da Alemanha nazi.

Pessoalmente, vou combater-vos com todas as minhas forças como o fiz entre 1938 e 1945 até que a justiça dos homens destruísse o hitlerismo que está no coração do vosso país. Vergonha a Israel. Espero que o vosso Deus lançará contra os seus dirigentes a vingança que eles merecem. Tenho vergonha como judeu, antigo combatente da II Guerra Mundial, por vós. Que o vosso Deus vos maldiga até o fim dos séculos! Espero que sejais punidos.

  • André Nouschi, Professor honorário da Universidade.

    [*] Historiador, 86 anos, originário de Constantine (Argélia). Foi combatente da France Libre e é autor de um livro sobre o nível de vida das populações rurais de Constantine durante o período colonial até 1919 (PUF, 1961). Este livro foi saudado na altura pelo ministro do Governo Provisório da República Argelina (GPRA) e historiador argelino Ahmed Tafiq al-Madanî como "a gota de água que se oferece ao viajante após a travessia do deserto". Foi professor na Universidade de Tunis e é professor honorário da Universidade de Nice.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

ENTREGA DA MEDALHA
A ÁLVARO URIBE


RECORD MUNDIAL DE ASSASSSINATOS DE SINDICALISTAS!


Inconstitucionalidades no Código do Trabalho


A ponta do icebergue


Uma «clara derrota política» do Governo, assim foi classificada pelos comunistas a declaração de inconstitucionalidade da norma do Código do Trabalho que alarga de 90 para 180 dias o período experimental para a generalidade dos trabalhadores.

«Avisámos que se tratava de uma clara violação da Constituição», referiu o deputado comunista Jorge Machado, falando no plenário da Assembleia da República, na passada semana, após a leitura da mensagem do Presidente da República sobre a devolução sem promulgação do Código do Trabalho.

Pronunciando-se em nome da sua bancada sobre o «chumbo» do Tribunal Constitucional àquela norma, o parlamentar do PCP fez notar não ser caso único, defendendo que existem outras disposições no diploma que também vão contra a Lei Fundamental.

«O alargamento do trabalho experimental é apenas a ponta do icebergue», enfatizou, antes de enumerar outras questões que na opinião dos comunistas enfermam igualmente de inconstitucionalidade, como é por exemplo a «desregulação do horário laboral».

No mesmo sentido foi a posição assumida pelo deputado ecologista Francisco Madeira Lopes, que lamentou o facto de o Presidente da República ter apenas solicitado a fiscalização preventiva de uma norma. «Muito mais havia e há que viola a Constituição», frisou.

Na base da declaração de inconstitucionalidade da referida norma, proferida a 23 de Dezembro, o Tribunal Constitucional sustentou que a mesma viola o direito à segurança no emprego e o princípio da proporcionalidade. O pedido de fiscalização preventiva da norma havia sido solicitado por Cavaco Silva a 12 de Dezembro.

Face a estes desenvolvimentos, gorada foi para já a entrada em vigor do Código do Trabalho que, nos planos do PS, estava prevista para 1 de Janeiro último.

Servida em biberão


O que se esperava aconteceu: Cristiano Ronaldo foi reconhecido como o melhor jogador de futebol do mundo no ano de 2008.

Gostei e achei justo. No que me diz respeito tenho a agradecer ao jovem futebolista português alguns dos mais belos momentos de futebol a que me foi dado assistir, graças ao seu notável talento, à sua singular imaginação criadora, à sua espantosa capacidade de fazer com a bola o que não vejo ser feito por mais ninguém. E estou em crer que todas as qualidades naturais de Ronaldo foram postas ao serviço de uma enorme vontade de ser (o) melhor – certamente através de muito trabalho, de muito esforço, de muita determinação, de muita perseverança.

E tão bonito como é ver o Ronaldo a jogar futebol – um espectáculo! – foi ver a sua comoção de lágrimas nos olhos no momento da consagração; foi ouvir o seu discurso, dedicando o prémio à família (e especificando: «à minha mãe, ao meu pai, aos meus irmãos»), aos amigos, aos colegas e ao treinador da sua equipa; foi ouvi-lo dizer, em jeito de promessa e de certeza: «espero cá voltar» - e foi, muito especialmente, aquele sinal para a família: «podem deitar os fogos»…

Ora, estavam as coisas neste pé do justo, do bonito e do comovente, eis que irrompe televisão adentro o inimitável, o inimaginável, o inenarrável Alberto João Jardim.

Boçal como só ele e com aquele seu ar que, seja em que circunstâncias for, o faz parecer acabado de emborcar sucessivas ponchas na festança de Chão da Lagoa, Jardim bolsou que o êxito do jovem futebolista se deve à política para o desporto praticada pelo Governo Regional da Madeira, uma política que rejeita as perversas teses da massificação do desporto, e por aí fora.

Ficámos assim a saber que, segundo o irremediável Jardim, o futebolista Cristiano Ronaldo – o melhor do mundo em 2008, para alegria de todos nós - é um produto dele, Jardim, e da sábia política desportiva do seu Governo.

Uma política que há-de ter sido servida em biberão, já que Ronaldo entrou, criança de 11 anos, nas escolas de formação do Sporting – de onde, aos 17 anos, foi chamado à equipa principal do Clube…
  • José Casanova

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009






RESUMO DESTE ESTUDO

O governo e, nomeadamente, o 1º ministro Sócrates, têm procurado fazer passar a mensagem de que o governo vai aumentar a despesa pública, nomeadamente, o investimento publico em 2009 para assim reduzir os efeitos da crise, nomeadamente no campo do desemprego. Mas isso não corresponde à verdade com mostram os dados oficiais constantes do Parecer do Tribunal de Contas sobre a Conta Geral do Estado de 2007, do Relatório que acompanha o Orçamento do Estado para 2009, e do Boletim Económico do Banco de Portugal de Inverno de 2008.

O Banco de Portugal, no seu Boletim Económico de Inverno de 2008, prevê para 2009 uma forte quebra do crescimento do Consumo Privado (0,4%, que é menos de um terço da taxa registada em 2008), uma variação negativa no investimento total (-1,7%, que é uma quebra dupla da verificada em 2008), e uma diminuição muito acentuada nas exportações portuguesas em 2009 (menos -3,6% do que o valor de 2008). Apesar deste forte decréscimo verificado na despesa privada e nas exportações, o Banco de Portugal prevê uma diminuição no Consumo Público de menos -0,1% relativamente ao verificado em 2008. É evidente, que esta quebra no consumo público, associada à diminuição da taxa de crescimento do consumo privado e à quebra acentuada das exportações, contribuirá para um maior agravamento da crise económica e social.

Situação semelhante se verifica no investimento público. E isto porque o investimento previsto no PIDDAC para 2009 é inferior, ao de 2003, em -25,8% em valores nominais, e em -34,9% a preços de 2003, que se obtém deduzindo o efeito do aumento de preços verificado entre 2003 e 2009. O valor de 2009, e é também inferior ao registado em 2007 em cerca de 500 milhões de euros. Mesmo o reduzido aumento que se verifica em 2009, relativamente a 2008, não compensa a quebra continuada registada no investimento público com este governo, devido à obsessão de reduzir o défice orçamental mesmo à custa das infra-estruturas básicas do País.

Por outro lado, e como o Parecer do Tribunal de Contas revela, uma coisa é o investimento previsto e outra coisa, bem diferente, é o investimento realizado. E tem-se verificado, após a tomada de posse do actual governo, a nível do PIDDAC, que é o programa de investimento mais importante do Estado, uma taxa de execução muito baixa. No período 2003-2004, portanto antes da tomada de posse deste governo, ela foi sempre superior a 73%, enquanto no período posterior (2005-2007) ela foi sempre inferior a 67% atingindo, em 2007, apenas 65,8% do previsto.

Face a esta diferença significativa que se tem verificado sempre, e mais com este governo, entre o previsto e o realizado, e ao insuficiente investimento público anunciado pelo governo para 2009, é de prever que os seus efeitos no combate à recessão e ao aumento do desemprego sejam extremamente reduzidos, apesar das múltiplas declarações do governo em contrário, que só podem ser interpretadas como a intenção de esconder esse facto.


  • Eugénio Rosa

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

MANIFESTAÇÃO EM LISBOA



Apesar do frio (6º C), quase 2000 pessoas protestaram dia 8 frente à Embaixada de Israel em Lisboa. O protesto contra o massacre em curso do povo palestino de Gaza reuniu os apoios de mais de uma centena de organizações. Falaram na manifestação representantes da CGTP-IN, do CPPC, do MPPM, do Tribunal Iraque e outras entidades.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009


Como é possível?


Como é possível tanto desprezo pela vida e pela dignidade humana? Como é possível tão frontal e contumaz violação da legalidade internacional e dos direitos humanos mais elementares?

Como é possível que há mais de sessenta anos o povo palestiniano veja negado o reconhecimento do seu próprio Estado independente e soberano e que, ano após ano, continue prisioneiro e barbaramente perseguido na sua própria pátria?

Como é possível que o «mundo ocidental» e a «comunidade internacional» permitam, qualquer que seja o pretexto invocado, que a faixa de Gaza, território ocupado que as tropas israelitas se viram forçadas a abandonar pela luta heróica do seu povo, se tenha transformado num imenso campo de concentração, uma autêntica Auschwitz de novo tipo?

Como é possível que um Estado que nasceu expulsando pela violência e o terror centenas de milhares de palestinianos dos seus lares, e que pratica sistematicamente o terrorismo de Estado, seja ainda hoje, após tantos e tão monstruosos crimes (como o bombardeamento de Beirute ou o complot com os fascistas libaneses nos massacres de Sabra e Shatila) cinicamente apresentado como vítima do «terrorismo», ontem da OLP, hoje do Hamas, força que ele próprio ajudou a erguer contra o movimento nacional palestiniano?

Como é possível que um Estado enfeudado a uma ideologia racista e expansionista, o sionismo, altamente militarizado, dispondo da arma nuclear e ameaçando utilizá-la, não só não seja objecto de quaisquer sanções, como seja o principal beneficiário da ajuda financeira e militar dos EUA (a que se seguem o Egipto e a Colômbia) e mantenha um privilegiado «Acordo de Associação» com a União Europeia?

É possível porque o heroísmo do povo palestiniano não pode por si só derrotar tão cruel e poderoso inimigo. Porque a solidariedade das massas árabes e muçulmanas, que se tem manifestado nestes dias em grandes acções de protesto e indignação, não encontra tradução a nível de governos geralmente reaccionários e enfeudados ao imperialismo. Porque, na sequência dos acordos de Oslo, a que o PCP desde o primeiro momento se opôs, se enfraqueceu e foi mesmo posta em causa a posição da OLP como única e legítima representante do povo palestiniano, ao ponto de Israel não esconder a esperança de encontrar no campo palestiniano interlocutores que claudiquem e traiam o seu próprio povo. Tudo isto dificulta extraordinariamente uma resposta firme e unida aos adversários da causa nacional palestiniana. E tanto mais quanto a correlação de forças no plano internacional é ainda desfavorável às forças do progresso social e da paz e Israel, como o comprova toda a sua existência, é um instrumento imprescindível ao imperialismo na sua estratégia de tensão, desestabilização e domínio do Médio Oriente com tudo o que isso representa na luta pelo controlo dos recursos petrolíferos da região e na expansão imperialista em curso na Ásia Central em que avulta – interligada com a situação no Iraque e as pressões contra a Síria e o Irão - a intensificação da guerra no Afeganistão.

É esta a questão central em nome da qual o capitalismo não recua diante das maiores mentiras e se auto-absolve dos piores crimes, e em torno da qual, apesar de reais contradições, EUA e UE se dão as mãos sujas do sangue de milhares e milhares de crianças, mulheres e homens cujo único crime é amarem a sua terra e recusarem a rendição.

Entretanto a profunda crise do capitalismo que aí está obriga a observar a criminosa ofensiva israelita também pelo ângulo do agravamento no plano internacional dos factores de tensão e de guerra. É nela que jogam os sectores mais reaccionários do capital como saída para a crise, para a destruição do capital sobre acumulado perante a pauperização crescente das massas. A esta luz a corajosa resistência do povo mártir da Palestina adquire ainda maior importância. E a nossa solidariedade para com a sua justa causa libertadora também. Com ela o povo palestiniano vencerá.


  • Albano Nunes

A medalha de quê?


Chega a notícia de que Bush, antes de abandonar a Casa Branca, irá condecorar com a «medalha da liberdade» várias personalidades políticas - entre elas o ex-primeiro ministro britânico Blair e o ainda presidente da Colômbia, Uribe.

Se tivermos em conta o conceito de liberdade de Bush, é fácil perceber a lógica que presidiu à selecção dos dois premiados, bem como à categoria da medalha escolhida.

Blair, enquanto chefe do governo da Grã-Bretanha, foi um verdadeiro homem de mão de Bush e o seu mais fiel servidor e cúmplice na destruição e ocupação de países e numa infindável vaga de crimes que tiraram a vida a centenas e centenas de milhares de seres humanos - pelo que a «medalha da liberdade» fica-lhe mesmo a matar…

O mesmo se pode dizer em relação ao segundo premiado – o narco-fascista Uribe – para o qual a dita medalha é o justo prémio por uma vida ao serviço da liberdade, da democracia e dos direitos humanos.

Senão vejamos: Uribe é o presidente de um país onde são assassinadas, em média, sete pessoas por dia - o que significa que, desde que chegou ao poder, foram assassinados cerca de 15 mil colombianos, na sua maioria sindicalistas, activistas dos direitos humanos e outros perigosos terroristas. Também a situação da Colômbia em matéria de presos políticos e de tratamento nas prisões – ou seja, de respeito pelos direitos humanos - há-de ter pesado na decisão de Bush de atribuir a «medalha da liberdade» a Uribe: nos primeiros dez meses de 2008, 932 presos políticos foram submetidos a torturas, em consequência das quais morreram 731.

A atribuição da «medalha da liberdade» a Uribe, é justificada, ainda, por uma outra situação muito característica da democracia colombiana: a questão dos «deslocados», que se calcula que sejam uns 4, 5 milhões. São camponeses obrigados a ferro e fogo a abandonar as suas terras das quais, depois, os que os expulsam se apropriam – e já lá vão cerca de cinco milhões de hectares de terras libertadas.

Esperemos que, entre os premiados, não faltem governantes israelitas, também eles exímios exterminadores implacáveis e, por isso, dignos merecedores da «medalha da liberdade de Busch».
  • José Casanova

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

GAZA
«Hipocrisia sangrenta»


Altos responsáveis de países que se consideram faróis da «civilização» multiplicam apelos à «contenção» e ao«cessar-fogo» em Gaza, como quem procura assim cumprir uma obrigação perante o «agravamento da crise» no Médio Oriente. A hipocrisia de presidentes, ministros, diplomatas ou porta-vozes é tão óbvia como de costume, mas ainda consegue ser chocante tendo em consideração a tragédia que vitima mais de um milhão de meio de pessoas amontoadas num pequeno território inóspito aferrolhado entre Israel, o Egipto e o Mediterrâneo.

Tais apelos baseiam-se na objectividade de um pretenso distanciamento entre as «partes em conflito», assim se exigindo uma rigorosa simetria de comportamentos como numa guerra convencional entre exércitos clássicos. Simetria, pois, entre civis indefesos e as forças armadas que ocupam o quarto lugar no ranking das mais poderosas do mundo; entre ocupados e ocupantes; entre morteiros mais ou menos artesanais e o poder de fogo dos F-16 e dos tanques de última geração; entre comunidades famintas sujeitas há anos a um feroz bloqueio de bens essenciais e uma nação estruturada apoiada sem limites pelo mais poderoso país do planeta; entre as vítimas e respectivos descendentes de uma limpeza étnica e os ses autores.

O Hamas quebrou a trégua e tem de pagar, devendo desde já sujeitar-se ao regresso ao cessar-fogo faça o inimigo o que fizer, sentenciam os diplomatas civilizados. Trégua que verdadeiramente nunca existiu, uma vez que foi desde logo desrespeitada pelo Estado de Israel ao violar um dos seus pressupostos essenciais: o fim do bloqueio humanitário a Gaza. Durante os últimos seis meses o cerco não apenas se manteve como se apertou.

Como movimento terrorista, o Hamas tem que pagar, dirão ainda e sempre os civilizados senhores do poder de distinguir os que são e os que não são terroristas, do mesmo modo que lançam guerras contra possuidores de armas de extermínio que nunca existiram.

O Hamas, porém, praticamente não era nada quando se iniciou a primeira Intifada palestiniana, em fins de 1988. Hoje, o papel dos serviços secretos de Israel na criação efectiva de um movimento islâmico, o Hamas, para dividir a resistência nacional palestiniana dirigida pela Organização de Libertação da Palestina (OLP) já nem é sequer um segredo de Polichinelo. Os interessados em aprofundar o assunto poderão começar por pesquisar através da obra de Robert Dreyfuss e começar a desenrolar o novelo. Descobrirão elementos muito interessantes e com flagrante actualidade.

A verdade é que de grupinho divisionista e terrorista o Hamas se transformou num movimento que, tirando dividendos dos fracassos sucessivos do chamado processo de paz, boicotado por Israel e Estados Unidos e assumido pela Fatah como única opção estratégica, conseguiu ganhar as eleições parlamentares palestinianas em 2006. O Hamas cresceu com as estratégias militaristas em redor, como os talibãs no Afeganistão (agora controlando zonas a menos de 50 quilómetros de Cabul) ou o Hezbollah no Líbano, fruto das invasões israelitas da década de oitenta.

Reconhecer que o Hamas é agora uma realidade evidente no problema israelo-palestiniana não significa fraqueza, simpatia ou conivência com o terrorismo. É, prosaicamente, uma simples questão de senso comum.

As eleições de 2006, proclamaram os observadores internacionais, muitos deles oriundos das terras «civilizadas», foram livres e justas. Logo, ao Hamas coube formar governo – diz-se que é assim que funciona a democracia.

Engano puro. A chamada «comunidade internacional» decidiu não reconhecer o governo escolhido pela maioria dos palestinianos; nem sequer aceitou uma aliança entre o Hamas e a Fatah, que praticamente fazia o pleno da vontade dos eleitores. Pelo contrário, também não são segredo as diligências da administração de George W. Bush e do governo israelita de Ehud Olmert para lançar a guerra civil entre as duas principais organizações palestinianas – chegando, para isso, a fornecer armas à Fatah – fazendo simultaneamente por ignorar o acordo entretanto estabelecido pelos dois movimentos sob mediação do Egipto e da Arábia Saudita.

Este processo conduziu à divisão palestiniana: a Fatah na Cisjordânia e Jerusalém Oriental, dependente do que Israel lhe permite ou não fazer; e o Hamas controlando Gaza, território dos seus principais feudos. Daí ao bloqueio a Gaza e, agora, à invasão, foi um pequeno salto.

O massacre está em curso, assistindo-se na comunicação social a tão curiosos como ridículos esforços para distinguir entre vítimas civis e militares. Em Gaza, para que conste, não há militares, a não ser os invasores. Existem restos da polícia autonómica, militantes do Hamas armados e organizados como milícias. O resto é milhão e meio de desempregados, famintos e humilhados. Tal é o inimigo de Israel que lançou alguns morteiros, por exemplo contra a cidade de Asqelon, que em 1948 se chamava Al-Majdal e era uma aldeia árabe cuja população, vítima da limpeza étnica em que assentou a criação do Estado de Israel, se refugiou em Gaza.

Os dirigentes de Israel asseguram que os «civis» serão poupados durante a invasão. Tal como aconteceu em 1982 em Beirute, onde os militares comandados por Ariel Sharon, fundador do partido de Ehud Olmert e Tzipi Livni, destruíram o sector ocidental da cidade, acabando por patrocinar os massacres de Sabra e Chatila. Ou em 1996, quando Shimon Peres, actual presidente israelita, foi responsável pelo massacre de Canan, também no Líbano, e mesmo assim perdeu as eleições parlamentares.Gaza, ainda assim, será diferente de Sabra e Chatila. Agora, os soldados israelitas sujam mesmo as mãos com o sangue das populações indefesas – salpicando inevitavelmente os hipócritas que os defende.

  • José Goulão

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

GAZA

Publicamos um texto do escritor português José Saramago, Prémio Nobel da Literatura, sobre a criminosa actuação de Israel na Faixa de Gaza com a cumplicidade dos governos da União Europeia e dos Estados Unidos.
José Saramago - 30.12.08

A sigla ONU, toda a gente o sabe, significa Organização das Nações Unidas, isto é, à luz da realidade, nada ou muito pouco. Que o digam os palestinos de Gaza a quem se lhes estão esgotando os alimentos, ou que se esgotaram já, porque assim o impôs o bloqueio israelita, decidido, pelos vistos, a condenar à fome as 750 mil pessoas ali registadas como refugiados. Nem pão têm já, a farinha acabou, e o azeite, as lentilhas e o açúcar vão pelo mesmo caminho. Desde o dia 9 de Dezembro os camiões da agência das Nações Unidas, carregados de alimentos, aguardam que o exército israelita lhes permita a entrada na faixa de Gaza, uma autorização uma vez mais negada ou que será retardada até ao último desespero e à última exasperação dos palestinos famintos. Nações Unidas? Unidas? Contando com a cumplicidade ou a cobardia internacional, Israel ri-se de recomendações, decisões e protestos, faz o que entende, quando o entende e como o entende. Vai ao ponto de impedir a entrada de livros e instrumentos musicais como se se tratasse de produtos que iriam pôr em risco a segurança de Israel. Se o ridículo matasse não restaria de pé um único político ou um único soldado israelita, esses especialistas em crueldade, esses doutorados em desprezo que olham o mundo do alto da insolência que é a base da sua educação. Compreendemos melhor o deus bíblico quando conhecemos os seus seguidores. Jeová, ou Javé, ou como se lhe chame, é um deus rancoroso e feroz que os israelitas mantêm permanentemente actualizado.Publicado em O Caderno de Saramago dia 22 de Dezembro de 2008

Repúdio global


Contra o genocídio que Israel promove na Faixa de Gaza, centenas de milhares de pessoas manifestam-se em todo o mundo exigindo o fim imediato dos bombardeamentos e solidarizando-se com o povo palestiniano.

Protestos ocorrem desde sábado em Caracas, Beirute, Paris, Copenhaga, Estocolmo, Londres, Helsínquia, Madrid, em Istambul e outras cidades da Turquia, na Jordânia, Síria, Líbia, Paquistão, Bangladesh, Teerão, no Dubai, em Bagdad, Mossul e várias cidades iraquianas, no Cairo, ou em Santiago do Chile. Nos EUA, um protesto junto à sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, exigiu o fim do massacre.

Em Portugal, a CGTP-IN e o CPPC emitiram comunicados condenando o massacre na Faixa de Gaza. A central sindical sublinha que nada pode justificar este crime de guerra e apela ao reforço da solidariedade para com o heróico povo palestiniano.

No mesmo tom, o CPPC considera os ataques «um exemplo particularmente cruel da política de terrorismo de Estado que Israel pratica há várias décadas contra o povo da palestina e o seu direito a constituir-se em Estado soberano», e «alerta para as consequências que estes ataques poderão ter na já muito tensa situação no Médio Oriente».

A novidade


Tanto quanto pude perceber entre tosse, espirros e bater de dentes da quota parte de gripe que me coube em sorte em vésperas de Natal, a grande novidade da mensagem com que este ano Sócrates nos brindou residiu no facto de desta vez ter falado de pé e não sentado como de costume. A ocorrência foi de resto registada pela generalidade dos média, o que por si só já é sintomático da dificuldade em encontrar substância na substância da coisa.

O discurso foi de tal forma demagógico que até os mais prestáveis comentadores de serviço se viram em palpos de aranha para estabelecer uma ligação coerente entre as palavras do primeiro-ministro e a realidade nacional sem perder o tom de seriedade – mínimo que seja – que é suposto presidir a estas matérias.
O caso era bicudo, convenhamos: por um lado, os indicadores da crise, mais abundantes que passas em bolo rei, a transbordar das notícias; por outro, Sócrates de fato e gravata e árvore de Natal a prometer que ele e os seus ministros vão usar todos os recursos ao seu alcance para auxiliar empresas, trabalhadores e famílias; a pedir empenho e determinação aos portugueses para ultrapassar as dificuldades; e a garantir que o País está hoje em melhores condições para responder às dificuldades que nos chegam de fora, que por cá a situação está óptima e recomenda-se.

Tanta promessa e auto-elogio – tirados a papel químico das mensagens de 2007, 2006 e 2005 – causam engulhos até aos mais seguidistas, numa altura em que, de concreto, os portugueses conhecem o aumento galopante do desemprego, o ataque sem precedentes aos direitos dos trabalhadores consubstanciado no Código do Trabalho, o endividamento para além de todos os limites, enquanto se sucedem os anúncios de «medidas» que até ver só são mensuráveis nos milhões entregues à banca para salvaguarda dos lucros escandalosos do capital.

Ainda assim, houve quem visse esta mensagem como uma espécie de injecção de confiança para estimular os portugueses a sacudir pessimismos, como se a crise e os seus efeitos fossem um estado de alma a precisar de umas palmadinhas nas costas para ganhar novo ânimo. É uma perspectiva. O problema – e não se trata de ser pessimista, mas realista – é que se é verdade que tristezas e desânimos não pagam dívidas, como os portugueses bem sabem, não é menos verdade que esperanças ocas não enchem barriga nem pagam créditos, como sabe quem tem bocas a alimentar e contas a acertar.

No mundo de faz de conta inventado por Sócrates os portugueses vivem todos melhor, as desigualdades esbatem-se dia a dia, o emprego floresce e a justiça social não pára de crescer. Pouco importa que todos os indicadores apontem em sentido inverso. O que é preciso é alinhavar palavras atrás umas das outras, em discursos de Natal que se repetem ano após ano pedindo «empenhamento e coragem» a quem já está empenhado – em sentido literal – até à orelhas.

Diz quem sabe destas lides que o discurso foi curto. Para o que foi dito, nem era preciso tanto.

  • Anabela Fino
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