quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Proclamação de São Paulo


«O socialismo é a alternativa!


«O mundo está confrontado com uma grave crise económica e financeira de grandes proporções. Uma crise do capitalismo, indissociável da sua natureza própria e das suas insanáveis contradições, porventura a mais grave desde a Grande Depressão iniciada com o crash de 1929. Como sempre são os trabalhadores e os povos as suas principais vítimas.

«A presente crise é expressão de uma crise mais profunda, intrínseca ao sistema capitalista, que evidencia seus limites históricos e a exigência da sua superação revolucionária. Ela representa grandes perigos de regressão social e democrática e constitui, como a história demonstra, base para movimentos autoritários e militaristas em relação aos quais se impõe a maior vigilância dos Partidos Comunistas e de todas as forças democráticas e anti-imperialistas.

«Ao mesmo tempo que se mobilizam milionários recursos públicos para salvar os responsáveis por esta crise – o grande capital, a alta finança, os especuladores - o que se anuncia para os operários, camponeses, camadas médias e todos quantos vivem do seu trabalho e sufocam sob o peso dos monopólios é mais exploração, mais desemprego, mais baixos salários e pensões, mais insegurança, mais fome e mais miséria.
«Poderosas campanhas de manobras de diversão ideológica procuram iludir as reais causas da crise e fechar as portas a saídas no interesse das massas populares e a favor de um nova correlação de forças, uma nova ordem internacional para os trabalhadores, as forças populares, da solidariedade internacional e da amizade entre os povos. As grandes potências capitalistas, a começar pelos EUA, a União Europeia e o Japão, com as instituições internacionais que dominam – Fundo Monetário Internacional, Banco Mundial, Banco Central Europeu, NATO e outras – e instrumentalizando a própria ONU, trabalham freneticamente em “soluções” que, sendo elas próprias sementes de novas crises, procuram no imediato salvar o sistema e reforçar os mecanismos de exploração e opressão imperialista

«Com o recurso a bodes expiatórios, e insistindo em falsas e já falhadas opções de “regulação”, “humanização” e “reforma” do capitalismo, procura-se mudar alguma coisa para que tudo fique na mesma. Os partidos do capital demarcam-se apressadamente dos dogmas do “Consenso de Washington” que alimentaram a brutal financeirização da economia. A social-democracia, disfarçando a sua rendição ao neoliberalismo e a sua transformação em pilar do imperialismo, tenta um extemporâneo regresso a medidas de “regulação” de tipo keynesiano que deixam intactas a natureza de classe do poder e as relações de propriedade, e que visam objectivamente retirar espaço à afirmação de alternativas revolucionárias dos trabalhadores e dos povos.

Mas uma tal perspectiva não é uma fatalidade.

«Como outros momentos da História já o demonstraram, os trabalhadores e os povos podem, se unidos, determinar o curso dos acontecimentos económicos, sociais e políticos, arrancar ao grande capital importantes concessões no interesse das massas, impedir desenvolvimentos em direcção ao fascismo e à guerra e abrir caminho a profundas transformações de carácter progressista e mesmo revolucionário.

«O quadro internacional é de uma profunda agudização da luta de classes. A humanidade atravessa um dos momentos mais difíceis e complexos de sua história; uma crise económica global, que coincide simultaneamente com uma crise energética, outra alimentar e com uma grave crise do meio ambiente; um mundo com profundas injustiças e desigualdades, com guerras e conflitos. Um cenário de encruzilhada histórica, em que duas tendências antípodas se manifestam. Por um lado, grandes perigos para a paz, a soberania, a democracia, os direitos dos povos e dos trabalhadores. Por outro, imensas potencialidades de luta e de avanço da causa libertadora dos trabalhadores e dos povos, a causa do progresso social e da paz, a causa do socialismo e do comunismo.

«Os Partidos Comunistas e Operários reunidos no seu 10.º Encontro, realizado em São Paulo, saúdam as lutas populares que se desenvolvem por todo o mundo, contra a exploração e a opressão imperialistas, contra os crescentes ataques às conquistas históricas do movimento operário, contra a ofensiva militarista e antidemocrática do imperialismo.

«Sublinhando que a bancarrota do neoliberalismo não representa apenas o fracasso de uma política de administração do capitalismo mas o fracasso do próprio capitalismo e seguros da superioridade dos ideais e do projecto dos comunistas, afirmamos que a resposta às aspirações libertadoras dos trabalhadores e dos povos só pode ser encontrada em ruptura com o poder do grande capital, com os blocos e alianças imperialistas, com profundas transformações de carácter antimonopolista e libertador.

«Com a convicção profunda de que o socialismo é a alternativa, o caminho para a verdadeira e total independência dos povos, para a afirmação dos direitos dos trabalhadores e o único meio de pôr termo às destruidoras crises do capitalismo, apelamos à classe operária, aos trabalhadores e aos povos de todo o mundo que se juntem à luta dos comunistas e revolucionários e que, unidos em torno dos seus interesses de classe e justas aspirações, tomem nas suas mãos a construção de um futuro de prosperidade, justiça e paz para a Humanidade. Nesse sentido, estão a surgir condições para reunir a resistência e as lutas populares num amplo movimento contra as políticas capitalistas aplicadas na crise e as agressões imperialistas que ameaçam a paz.
«Certos de que é possível um outro mundo, livre da exploração e da opressão de classe do capital, proclamamos o nosso empenho em prosseguir a caminhada histórica pela construção de uma sociedade nova liberta da exploração e da opressão de classe, o Socialismo.

«São Paulo, 23 de Novembro de 2008.
«O 10º Encontro Internacional de Partidos Comunistas e Operários».

Dá para desconfiar


O governador do Banco de Portugal (BdP), Vítor Constâncio, disse esta segunda-feira, 24, na RTP, que tem «toda a confiança» em António Marta, antigo vice-governador daquele banco.

Cavaco Silva, actual presidente da República, afirmou um dia depois, 25, não ter «qualquer razão para duvidar» da palavra de Dias Loureiro, conselheiro de Estado e ex-administrador do BPN, pois este já lhe garantiu «solenemente» não ter cometido quaisquer irregularidades nas funções que desempenhou em empresas ligadas ao Banco Português de Negócios.

Já António Marta, ao que tudo indica, nesta fase do campeonato não deve confiar nem um bocadinho em Dias Loureiro, pois desmentiu-o no fim-de-semana a propósito de uma conversa de ambos, em 2005, sobre o BPN.Segundo Marta, o antigo ministro «ou está a fazer confusão com a pessoa ou a mentir» quando afirma tê-lo informado das suspeitas que pairavam sobre o BPN.

De acordo com a versão do então vice-presidente do BdP, o que Loureiro lhe foi perguntar, a 19 de Abril de 2005, às quatro da tarde, foi por que motivo andava o Banco de Portugal «tão em cima» do BPN, ao que lhe terá sido respondido que «isso tinha a ver com o facto de o banco ter uma gestão pouco transparente e de haver muitos negócios entre a administração e os accionistas».

Não se sabe se Dias Loureiro confia ou não em Marta e em Constâncio, mas depois de ter declarado na RTP, sexta-feira, 21, que nesse dia de Abril de 2005 informou o então vice-presidente do BdP das suspeitas que pairavam sobre o BPN, reagiu com «espanto» ao desmentido de Marta e, em declarações à Lusa, reiterou a afirmação de o ter alertado para a necessidade de o Banco de Portugal «estar atento».

Ora, se Constâncio confia em Marta, legítimo se torna concluir que desconfia de Dias Loureiro; pela mesma lógica, se Cavaco Silva confia em Dias Loureiro, não terá grandes motivos para confiar em Marta e em Constâncio. Logo, Constâncio e Marta devem estar de pé atrás com o Presidente. E tão amigos que eles eram! Até dá para desconfiar de tamanho imbróglio.

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