terça-feira, 30 de setembro de 2008

A escalada anti-Rússia Repete as campanhas anti-soviéticas



Numa resposta à questão “por que apresentar a Rússia de Putin como o «Império do Mal» ressuscitado?”, Miguel Urbano Rodrigues, debruça-se sobre os motivos da intensa campanha anti-russa, agora em curso nos media mundiais…




Cadeias de televisão internacionais transmitiram com frequência nas últimas semanas um documentário francês sobre o assassínio da jornalista Anna Politovskaia .

O crime ocorreu em 2006. O tema é retomado no momento em que os media dos EUA e da União Europeia desenvolvem uma intensa campanha contra a Rússia, responsabilizando a pátria de Pushkin por uma politica exterior agressiva que reactualiza «a guerra-fria»

Na aparência o objectivo da iniciativa é humanista. Anna é apresentada como uma mulher maravilhosa, um ser excepcional pela bondade, abnegada, talentosa. O marido, o filho, os colegas do jornal onde trabalhava, amigos que a conheceram aparecem no filme. Todos os que conviveram com Anna esboçam dela o perfil de uma defensora dos oprimidos, uma intelectual revoltada contra a violência, a injustiça e a miséria, uma lutadora que fazia da defesa da liberdade e da democracia um fim existencial.

Não tive a oportunidade de ler qualquer artigo da Politovskaia. Respeito a sua coragem como jornalista e lamento muito que tenha sido assassinada precisamente por ser uma voz incómoda.

Mas o próprio filme, ao projectá-la como heroína, atribui-lhe afirmações que deixam transparecer traços de megalomania. A Politovskaia sentia-se culpada por não ter conseguido evitar a guerra da Chechénia. E lamenta não ter podido imprimir outro rumo a acontecimentos da história do seu país por ela acompanhados como jornalista e cidadã.

A angústia que revela é inseparável de uma ambição excessiva, quase sobre-humana.

Entretanto, os que viram o filme – transmitido em Portugal pela SIC Noticias em horário de máxima audiência – puderam verificar que, paradoxalmente, Anna, não obstante os méritos e a personalidade que, segundo o realizador, fazem dela uma heroína, não é, afinal, o objectivo do documentário.

O discurso sobre a Politovskaia e a mensagem que ela transmite têm por função projectar uma imagem terrível da Rússia actual, uma terra de horrores. A memória dos telespectadores é, aliás, encaminhada para a União Soviética, tal como a viam no Ocidente, empurrando-os para uma inevitável associação de ideias, para paralelos.

Vladimir Putin surge no pequeno écran em imagens breves mas impressivas. O suficiente para que o cidadão comum dos EUA e da Europa identifique no dirigente russo um ditador cruel, implacável, o primeiro responsável pela sociedade trágica cuja podridão é denunciada por Anna.

Cabe perguntar porquê este súbito fascínio por um documentário quase esquecido? Por que apresentar a Rússia de Putin como o «Império do Mal» ressuscitado?A veemência dessa campanha surpreendeu. Rússia é hoje um país capitalista. No início do seu segundo mandato, o Presidente George W. Bush ainda derramava elogios sobre Putin, identificando no seu colega russo um estadista responsável, quase um aliado.

A reviravolta tem uma explicação lógica. O discurso de Munique, hoje famoso, em que Putin, rompendo a oratória da troca de amabilidades, denunciou a politica de dominação mundial imposta pelos EUA alarmou Washington. Assinalou o fim de uma época. Posteriormente, a invasão da Ossétia do Sul pela Geórgia – agressão incentivada pela Casa Branca – motivou uma resposta militar russa que surpreendeu os EUA, mergulhados numa crise financeira gravíssima.

As Forças Armadas russas intervieram, expulsaram os invasores e infligiram-lhes dura punição. Mais, Moscovo reconheceu como estados soberanos as pequenas repúblicas da Ossétia do Sul e da Abkhazia, que há muito haviam proclamado a independência.A Rússia agiu em defesa dos seus interesses nacionais. O governo de Moscovo decidiu que tinha chegado o momento de assumir uma posição de firmeza perante a estratégia de expansão para leste do imperialismo estadounidense.

O presidente Medvedev foi muito claro ao denunciar os objectivos da agressão à Ossetia do Sul, financiada e apoiada por Washington. Lembrou que ela coincidia com a iminente instalação na Polónia de mísseis norte-americanos (o chamado escudo anti-missil), e com as tentativas de alargamento da NATO à Ucrânia, à Geórgia e às três repúblicas bálticas.

A politica de hostilidade real à Rússia, disfarçada por um relacionamento diplomático na aparência amistoso, tem sido uma prioridade das duas últimas Administrações dos EUA. A construção de oleodutos para transporte até ao Mediterrâneo e ao Mar Negro do petróleo do Cáucaso e da Ásia Central sem passagem por território russo, e a instalação de uma grande base militar dos EUA no Kirguizistao (próxima da fronteira da China) foram interpretadas no Kremlin como marcos de uma estratégia de expansão imperial que configura uma ameaça real à segurança da Rússia.

A redescoberta do filme que, a pretexto de erigir Anna Politovskaia em heroína do combate pela democracia, esboça um retrato dantesco da Rússia actual, responde, afinal, à necessidade de mobilizar a opinião pública do Ocidente contra o único país com capacidade militar para conter a estratégia de dominação planetária dos EUA.

Não duvido que milhões de europeus que assistiram ao filme, tão habilmente mascarado de humanista, tenham aderido a mensagens que ele transmite e deturpam grosseiramente a história.

Quantos terão registado que o documentário é totalmente omisso sobre a época de Ieltsine? Poucos. Anna, no filme, nem sequer lhe cita o nome, não obstante o crime organizado, a corrupção e as máfias terem proliferado nos anos em que Boris Ieltsine destruiu as estruturas económicas do país, desmantelou as suas indústrias de ponta, e privatizou a agricultura, transformando a Rússia num país do Terceiro Mundo.

Então as cadeias de televisão dos EUA e da União Europeia não produziam filmes criticando Ieltsine. Pelo contrario. Apresentavam-no como um cavaleiro da democracia, um defensor da liberdade. Washington financiou mesmo a sua reeleição.O sistema de poder imperial está empenhado em apresentar a Rússia de hoje – em fase de acelerado crescimento económico – como uma sucursal terrena do inferno e na diabolização de Putin.

As emissoras de televisão limitam-se a cumprir o papel que lhes é distribuído.

  • Miguel Urbano Rodrigues



CGTP-IN marcou para dia 1 de Outubro, dia em que esta central comemora 38 anos de existência, um Dia Nacional de Luta por Melhores Salários; Emprego sem precariedade e Contra esta revisão da legislação laboral, com a realização de greves, paralisações, grande plenário geral, concentrações e deslocações em todo o país.
AMANHÃ LÁ ESTAREMOS!

domingo, 28 de setembro de 2008

Mulheres em Portugal sofrem discriminação remuneratória – Ela é tanto maior quanto mais elevada for a qualificação da mulher – Isto dá ao patronato um lucro extra superior a 6,1 mil milhões euros/ano


RESUMO DESTE ESTUDO


O "Eurofound" acabou de publicar um estudo, o qual mostra que, entre 28 países , Portugal é o país onde a discriminação de remunerações com base no género é maior ( em Portugal, a remuneração média das mulheres é inferior, à dos homens, em 25,4%), sendo apenas ultrapassado pela Eslováquia. Mas isto é um valor médio. Se se fizer uma análise mais fina por nível de escolaridade, por qualificação profissional e por sector de actividade utilizando dados divulgados pelo próprio governo (Ministério do Trabalho e Solidariedade Social) conclui-se que, para muitas mulheres, a discriminação a que continuam sujeitas é muito maior.

A discriminação remuneratória a que a mulher está sujeita no nosso País é tanto maior quanto mais elevada é a sua escolaridade . Em 1995, por ex., o ganho médio das mulheres com um nível de escolaridade inferior ao 1º ciclo do ensino básico era inferior ao dos homens, com o mesmo nível de escolaridade, em -19%, enquanto, no mesmo ano, uma mulher com o ensino superior ganhava em média entre -28,5% e -40% do que um homem com o mesmo nível de escolaridade. E em 2006, as primeiras – com escolaridade inferior ao 1º ciclo do ensino básico - ganhavam (menos) -19,1% do que os homens, enquanto as segundas – as com o ensino superior – ganhavam (menos) entre -31,8% e -34,4% do que os homens.

A discriminação remuneratória da mulher é também tanto maior quanto mais elevada é a sua qualificação . Por ex., em 1995, o ganho médio da mulher pertencente ao grupo dos "quadros superiores" era inferior ao do homem com idêntica qualificação em -24,8% , enquanto a nível do grupo de "praticantes e aprendizes" essa diferença era apenas de -7,8%. Entre 1995 e 2006,a situação até se agravou. E isto, porque em 2006, o ganho médios das mulheres do grupo "quadros superiores" era inferior ao dos homens em -29,7% (-4,9 pontos percentuais do que em 1995), enquanto o ganho médio das mulheres do grupo "praticantes e aprendizes" era inferior ao dos homens em -7,9% (- 0,1 ponto percentual do que em 1995). Se se analisar a variação verificada no período 2004-2006 entre os ganhos médios dos homens e os das mulheres conclui-se que, entre 2004 e 2006, o aumento médio verificado nos ganhos das mulheres pertencentes ao grupo "quadros superiores (+106,66€) foi inferior à subida registada no ganho médio dos homens no mesmo período (+249,54€) em -57,3%; enquanto a nível de "praticantes e aprendizes" o aumento dos ganhos das mulheres (+31,97€) foi inferior ao dos homens (+42,18€) em -24,2%, ou seja, um valor que é menos de metade do verificado no grupo com qualificações mais elevadas.

A descriminação remuneratória das mulheres também é desigual a nível de sectores de actividade atingindo, em alguns deles, valores chocantes . Por ex., a descriminação remuneratória da mulher é extremamente acentuada na "Industria Transformadora" e nas " Outras actividades de serviços colectivos, sociais e pessoais", e não melhorou nos últimos anos. Em 1995, o ganho médio da mulher na indústria transformadora era inferior ao do homem em -32,6% e, em 2006, continuava a ser inferior em -31,9%. Em relação ao sector "Outras actividades de serviços colectivos sociais e pessoais", em 1995, o ganho médio da mulher era inferior ao dos homens em -46,5% e, em 2006, em -42%.

As entidades patronais obtém elevados lucros extraordinários à custa da sobre-exploração que resulta da discriminação remuneratória a que continuam sujeitas as mulheres em Portugal. No 2º Trimestre de 2008 existiam em Portugal 1.879.900 trabalhadoras por conta de outrem. Se retirarmos as trabalhadoras da Administração Pública ficarão 1.487.900. Se multiplicarmos este total pela diferença entre o ganho médio de um homem e de uma mulher em 2008, que deverá rondar os 249,54€/mês, e se depois multiplicarmos o valor obtido por 14 meses obtém-se 5.170 milhões de euros por ano. Este valor seria aquele que as entidades patronais teriam de pagar a mais às trabalhadoras por conta de outrem se não existisse discriminação remuneratória em Portugal com base no sexo. Se acrescentarmos a parcela que resulta da discriminação salarial impostas às trabalhadoras com "falsos recibos verdes" obtém-se 6.068 milhões por ano. Este valor dá bem uma ideia dos elevadíssimos lucros extraordinários obtidos anualmente pelas entidades patronais da discriminação a que continuam a sujeitar as mulheres em Portugal .

Um exemplo real e paradigmático. No sector corticeiro onde domina o grupo Amorim, do homem mais rico de Portugal — fortuna de 3.106 milhões de euros —, 5.000 trabalhadoras fazem o mesmo que os homens mas ganham menos 97,66 euros/mês. As mulheres, pelo facto de serem mulheres (ex.:laminadoras), são enquadradas no Grupo XVI da Tabela salarial e ganham apenas 544,5€; e os homens (ex.:laminadores), pelo facto de serem homens, são enquadrados no grupo XIV e ganham 642,16€ . A discriminação é tão evidente que, face à denuncia dos sindicatos, os patrões apresentaram uma proposta que está no Ministério do Trabalho pretendendo que essa discriminação só seja eliminada ao fim 8 anos, aumentando o salário das trabalhadoras apenas 12,5€ por ano. Para que se possa ficar com uma ideia dos lucros das entidades patronais no sector corticeiro e, nomeadamente do grupo Amorim, resultante desta discriminação basta dizer que a diferença para menos de 97,66€ por ano nos salários das trabalhadoras representa um lucro extra para os patrões de 6,8 milhões de euros por ano .

As perguntas que se colocam são as seguintes: Porque razão a Inspecção de Trabalho não vai às empresas corticeiras, começando pelas do grupo Amorim, e não analisa as funções dos homens do grupo XIV e das mulheres do grupo XVI, e se elas forem idênticas porque razão não faz cumprir a Constituição e o Código do Trabalho? Porque razão os patrões das cortiças , em particular o grupo Amorim poderão, fixar um prazo de 8 anos para cumprir o artº 28 do Código do Trabalho e o artº 59 da Constituição? Que poder tem o grupo Amorim sobre o governo e sobre o Ministério do Trabalho para poder fazer isso? São as perguntas que naturalmente se colocam e que deixamos para reflexão dos leitores.



  • Eugénio Rosa

quinta-feira, 25 de setembro de 2008


Do mal, o menos


O líder parlamentar do PSD, Paulo Rangel, anunciou há dias que os deputados do seu partido se vão abster na votação na generalidade da proposta do Governo de revisão do Código do Trabalho, podendo mesmo evoluir (para o voto a favor, é claro) após o debate. A razão para tal é simples: na óptica do PSD, a proposta vai no «bom caminho» em matéria de legislação laboral, pois o PS deu «uma cambalhota de 180 graus» e abandonou as posições que defendia na oposição, embora ainda subsistam alguns «aspectos negativos». E quando assim é, diz Rangel, quando o «PS e o Governo se aproximam das boas soluções», o PSD aplaude.

Nem mais. Burile-se uns pormenores e nem se dará pela diferença entre governo PS ou PSD, reconhecem os próprios. A evidência foi reconhecida pelo homólogo de Rangel no PS, na circunstância Alberto Martins, que logo se apressou a vir a público dizer que a anunciada abstenção revela que o PSD «não tem uma posição alternativa consistente a apresentar».
E concluiu de forma lapidar: «do mal, o menos».

Só faltou Alberto Martins dizer claramente dito que, se isso sucede, é porque o PS vai tão longe na sua política de direita e no ataque aos direitos dos trabalhadores que a direita que se assume como tal, ao invés de se travestir de socialista, fica sem campo de manobra.

Do mal, o menos, diz Alberto Martins, sem se questionar por um momento das razões do aplauso de um punhado de gente que vive de mandar apertar o cinto a quem trabalha, enquanto os que são alvo directos dos aspectos mais perversos do Código de Trabalho – incluindo muitos dos votaram no PS iludidos por promessas nunca cumpridas – se manifestam nas ruas gritando o seu protesto e revolta e exigindo justiça social.


Do mal, o menos, diz Martins, antevendo maioria acrescida na votação do código dos patrões ou no pior dos casos um aplauso disfarçado de abstenção, sem querer ver como se agiganta a maré de contestação popular que mais cedo que tarde acabará por submergir o PS.

Do mal o menos, poderíamos também dizer nós, pois quanto mais PS e PSD se entendem mais claro fica qual o partido que está sempre ao lado dos trabalhadores na defesa dos seus legítimos interesses. E esse partido tem nome, tem história, tem ideologia, tem princípios e objectivos de que não abdica: é o PCP e a sua luta é pelo socialismo e pelo comunismo.


  • AnaBela Fino

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

HÁ 35 ANOS, O OUTRO 11 DE SETEMBRO

TALVEZ




Os media de referência são especialistas em destruir a memória sobre crimes da direita e do fascismo. Neste artigo de Correia da Fonseca denunciam-se as televisões portuguesas pelo seu esquecimento do 11 de Setembro de 1973 no Chile. Podiam desagradar ao Consenso de Washington…



Na passagem de mais um dia 11 do mês de Setembro, não dei por que a televisão tivesse feito uma só referência ao 11 de Setembro de 1973, dia em que o general Pinochet, averiguadamente telecomandado por Washington, desencadeou a maior, mais prolongada e mais repugnante matança de gente de esquerda havida no quadro geopolítico do Ocidente depois de 45. Talvez apenas eu me tenha desencontrado com alguma breve alusão ao tristíssimo acontecimento, talvez tenham sido as estações de TV portuguesa a desencontrarem-se com a memória, o que aliás lhes acontece mais vezes do que mandariam a competência e dever de informar (pois a completa informação tem um âmbito temporal que excede o que aconteceu ontem para integrar o que, sendo mais distante no tempo, ainda ilumina e esclarece alguma coisa do que ocorre hoje). O certo, de qualquer modo, é que o único 11 de Setembro que eu vi a TV assinalar foi o de 2001, afinal já não tão próximo quanto por vezes parece. E, de entre todas as referências mais ou menos extensas que lhe foram feitas, e para lá da justificada subsistência do espírito de luto sobretudo nos Estados Unidos, como é natural, terão sido particularmente interessantes os documentários agora transmitidos que abordaram as dúvidas nunca resolvidas acerca da verdadeira autoria, moral e material, dos atentados às Twin Towers e ao Pentágono. Sendo que este último, embora naturalmente muito mais esquecido pela opinião pública por ter falhado e não ter provocado vítimas, é um elemento capaz de suscitar interrogações e algumas perplexidades.

Ambos os documentários que reclamaram a minha atenção abordaram as muito graves dúvidas expressas perante a posição oficial norte-americana que, como bem se sabe, acusa a Al Qaeda e Bin Laden de terem sido os autores dos atentados. É sabido que livros assinados por jornalistas reputados, pareceres de cientistas e técnicos, não apenas põem em dúvida os relatórios oficiais como, em muitos casos, acusam os poderes dos Estados Unidos de, através das suas ramificações mais discretas, terem sido eles a prepararem os atentados a fim de conseguirem a mobilização psicológica do povo norte-americano para as invasões do Iraque e do Afeganistão, isto é, da mais rica zona petrolífera do mundo numa altura em que a aproximação da crise do petróleo já era previsível para qualquer sujeito medianamente informado. A hipótese é de tal modo chocante que repugna encará-la, mas o certo é que tem sido frequentemente avançada, de tal modo que foi catalogada como uma «teoria da conspiração» pelos que a recusam. Infelizmente, porém, esta designação, «teoria da conspiração», tem vindo a ser usada com frequência inflacionada, dir-se-ia que quase sempre que explicações plausíveis, ajustadas aos contextos mas (ainda) não provadas, contradizem as versões oficiais. Recorde-se que houve um tempo em que a inspiração USA para o golpe de Pinochet foi encarada como uma «teoria da conspiração». E, contudo, aberto o acesso a documentação outrora secreta, sabe-se que a «teoria» tinha razão.

Os dois documentários que foram agora transmitidos, longe de perfilharem qualquer «teoria da conspiração», procuram refutá-las. Contudo, por estes mesmos dias foi também transmitida uma reportagem acerca do chamado Caso Lockerbie, o de um avião da Pan Am que há mais de vinte anos explodiu sobre a localidade escocesa de Lockerbie morrendo os 259 passageiros. Dois cidadãos líbios foram então acusados de serem os responsáveis por esse acto de terrorismos e, após um longo braço de ferro diplomático com o presidente Kadhafi, então ainda uma «bête noire» dos Estados Unidos e seus anexos, foram finalmente entregues às autoridades britânicas com a condição de serem julgados num terceiro país que foi a Holanda. Um deles foi absolvido, o outro condenado a prisão perpétua. Porém, a reportagem agora transmitida pela SIC-Notícias no âmbito da rubrica «Panorama BBC» veio falar-nos da intervenção da CIA e do FBI durante todo o processo de investigação, abrindo caminho para as maiores dúvidas. A julgar pelo que ali se ouviu, talvez todo o Caso Lockerbie tenha sido uma sinistra operação dos serviços secretos norte-americanos para incriminar a Líbia de Kadhafi. E a reflexão sobre esta possibilidade devolve-nos para o 11 de Setembro. Talvez os mesmos serviços secretos, ou eventualmente outros mais secretos ainda, possam não ter sido alheios à tragédia de 11 de Setembro. Talvez a apelidada «teoria da conspiração» seja neste caso uma teoria do desmascaramento. Talvez devamos perguntar, como o herói detective de qualquer estória policial, quem é que afinal ganhou com o crime. E, ao encontrar a resposta que aponta para a política de agressões militares da administração Bush, examinar a possível conclusão.


  • Correia da Fonseca

segunda-feira, 22 de setembro de 2008



ALERTA



Aos Sindicatos

Aos Trabalhadores


O CÓDIGO AINDA NÃO ESTÁ EM VIGOR


Foi aprovada na generalidade na Assembleia da República a proposta de Lei n.º 216/X, vulgo Revisão do Código do Trabalho, única e exclusivamente com os votos favoráveis dos deputados do Partido Socialista. A esquerda parlamentar votou, naturalmente, contra (incluindo 4 deputados do PS).


A direita optou pela abstenção.A batalha que a CGTP-IN tem vindo a travar de forma pungente e abnegada, na firme convicção de que esta revisão não serve o país e o seu desenvolvimento económico e social, fere gravemente os direitos mais básicos dos trabalhadores, e favorece, inegavelmente, os interesses patronais da precariedade, dos baixos salários e do incumprimento das leis, é uma batalha que não termina com esta votação.


O texto do Código Vieira da Silva, assim como as propostas de alteração apresentadas pelos grupos parlamentares da oposição, descem, agora, à Comissão de Trabalho para uma apreciação e análise na sua especialidade e articulado.A batalha continua. Na persuasão. No esclarecimento. Na motivação das suas estruturas sindicais. Na mobilização e luta dos trabalhadores. Ainda não é a hora do descanso. É hora de ALERTA.

domingo, 21 de setembro de 2008

ELES TRAIRAM OS TRABALHADORES PORTUGUESES!

A LUTA CONTINUA!

sábado, 20 de setembro de 2008

Campanha de Ajuda Humanitária ao Povo de Cuba






As Caraíbas, o México o sul dos EUA foram nas últimas semanas afectados por vários fenómenos naturais extremos que causaram centenas de vítimas mortais e avultados prejuízos materiais ainda difíceis de contabilizar.

Em Cuba, afectada no espaço de uma semana e meia por dois furacões e uma tempestade tropical, e onde o furacão Ike assumiu proporções de grande gravidade, apenas a notável eficiência dos planos de emergência cubanos para este tipo de situações evitou que os violentos fenómenos naturais causassem um drama humano de grandes proporções, existindo contudo 7 vítimas mortais a lamentar.Mas a destruição provocada é enorme e sem precedentes:

Estima-se que 350.000 casas tenham sido afectadas, 30.000 das quais com capacidade de reconstrução bastante limitada. Em algumas províncias esses números significam 80% do total das habitações. Importantes infra-estruturas, como estradas, rede eléctrica e armazéns de reservas estratégicas, foram severamente lesadas. Uma primeira estimativa dos prejuízos causados em Cuba pelos furacões aponta para cerca de 150 milhões de dólares de prejuízos.

Particularmente afectadas pela devastação foram as culturas agrícolas, o que já obrigou o governo cubano a recorrer a todas as reservas alimentares para atenuar os efeitos imediatos da escassez de alimentos.Cuba é sempre o primeiro país a disponibilizar e a prestar auxílio – alimentar, médico e técnico - a todos os povos e países vítimas de catástrofes naturais ou de outras calamidades. Foi o primeiro a oferecer ajuda aos EUA aquando das terríveis inundações provocadas pelo Katrina, apenas para referir um exemplo recente e da mesma natureza.

Contudo, mesmo sendo vítima de uma catástrofe natural destas dimensões, Cuba permanece sujeita ao criminoso bloqueio económico imposto pelos EUA – o mais longo da história da humanidade.À semelhança de muitos outros países e organizações por todo o mundo é tempo de os portugueses furarem o criminoso bloqueio a Cuba e se mobilizarem para enviar para o País que está sempre na primeira linha da solidariedade internacional a amizade, o apoio e a ajuda que o povo de Cuba agora necessita.

Cuba está sempre por todos, é altura de todos estarmos por Cuba.Assim, por iniciativa da Associação de Amizade Portugal-Cuba, a que se associam muitas outras organizações sindicais, do movimento da paz, de variados movimentos sociais e políticos, lança-se em Portugal uma Campanha de Solidariedade com Cuba "Cuba por Todos, Todos por Cuba", com o objectivo de fazer chegar ao povo cubano géneros alimentares de primeira necessidade (conservas, leite em pó, farinhas, massas e arroz, feijão) e recolher fundos para apoiar a reconstrução em Cuba.

Ao lançar esta campanha a Associação de Amizade Portugal-Cuba e as organizações subscritoras deste apelo apelam à participação de todas as organizações, entidades, públicas e privadas e cidadãos, nesta campanha para apoiar a reconstrução em Cuba.

Brevemente serão disponibilizadas informações sobre outros pontos de recolha dos alimentos para Cuba e o número da conta bancária para recepção de toda a solidariedade com que cada um possa contribuir.Outras iniciativas de solidariedade com o mesmo objectivo serão em devido tempo comunicadas a todos aqueles que se queiram associar a esta campanha. Todas as informações podem ser obtidas junto do Secretariado Permanente da Campanha "Cuba por todos, todos por Cuba" que funcionará na Casa da Paz, em Lisboa.


As organizações subscritoras:

Associação de Amizade Portugal-Cuba
CGTP/IN

Conselho Português para a Paz e Cooperação

Juventude Comunista Portuguesa

Movimento Democrático das Mulheres

Voz do Operário
CONTACTO:

Secretariado permanente da Campanha Casa da Paz
Rua Rodrigo da Fonseca, 56 – 2º – 1250-193 Lisboa (perto do Marquês de Pombal)Telefones: 213 863 375 / 213 863 575Fax: 213 863 221Telemóveis: 962 022 207, 962 022 208, 966 342 254, 914 501 963E-mail: todosporcuba@gmail.

Armazém Central de Recolha

Alameda D. Afonso Henriques nº 42 (junto à Fonte Luminosa)Lisboa(entrada de viaturas pela Rua do Garrido, lote 748, Lisboa)

Associação de Amizade Portugal-Cuba

Rua Rodrigo da Fonseca 107-r/c-Esq, Lisboa1070-239 LISBOATelefone: 21 385 73 05


quinta-feira, 18 de setembro de 2008




Mobilizar para 1 de Outubro

Salientando a «mais profunda oposição da central a este Código do Trabalho, acordado pelo Governo com o apoio dos patrões e da UGT», Arménio Carlos considerou aquela legislação «um retrocesso social inaceitável que nos obriga a mobilizar todos os trabalhadores para a jornada de 1 de Outubro».

Embora o Governo tenha apressado a discussão parlamentar na generalidade para hoje, dia 18, «podemos anunciar que estão agendados plenários de trabalhadores, por todo o País, a fim de se discutir esta matéria, preparar, discutir e votar as formas de luta a adoptar, no dia 1, e temos já conhecimento da entrega de pré-avisos de greve por um conjunto de organizações sindicais», anunciou o membro da Executiva da central.Para a Inter, este «não é, não foi nem será um processo encerrado».

«Não é a primeira vez que uma maioria absoluta parlamentar tenta alterar a legislação com o propósito de pôr em causa os direitos dos trabalhadores, mas, com a nossa luta, não só impedimos essas intenções como conseguimos manter, sobretudo, a generalidade dos contratos colectivos», recordou, acrescentando que o Governo «pretende destruir, não só a contratação colectiva como os direitos dos trabalhadores, acentuando a precariedade, aumentando os horários de trabalho e reduzindo os salários».

CGTP-IN FIRME NO PROTESTO

Mais de três mil pareceres contra a revisão do Código


Mais de 500 representantes sindicais deslocaram-se, dia 10, em cordão humano até à Assembleia da República, onde entregaram mais de três mil pareceres que reprovam as alterações à legislação laboral.

A revisão do Código do Trabalho desencadeada pelo Governo PS é o projecto legislativo com mais pareceres negativos alguma vez recolhidos pelas estruturas da CGTP-IN e pelo movimento das Comissões de Trabalhadores, e é o motivo fundamental que levou a central a convocar, para 1 de Outubro, data em que cumpre o seu 38.º aniversário, um Dia Nacional de Luta.

Uma delegação sindical entregou, em São Bento, no fim do cordão humano que partiu da sede nacional da central, 3026 pareceres onde é rejeitada liminarmente esta revisão da legislação laboral. Os representantes sindicais empunharam pancartas onde se lia «Não somos mercadoria», «Não a esta revisão da legislação laboral», «Vida e Trabalho digno para todos», e gritaram palavras de ordem pelo direito à negociação colectiva, ao trabalho, por um aumento real dos salários e uma igual distribuição da riqueza, por uma política de esquerda, lembrando que «Com políticas de direita, o País não se endireita».

«Esta acção é uma reafirmação clara e inequívoca da disponibilidade demonstrada para a participação e preparação da jornada de luta de 1 de Outubro», afirmou ao Avante!, o membro da Executiva da central, Arménio Carlos.

«Os pareceres reflectem a opinião de centenas de milhares de trabalhadores que não concordam com a proposta, nomeadamente muitos eleitores do PS que agora vêem defraudadas as suas expectativas», considerou, salientando «as manobras do Governo para impedir a discussão, pelos trabalhadores, ao fixar o debate público em pleno período de férias».Mesmo assim, foi recolhido por sindicatos, uniões e federações sindicais, e Comissões de Trabalhadores, «o maior número de pareceres alguma vez obtidos em processos desta natureza».

Diplomas

No final da semana passada, o primeiro-ministro José Sócrates protagonizou dois actos governativos particularmente reveladores.Na sexta-feira arregimentou 23 ministros e secretários de Estado e foi com eles de cambulhada pelo País, todos a distribuir cheques de 500 euros aos «melhores alunos» que concluíram o 12.º ano. A coisa recebeu o nome de «Dia do Diploma» e a generalidade dos órgãos de Informação – convocados em peso – já divulgaram os resultados: «ao todo, foram cerca de 1000 alunos os que receberam o prémio de 500 euros». Portanto, só em cheques foi gasto meio milhão, ficando por quantificar o balúrdio necessário para transportar 24 governantes e as decorrentes comitivas neste «passeio do diploma». Não está mal, para quem já encerrou milhares de escolas e até raciona dos lápis ao papel higiénico para «racionalizar as despesas com a Educação».

«Queremos dar um sinal à sociedade de que o 12.º ano é absolutamente indispensável para a entrada no mercado de trabalho», explicou o primeiro-ministro espargindo charme eleiçoeiro pela multidão de alunos, docentes e funcionários convocados para o entremez do diploma. O primeiro-ministro nem estranhou o facto de não haver outro país na União Europeia a cometer esta atrocidade pedagógica de premiar alunos com cheques porque, obviamente – e como a generalidade dos especialistas já recordaram, incrédulos –, nem o Ensino é encarado como uma competição instrumentalizada a dinheiro, nem os prémios monetários são um estímulo apropriado e justo para o vasto universo das aprendizagens, onde os ritmos, capacidades, competências e apoios (na família e na escola) são de uma diversidade infinita.

No dia seguinte, o primeiro-ministro assinou com 92 câmaras municipais um «Contrato» de transferência de competências relativas aos 2.º e 3.º ciclos do Ensino onde, a troco de 130 milhões de euros, estas autarquias passarão a ficar responsáveis pela gestão do pessoal não docente (11.500, para já), a acção social, o transporte escolar, a construção, manutenção e apetrechamento dos estabelecimentos de Ensino e ainda as actividades de enriquecimento curricular como a Música e o Inglês. A Associação Nacional dos Municípios (ANMP) reivindicou que tantas competências impunham maior descentralização de verbas, pelo que foi arredada do processo (com a ministra da Educação a refutar, democraticamente, que esta Associação «foi sempre informada de como as coisas se estavam a passar») e inventou-se estes «Contratos» assinados individualmente (para já com 92 municípios), onde o Governo dá o que entende e a quem quer, a começar pelos municípios da «cor».

Assim, duma penada, o Governo de Sócrates vê-se livre de uma boa fatia de trabalhos e despesa na Educação e ainda fica com o poder de distribuir discricionariamente, pelos municípios, as emagrecidas verbas para este Ensino do 2.º e 3.º ciclos.Deve ser mais um «sinal» de José Sócrates para mostrar à sociedade como o 12.º ano lhe é «absolutamente indispensável».Notoriamente, estamos perante uma visão do Ensino à altura do engenheiro que em alguns meses concluiu quatro cadeiras e uma licenciatura, enquanto já governava numa secretaria de Estado. Fosse José Sócrates hoje estudante, e o chequezinho dos 500 euros não lhe escapava!
  • Henrique Custódio

AFRICOM em Portugal???

No próximo dia 1 de Outubro deveria ser formalmente concretizada a criação do AFRICOM, o comando militar norte-americano específico para África. Até hoje este comando regional está subordinado ao Comando Europeu dos EUA um dos 6 comandos regionais que suportam o intervencionismo militar dos EUA nos vários continentes e o alargamento da sua rede mundial de bases militares.

Mas a instalação do AFRICOM enfrenta sérias dificuldades. Desde a decisão em Fevereiro de 2007 da sua criação que a Administração Bush tem sido confrontada com a oposição em bloco dos Estados africanos e da União Africana à instalação em solo africano do seu quartel-general. A 52ª Conferência Nacional do ANC haveria de pronunciar-se, em Dezembro de 2007, desta forma: «Face às movimentações dos EUA para alargar a sua presença militar em África sob o pretexto do combate ao terrorismo, fundamentalismo e extremismo; encorajada pela forte rejeição dos países africanos a mais esta recente tentativa dos EUA de interferir nos assuntos do nosso continente, a Conferência apela a que África se mantenha unida e determinada na rejeição do AFRICOM». E assim foi até hoje, o quartel-general teve que se manter na Alemanha.

Mas Bush e Rice não desistem perante as dificuldades, e por isso recorrem aos seus «bons amigos». Depois de uma iniciativa nos Açores organizada pela fundação luso-americana com membros do Governo Regional e do PS e depois de uma passagem relâmpago por Lisboa de Condoleezza Rice, eis que o que poderia parecer inacreditável acontece: Como os africanos não querem lá o AFRICOM instale-se o quartel-general em… Portugal! Em Beja mais propriamente, noticiou um diário português, adiantando que existem negociações com o governo português nesse sentido.

Em nome da paz, da independência e soberania de Portugal. Em nome das relações de amizade entre o povo português e os povos de África, cuja luta pela paz, independência e soberania foi e é também a nossa luta, tudo faremos para impedir que Portugal fique associado a mais este projecto militarista e neo-colonialista do imperialismo. O tempo das colónias acabou! Que se recordem disto Bush, Rice, Sócrates e Luís Amado!

  • Ângelo Alves

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

O ROSTO DO FASCISMO NA BOLIVIA




A prisão Prefeito do Departamento de Pando, Leopoldo Fernández, poucas horas depois este texto ser escrito, responsável pela morte de dezenas de pessoas e cerca de uma centena de desaparecidos naquele departamento, se reafirma o carácter fascista dos secessionistas, revela também que o Governo e as forças sociais e políticas que apoiam o processo de mudanças em curso estão em condições de derrotar os golpistas.

Começa a mãe de todas as batalhas


A situação boliviana, como se costuma dizer nos media, é volátil. Desde há uns dez dias a opinião pública é sacudida por uma série de acontecimentos, a maioria caracterizados pelo extravasar da fúria reaccionária, particularmente no Oriente do país. Todos estes acontecimentos – que em breve farão parte das páginas da convulsa história política boliviana – não se caracterizam, no entanto, por nenhum traço original. Para dizê-lo em curtas palavras, mais não são do que episódios do desencadeamento de operações contra-revolucionárias de inconfundível cunho fascista.A semana passada, segundo o tinha antecipado a União Juvenil de Santa de Santa Cruz (UJC) ocupou uma série de instalações dependentes do governo central. O pretexto para estas ocupações era a execução dos resultados dos inconstitucionais «estatutos autonómicos». Segunda a interpretação da direita destes estatutos «todas estas instituições pertenciam aos povos de Santa Cruz, Beni, Tarija, etc.» e «deviam ser retirados ao governo centralista» para serem postos «ao serviço do povo» das suas regiões.Os factos revelam que essa é, no mínimo uma retórica cínica. Quase todas as instalações ocupadas foram seriamente danificadas. Algumas delas completamente saqueadas e inutilizadas; alguns edifícios foram literalmente destruídos, como o da Empresa Nacional de Telecomunicações em Santa Cruz. Alguns dos escritórios sofreram saques que denunciam o seu objectivo. Nas instalações departamentais do Instituto Nacional da Reforma Agrária, milhares de documentos, processos referentes a terras e resoluções de entrega de terras às comunidades camponesas e povos originários foram queimados. Estas acções têm conexão directa com a «reocupação» de prédios conhecidos como Terras Comunitárias de Origem (TCO). É o caso de Monteverde (Santa Cruz), propriedade colectiva, recentemente reconhecida como do povo chiquitano. Não se trata ninharia. São um milhão de hectares que pretendem usufruir os latifundiários.
Uma parcimónia suspeita
Chama a atenção o facto de algumas das ocupações terem sido acompanhadas de agressões a membros da polícia e do exército que, estranhamente, tiveram uma atitude quase passiva. Deixaram que soldados, polícias e até coronéis fossem sovados e insultados de modo nunca visto. Voltaremos ao significado desta passividade.Os grupos fascistas identificados com a cruz dos templários e algumas vezes com a cruz gamada, acentuaram a sua presença nas ruas, particularmente em Santa Cruz, dedicando-se a insultar e agredir, por vezes com inusitada brutalidade, sobretudo pessoas com traços índios. Inclusive vexaram mais identificáveis pela sua roupa típica. Ensaiaram razias contra mercados camponeses (em Tarija) e o «Plano 3.000» (cidade de Santa Cruz). Nestes casos as populações reagiram e repeliram com êxito, pela primeira vez, os esquadrões paramilitares.Tudo isto é a confirmação da causa da resistência, do complôt e da violência fascista: a defesa dos interesses dos representantes das transnacionais e latifundiários e a execução dos planos incentivados e desenhados pela CIA e a embaixada estadunidense.
O Inocultável rosto fascista
O facto mais grave registou-se dia 11 nas localidades de El Provenir e Filadélfia, departamento de Pando. Um importante grupo de camponeses dirigia-se nesse dia a Cobija, capital do departamental, para realizar uma reunião ampla, quando interceptado num ponto do trajecto e acabou atacado a tiro impunemente por empregados da prefeitura de Pando e, talvez, por sicários estrangeiros. Foram assassinados 17 camponeses e estudantes liceais, e feridos mais de quarenta pessoas. Até hoje ainda se não soube o número total das vítimas.O inaudito deste massacre é que foram vitimados mulheres e crianças. A estes, antes de os assassinarem, bateram-lhes e flagelaram-nos. Os cadáveres dos menores não foram até agora encontrados. Também não podemos omitir que os agressores atiraram sobre alguns feridos e mataram-nos e outros foram submetidos a torturas, procurando que se denunciassem a si mesmos como agressores enviados pelo governo. Há relatos de parentes das vítimas que acusam de que até os cadáveres foram violentados. Não é exagero dizer que o que sucedeu em Pando foi um genocídio. O governo teve que decretar o estado de sítio no departamento. A recuperação do aeroporto significou perdas adicionais de vidas. Franco-atiradores colocados na mata assassinaram um recruta e um pastor evangélico. Os militares limitaram-se a recuperar ao eroporto e só muito paulatinamente entraram na cidade, onde a resistência dos grupos de choque e dos militantes da direita se foi diluindo. Apesar disso, ainda não foi feito o completo restabelecimento da ordem. Mesmo depois do estado de sítio um grupo armado conseguiu passar para o município de Filadélfia, a que pegaram fogo. O prefeito e alguns chamados dirigentes cívicos mantiveram uma atitude desafiante.
O Povo resolve organizar-se e lutar
Nalguns círculos militares comentou-se que as medidas tomadas foram aplicadas muito lentamente, sem resolução. Isto, imediatamente compreendido pela população provocou uma grande efervescência popular. Centenas de milhar de manifestantes, em diversas assembleias e reuniões, sobretudo nos departamentos do centro e de ocidente, quase de modo espontâneo, começaram a discutir a organização de destacamentos, brigadas e outros tipos com um sentido muito definido: alistar-se para defender a integridade nacional, a democracia e a soberania nacional, para continuar o processo de mudanças progressistas. O tom principal deste ânimo social é o patriotismo. Lembra o ânimo dos patriotas da independência, como se tratasse, na verdade, de uma batalha pela segunda (e definitiva) independência nacional. Apesar dos fascistas nos terem habituado a distorcer a verdade, não é demais mencionar que os meios de comunicação da direita pretendem torcer a verdade do acontecimentos, a começar pelo prefeito Fernández. Este não teve mais nada para dizer, a não ser que os massacrados eram «pseudo-camponeses», enviados e armados pelo governo. Inclusive, apareceu num programa de televisão onde, com uma desfaçatez indescritível, negou as acusações, praticamente na frente dos sobreviventes. Entretanto, a opinião pública nacional exige a renúncia do funcionário que tem já acusação deduzida.
A Secessão não será fácil
Nos meios diplomáticos e em todo o mundo teve uma enorme repercussão a resolução do presidente Morales de declarar persona non grata o embaixador americano Goldeberg. A verdade é que, os actos e movimentos de Goldberg eram há muito tempo, mais do que uma suspeita, uma evidência. Além da sua participação na conspiração contra Evo Morales, antecedia-o um extenso rol de outras acções entre as quais se destacava a sua acção no Kosovo. É conhecido como um especialista a desmantelar países. Suspeita-se de todas as suas acções, incluindo o ter alguma coisa a ver com o estatuto «autonómico» de Santa Cruz, que apresenta sugestivas concordâncias com a constituição política da «república» do Kosovo. A sua expulsão adquiriu a exacta projecção que devia ter, juntamente com a expulsão do embaixador Duddy da Venezuela. Ao cabo e ao resto, Goldberg não era mais do que uma peça no quadro conspirativo desenhado pela CIA contra todos os governos progressistas da América Latina. Dois objectivos são evidentes: O derrube dos mandatários ou o magnicídio destes ou, finalmente, a divisão do país. Zulia na Venezuela, Guayaquil no Equador e Santa Cruz na Bolívia. Na saída, Goldberg na sua declaração à imprensa pôs especial ênfase no tema do narcotráfico. Há que ter em conta a referência e o governo de Evo não deve esquecê-la por um momento que seja.

A alternativa secessionista é difícil de levar à prática. Primeiro pela própria resistência que se gerará nos departamentos em cisão. O Plano 3.000, em Santa Cruz, é uma cidadela de uns 400.000 habitantes, onde a resistência ao prefeito Costas e aos grupos de choque da UJC está a organizar-se e a adquirir a decisão de se defender e lutar pela sua liberdade e dignidade. Depois há a decisão de importantes organizações sindicais e da própria Central Operária Boliviana (COB) que parece ter espevitado e planeia realizar uma reunião ampla na própria capital de Santa Cruz, dir-se-ia no olho do furacão. Um verdadeiro desafio que, só com o seu anúncio, muda positivamente a perspectiva, por muito que a visão e a perspectiva, por muito dura que esta seja.
O contexto Sul-americano
Também o ambiente sul-americano não é favorável aos sediciosos e secessionistas. A reunião de urgência da UNASUR (União da Nações Sul-americanas), a que assistiram 8 presidentes foi firme na rejeição das intenções golpistas ou separatistas. Ressaltam as palavras de Chávez comparando a situação boliviana de agora com a que se deu no Chile há 35 anos, quando todos «ficaram mudos» perante a imolação de Salvador Allende, provocada pela ingerência do imperialismo norte-americano. Chávez, muito serenamente, disse que a América latina mudou, já não somos mudos.A Bolívia é conhecida pela sua combatividade, pelas tradições da sua classe operária, pela incorporação dos camponeses e agora também pela presença activa dos posvos indígenas. São demasiados factores e um grande empurrão da História que não será fácil os reaccionários superarem. Mas os revolucionários não podem dormir sobre os louros e o governo abandonar a sua guarda.


  • Marcos Domich

Tradução de José Paulo Gascão

DIPLOMATAS & AGENTES PROVOCADORES



A diferença entre um diplomata e um agente provocador tornou-se ténue no Departamento de Estado dos EUA.

A expulsão do embaixador americano em La Paz, um especialista em desmembrar países cujo curriculum regista a sua actuação na ex-Jugoslávia, foi um corajoso gesto de soberania do governo boliviano. O governo de Evo Morales teve até demasiada paciência com um indivíduo que se dedicava à promoção do secessionismo de províncias do país. O mesmo se pode dizer da expulsão logo a seguir do ciático Patrick Duddy, que fazia de embaixador dos EUA em Caracas.

O facto de ambos os candidatos à presidência dos EUA terem condenado tais expulsões mostra que na verdade não há diferença entre eles. Qualquer deles representa a classe dominante estado-unidense e defende posições militaristas e agressivas para com o resto do mundo. Obama ou McCain, é igual para todos os efeitos práticos.
11/SETEMBRO: UMA DATA IMPORTANTE


A última vez que os Estados Unidos foram atacados no seu próprio território por um inimigo externo verificou-se em 1814, quando as tropas britânicas puseram Washington a ferro e fogo. A Casa Branca foi então incendiada pelas tropas de sua graciosa majestade, assim como o edifício onde funcionava o Departamento do Tesouro. O U.S. Army, encolhido, não deu resposta às tropas do ex-colonizador. Diga-se de passagem que este episódio é cuidadosamente "esquecido" pela historiografia oficial estado-unidense.

De todas as explicações acerca dos atentados de 11 de Setembro de 2001 as menos críveis são exactamente aquelas propaladas pelo governo do sr. Bush. A barragem de falsificações e mentiras apregoadas pelo seu governo — e pressurosamente reflectidas pelos media corporativos servis ao poder, os tais que arrogantemente se proclamam como "referência" — diz muito acerca da época que vivemos. Assim, a opinião pública foi e é deliberadamente desinformada e enganada pelos media ao serviço do império bushiano. Tal desinformação serviu e serve para justificar os crimes cometidos após os 11/Set, como a invasão do Afeganistão e do Iraque com o cortejo de atrocidades ali cometidas pelas tropas de ocupação.

Por mais repetidas que sejam, as mentiras não passam a ser verdades. As investigações acerca do 11/Set prosseguem, nos EUA e em todo o mundo. Entretanto, não foram os primeiros auto-atentados da história cometidos com objectivos políticos. Basta pensar, por exemplo, no incêndio do Reichstag, na Berlim de 1933. Hoje, é cada vez maior o número de personalidades que contestam as várias e sucessivas versões oficiais do governo Bush. O sítio http://patriotsquestion911.com/ , por exemplo, informa que 140 oficiais superiores das forças armadas, responsáveis de serviços de inteligência e polícias dos EUA põem em causa a versão oficial, assim como 530 engenheiros e arquitectos, 120 pilotos e profissionais da aviação, 300 professores, 210 sobreviventes e familiares das vítimas do 11/Set e 160 artistas e profissionais dos media. São homens e mulheres corajosos que se atreveram a romper com a hierarquia de comando, a por em risco as suas carreiras ou a obtenção de contratos do governo bushiano e manifestar-se em público. Muitos outros aprofundamentos das investigações prosseguem, como se pode ver nesta colecção de links sobre o 11/Set . Algum dia a verdade plena virá ao de cima.

Os governos portugueses não estão inocentes nos crimes cometidos na sequência do 11/Set: prestaram-se a enviar carne de canhão portuguesa para o Iraque, Jugoslávia e Afeganistão. O do sr. Sócrates colabora neste momento com os EUA/NATO na agressão ao povo afegão. O silenciamento dos media portugueses quanto à presença da tropa portuguesa no Afeganistão diz muito acerca da qualidade da informação existente no país. Só quando há um morto ou um ferido é que eles publicam uma pequena nota a respeito. Mas nada dizem dos que voltam contaminados pelo urânio empobrecido apanhado no Iraque, na ex-Jugoslávia ou no Afeganistão, com envenenamentos físicos, químicos e radiológicos. Trata-se de assunto tabu para o Ministério da Defesa e para as TVs e jornais portugueses ditos "de referência". Seria inútil procurar tais informações nos media lusitanos. No tempo do fascismo os jornais ostentavam um anúncio que dizia: "Este número foi visado pela censura". O fascismo não enganava ninguém, a censura era declarada explicitamente. Hoje já não há tal anúncio, mas a censura em Portugal é maior e mais subtil do que antes do 25 de Abril.

Para concluir esta nota, não se pode esquecer o outro 11 de Setembro. O de 1973, quando um golpe sangrento patrocinado pelo imperialismo estado-unidense derrubou o governo democrático do grande Presidente Salvador Allende Gossens. O Chile até hoje não se recuperou da barbárie neoliberal imposta pelos Chicago Boys pinochetistas.

domingo, 14 de setembro de 2008

Lucros extraordinários da GALP: -Uma subida de 159% no 1º semestre de 2008 -Empresa não paga "Taxa de Robim dos Bosques" -E governo ainda lhe "oferece" €212 milhões de IRC

RESUMO DESTE ESTUDO
No 1º semestre de 2008, as vendas da GALP aumentaram 28,1% em relação a 2007, mas os seus lucros extraordinários resultantes do chamado "efeito de stock", ou seja, da especulação que se verifica no mercado internacional do petróleo e dos combustíveis atingiram 306 milhões de euros, quando em idêntico período de 2007 tinham sido de 118 milhões de euros; portanto, os de 2008 foram superiores aos de 2007 em 159,3%. Como consequência os lucros líquidos totais da GALP, só no 1º semestre de 2008, somaram 524 milhões de euros. A GALP tem sido rápida em aumentar os preços dos combustíveis em Portugal quando o barril de petróleo no mercado internacional sobe. É quase imediato. No entanto, quando ele desce, como está a suceder agora, já não é tão rápida. Segundo a Direcção Geral de Energia do Ministério da Economia, entre Julho e Agosto de 2008, o preço do barril de petróleo em euros desceu no mercado internacional -10,6%, mas em Portugal a gasolina 95 baixou apenas -3,7%, a gasolina 98 somente -3,1%, e o gasóleo desceu -5,8%. E entre Agosto e a 1º quinzena de Setembro de 2008, o barril de petróleo desceu -7,7%, enquanto o preço da gasolina 95 baixou apenas -0,3% (25,6 vezes menos que a descida no petróleo) e o preço do gasóleo desceu -2,1% (3,6 vezes menos que a descida do petróleo). Os comentários parecem ser desnecessários.


O governo apresentou na Assembleia da República uma Proposta de Lei – A PL 418/2008 – que inclui a chamada "Taxa de Robim dos Bosques". Contrariamente àquilo que tem afirmado e escreveram também muitos jornalistas, esta proposta de lei, não cria uma nova taxa, mas apenas altera a formula de contabilização do custo do petróleo utilizado na produção de combustíveis a qual, com a descida do preço do petróleo que se está a verificar, até favorece a GALP. Assim, de acordo com o artº 4º da Proposta de Lei do governo "as empresas de fabricação ou distribuição de produto petrolíferos refinados ficam obrigadas, para efeitos fiscais, a adoptar os métodos FIFO ou do custo médio ponderado". E "a diferença positiva entre a margem bruta de produção determinada com base na aplicação dos métodos FIFO ou do custo médio ponderado no custeio das matérias primas consumidas e a determinada com base na aplicação do método de custeio adoptado na contabilidade está sujeita a uma tributação autónoma em IRC , à taxa de 25%".


É evidente, e para isso não é preciso ter muitos conhecimentos técnicos para compreender isso, que basta à empresa adoptar na sua contabilidade o mesmo sistema de custeio que é obrigada para efeitos fiscais, que não tem de pagar nada mais IRC. Para além disso, com a descida que se está a verificar no preço do barril de petróleo, a adopção do método de custeio FIFO ou preço médio ponderado, constante na proposta de lei, ainda favorece a GALP porque são considerados, em primeiro lugar, as aquisições de petróleo mais antigas, cujos preços são mais elevados, o que faz descer a margem entre custos e proveitos e, consequentemente, também baixa a matéria colectável, o que determina a redução do imposto (IRC) a pagar, precisamente o contrário daquilo que pretendia o governo que era antecipar o pagamento do IRC para obter mais receita em 2009, ano de eleições. Em Março de 2008, o actual governo aprovou a Resolução do Conselho de Ministros nº 55/2008, que passou despercebida à opinião pública e aos media, que vai determinar que a GALP pague menos 211,8 milhões de euros de IRC.


Como os principais accionistas da GALP são o Amorim com 33,34% do capital, que é o homem mais rico de Portugal como noticiaram os jornais, e o grande grupo económico italiano de energia ENI, também com 33,34% do seu capital, serão estes os grandes beneficiados com esta benesse do governo dada à custa das receitas do Estado. Para se poder ficar com uma ideia mais clara que interesses o governo de Sócrates efectivamente defende interessa recordar o seguinte: durante o debate do Orçamento do Estado de 2008, o grupo parlamentar a que o autor deste estudo pertencia apresentou uma proposta com o objectivo de aumentar os escalões do IRS em 3% relativamente aos valores que vigoraram em 2007 devido ao facto da taxa de inflação em 2008 aumentar 3%, e não o 2,1% previsto pelo governo. Apesar desta medida determinar uma redução de receita fiscal que estimamos em apenas 60 milhões de euros, mesmo assim o governo de Sócrates recusou-se aceitá-la. No entanto, oferece de mão beijada 200 milhões de euros do IRC à GALP, quer dizer ao homem mais rico de Portugal, e ao grupo económico italiano ENI. É evidente que serão depois principalmente os trabalhadores e os reformados a ter de pagar este "buraco" criado nas receitas fiscais através dos seus impostos



  • Eugénio Rosa

Uma espécie de vacina


São múltiplas e dissimuladas as cadeias de compromisso e servilismo entre a informação portuguesa dos media de referência, neste caso a RTP, e os interesses do capitalismo monopolista.





A Festa do «Avante!» decorreu nos passados dias 5 a 7. Nos três dias exactamente anteriores, a RTP, estação pública, transmitiu de rajada no seu segundo canal os três episódios de uma espécie de mini-série documental produzida na Alemanha em 2005 com o saboroso e didáctico título de «Comunismo – O Fim de uma Ilusão».


Poderá dizer-se, decerto, que o fez nesses três dias em consequência apenas de um curioso acaso. Poderá dizer-se, mas será então difícil encontrar alguém que acredite na explicação. Na verdade, qualquer sujeito minimamente perspicaz ou até abaixo disso entenderá que a suposta coincidência não mascara a intenção de ministrar a pelo menos alguns milhares de telespectadores uma espécie de vacina capaz de reforçar o vírus anticomunista cuja existência é aliás objecto de abundantes e permanentes desvelos por parte da RTP em todos os seus canais.


Neste caso particular, a coisa teve todo o ar de ser uma espécie de miniguerra preventiva no plano ideológico, até porque, como se sabe, estas acções de prevenção, quer de natureza militar quer de qualquer outra, são muito da cartilha USA. Ora, sendo as coisas o que são, isto é, havendo sempre interesse em reafirmar publicamente e por actos a fidelidade da informação RTP aos grandes valores atlânticos, a eventualidade de o suposto acaso ter sido de facto um caso, mais um, de vassalagem ideológica, surge como altamente provável. Por mim, é para esta explicação, e não para a de uma inocente coincidência, que me inclino. Se me engano, peço desde já desculpa mas, como disse um dia o doutor Salazar, em política o que parece é. E a informação também é acção política, como muito bem sabe quem a faz ou pelo menos quem a comanda.


Quanto ao conteúdo da tripla emissão, qualquer olhar sereno terá verificado que se limitou a repetir, embora em dose compacta, as falácias, omissões de fundamental gravidade e inverdades muito repetidas (na esperança de que a repetição as transforme em verdades nas cabecinhas desinformadas) que consubstanciam a habitual linha de ataque do anticomunismo profissional. A primeira delas é a pretensa sinonímia entre a derrota da União Soviética na Guerra-Fria e o proclamado «fim do comunismo». A verdade estrategicamente omitida é que o comunismo (doutrina, projecto, luta política que se fundamenta numa certa leitura da realidade e tem como objectivo uma transformação da sociedade no sentido de a tornar mais justa) existia antes de 1917 e continuou a existir depois 1991, no poder em alguns estados e nas populações de todos ou quase todos lugares do mundo. Aliás, se assim não fosse careceria de sentido o permanente bombardeamento anticomunista a que se entregam as centrais de desinformação. Dir-se-á talvez que a tentativa soviética falhou não só porque foi derrotada mas também porque, ao fim de setenta anos, o marxismo-leninismo não conseguira construir a sociedade que, inicialmente, se propusera. É verdade que não o conseguiu. Mas não é menos verdade que o Cristianismo não conseguiu, ao fim de mais de 2000 anos, a construção de uma sociedade verdadeiramente cristã para lá das farisaicas aparências. E ninguém parece surpreender-se com esse manifesto falhanço e tomá-lo como se o Cristianismo está morto ou merece morrer.


Quanto à história da União Soviética e da sua derrota, que foi afinal o exclusivo tema do documentário tripartido transmitido pela RTP, não cabe aqui tudo o que seria necessário para a reposição de pelo menos as verdades fundamentais. Mas recorde-se, pelo menos, como a URSS esteve sempre debaixo de cerco e agressão (militar, económica, propagandística), o que o documentário sempre minimizou ou escondeu, e entenda-se como essa situação permanente é impeditiva de que uma sociedade se construa com plena fidelidade a um projecto e a um desejo colectivo.


Perceba-se, até pelo recentíssimo caso da Geórgia a documentar até onde vai a progressão norte-americana/capitalista para Leste, o que já esteve no âmago dos casos da Checoslováquia e da Hungria. Recorde-se que a corrida armamentista imposta pelos Estados Unidos tolheu, pelo peso dos recursos financeiros que exigiu, o percurso soviético para a produção dos bens de consumo a que o Ocidente teria acesso. Não se esqueça que os serviços secretos ocidentais existem, têm poderosíssimos meios (como as séries de televisão muitas vezes ilustram) e que nem o Vaticano se livra de estar na sua órbita. E, finalmente, que sempre a opressão será geradora do desejo de construir sociedades justas. O que garante a sobrevivência do projecto comunista.




  • Correira da Fonseca

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

O INICIO DO ANO ESCOLAR (2008/2009)

Centenas de milhar de crianças e jovens estão a iniciar o ano lectivo de 2008-2009. O País vai depender destas gerações, das capacidades que vão adquirir assim como dos valores e da solidariedade e da cultura que vão obter durante a sua aprendizagem.

À partida, uma parte significativa das famílias dos trabalhadores estão com dificuldades para poder concretizar todo o apoio e meios necessários que os seus filhos necessitam para desempenhar as funções e objectivos que precisam de atingir nas escolas.

Os livros aumentaram, em média, 6%. Trata-se de um negócio que envolve 80 milhões de euros, a saírem dos orçamentos familiares. Ora é facto indesmentível que a generalidade dos trabalhadores não teve aumentos reais de salários e muitos e muitos milhares perderam poder de compra.

Para além dos significativos custos dos livros, constituem-se também como encargos pesados os materiais escolares, o vestuário, os transportes, as propinas. As dificuldades financeiras das famílias são tais, que a Banca (sempre atenta à exploração das necessidades das pessoas) abriu mais uma linha de crédito para os “materiais escolares”.

As famílias estão sobreendividadas e têm que se endividar mais para comprar os materiais escolares e outros apoios para as crianças e jovens estudantes.

Às famílias cujos filhos estão no 1º e 2º escalão do abono de família, dirige-se agora, fundamentalmente a Acção Social Escolar. No 1º escalão são beneficiárias 626.122 crianças e jovens e, no 2º escalão, 515.958, a partir dos dados de Dezembro de 2007. Estes dados constituem-se como sinais das dificuldades das crianças e das suas famílias.

A CGTP-IN reafirma, nesta abertura do ano escolar, que a democratização da educação e das condições económicas, sociais e culturais, para que a educação promova a igualdade, só as escolas públicas podem concretizar.

O Estado tem essa obrigação de defender e concretizar condições para que a todas as crianças e jovens sejam propiciadas condições idênticas de oportunidade e meios mínimos indispensáveis a poderem concorrer em pé de igualdade.

Neste início de ano lectivo é ainda fundamental debater o insucesso escolar e a desistência de muitos jovens dos seus percursos escolares.

Exigem-se profundas mudanças nas políticas deste Governo, no plano económico, social e cultural, e muito na valorização do trabalho, para que se encontrem respostas eficazes a estes flagelos que se mantêm no nosso sistema de ensino.


  • Maria do Carmo Tavares

quinta-feira, 11 de setembro de 2008


A dignidade vencerá o crime


O que aconteceu a 11 de Setembro de 1973 no Chile não foi unicamente um golpe militar nem a substituição de um governo eleito democraticamente por uma ditadura. O 11 de Setembro foi o início de uma guerra total e cruel de um bando de fascistas e assassinos formados e comprados pelos Estados Unidos para liquidar a soberania do povo chileno e sufocar a sua escolha libertadora. Foi uma guerra conduzida com tanques e bombas contra tudo onde se respirava democracia e liberdade, contra os trabalhadores, camponeses e sindicalistas, contra a Unidade Popular, comunistas e outros partidos de esquerda, cristãos progressistas, professores, sectores da cultura, médicos, estudantes, mulheres e crianças.

Passados 28 anos, um outro 11 de Setembro, perpetrado em Nova York por terroristas até há pouco aliados e amigos de confiança da América, viria a servir de pretexto aos Estados Unidos para o desencadear de uma cruzada sem precedentes contra a soberania dos povos. Os sectores mais obscurantistas, que a CIA e o Pentágono tinham formado nos anos oitenta para combater o processo democrático e revolucionário no Afeganistão, e mais tarde arregimentado para acelerar na Bósnia o desmembramento da Jugoslávia, ofereceram ao Governo de George Bush, em circunstâncias até hoje não esclarecidas, o pretexto ideal para a aplicação dos planos de domínio militar planetário do imperialismo.

Na Europa, nas grandes manifestações de protesto contra a agressão norte-americana no Iraque e no Afeganistão voltaram-se a ouvir palavras de ordem como «Bush Assassino!», expressões até então especialmente reservadas para designar o sanguinário general Pinochet. Os nomes de Bush e Pinochet ficarão para sempre ligados aos crimes mais hediondos e sem escrúpulos, aos esquadrões da morte, aos raptos e à prática da tortura, aos massacres de milhares e milhares de inocentes, aos fuzilamentos de resistentes, ao desprezo pelo direito internacional, aos bombardeamentos de edifícios governamentais e das populações civis, à exploração e opressão dos povos ao serviço dos interesses egoístas do lucro e da geopolítica dos grandes monopólios internacionais. E se o ditador chileno e o presidente norte-americano simbolizam o que há de mais sinistro à face da terra, há duas figuras na América Latina que ficarão para sempre como exemplos inabaláveis da vitória da Dignidade contra o crime.

A primeira é Fidel de Castro, o dirigente da Revolução Cubana, objecto de numerosas tentativas de assassinato por parte dos Estados Unidos, reveladas em 2007 com a publicação dos arquivos da CIA. E a segunda é Salvador Allende, eleito Presidente da República do Chile em 1970 e cujo centenário do nascimento acaba de ser celebrado no dia 26 de Junho. A actual situação na América Latina e os ventos da esperança que ali sopram cada vez mais fortes são inseparáveis do exemplo e da resistência do povo de Cuba Socialista e do Chile da Unidade Popular.

Nem o heróico sacrifício de Salvador Allende, nem a luta de David contra Golias do povo cubano, pondo fim à ditadura fascista de Batista e ao neocolonialismo norte-americano, foram em vão. Os povos libertar-se-ão. A Dignidade vencerá o crime.




  • Rui Paz

CHILE 35 ANOS DEPOIS...




«Hoje, a partir do poder norte-americano, o relatório Church, documentos desclassificados pela CIA, memórias pessoais de autoridades próximas de Nixon, podemos saber a verdade exacta da sangrenta operação forjada durante dez anos pelos EUA (1963-1973)»



Terça-feira, 11 de Setembro de 1973, o destino de uma nação e as esperanças de um continente vão alterar o curso da história…O desaparecimento forçado, a tortura, a prisão política e a delação inaugurarão uma etapa considerada «vitoriosa» pelos Estados Unidos.

O Presidente Salvador Allende Gossens deu a sua vida pela determinação de cumprir o mandato do povo e tornou-se em todo o mundo num símbolo de dignidade. Apesar de não ter chegado a meio do mandato, Allende foi uma das figuras mais decisivas da história do Chile do século vinte. Hoje, a partir do poder norte-americano, o relatório Church, documentos desclassificados pela CIA, memórias pessoais de autoridades próximas de Nixon, podemos saber a verdade exacta da sangrenta operação forjada durante dez anos pelos EUA (1963-1973).Depois do reconhecimento do triunfo de Allende pelo Senado chileno, nos EUA registam-se duas reuniões em 8 e 14 de Setembro de 1970. Precisamente nesses dias, o presidente da Pepsi-Cola, Donald M. Kendall, pôs a sua marca pessoal nesta trágica história.

Em 14 de Setembro, dez dias depois da eleição presidencial chilena, Kendall foi à Casa Branca e pediu a Nixon, que tinha sido advogado da Pepsi-Cola, que concedesse uma audiência extraordinária a um seu amigo e sócio chileno, Agustin Edwards, proprietário de um dos diários mais influentes do Chile: El Mercúrio. A relação entre Nixon e Kendall baseava-se numa dívida política (e as dívidas são para pagar…): Kendall tinha reconstruído a carreira política de Nixon, desde a sua derrota para Governador da Califórnia até o colocar na Casa Branca.

Repetiu-se uma cena tantas vezes vivida na América Latina: o poder das transnacionais procura torcer a favor dos seus interesses a História, independentemente dos custos humanos, associando-se para isso com os empresários locais ultra-conservadores.A reunião de Nixon com Kendall realizou-se a 15 de Setembro de 1970, o que diz bem a prioridade do assunto para a Casa Branca. O poderoso empresário chileno Agustín Edwards pediu a ajuda dos Estados Unidos para evitar o desastre no Chile [1].

Nas suas memórias, Kissinger endossa ao chileno Edwards a responsabilidade de ter pressionado Nixon, de lhe ter «esquentado» o ânimo para que decidisse acções drásticas. Depois desta entrevista, nessa mesma tarde, Nixon reuniu-se com Kissinger, o Procurador-Geral John Mitchell – que se encontrava ali a título particular e não oficial – e Richard Helms, director da CIA, que registou algumas notas dessa reunião:• Ainda que haja só uma possibilidade em dez, salve o Chile• Gaste-se o que for preciso• Não meter a embaixada nisto• Dez milhões de dólares disponíveis, há mais se for necessário• Trabalhar a tempo inteiro, os melhores homens disponíveis• Elaborar um plano estratégico considerando várias hipóteses• Fazer gritar de dor a economia (chilena)• 48 horas para o plano de acção«Nesse encontro, Nixon disse aos três para não informarem destas orientações o Secretário de Estado, o Secretário da Defesa, o embaixador no Chile e o Chefe da CIA no Chile.

Em toda a minha carreira, este foi o meu maior segredo» disse Richard Helms, nas suas memórias. O relatório Church registou o resultado desta reunião: «Em 15 de Setembro, o Presidente Nixon informou o director da CIA, Richard Helms, que um governo de Allende não era aceitável para os Estados Unidos e instruiu a CIA para que tivesse um papel directo na organização de um golpe militar no Chile, para evitar que Allende chegasse à presidência». E o próprio director da CIA registou o facto nas suas memórias: «O Presidente ordenou-me que instigasse um golpe militar no Chile, um país até então democrático [2]. E acrescentou nas suas notas que a Nixon e Kissinger «não os preocupava os riscos que isto continha».

No entanto, esta primeira etapa, destinada a evitar que Allende subisse à presidência fracassou rotundamente, o que provocou uma segunda reunião de urgência. Por essa altura, com Allende já em La Moneda, todos os esforços da Casa Branca – conclui o relatório Church - «estavam orientados para o golpe militar».O resultado desta sedição norte-americana, 35 anos decorridos depois dos factos, dá hoje origem a interessantes e inéditas reflexões de chilenos bem situados para uma leitura histórica e os seus efeitos reais no Chile de hoje. A vitoriosa estratégia dos EUA e o seu aperfeiçoamento e incursão noutros países do Terceiro Mundo. A necessidade de uma memória histórica e o papel dos media.

[1] Henry Kissinger, Whithe House Years (Brown, Boston: Little, 1978).

[2] Richard Helms, A Look over my Shoulder (New York: Random House, 2003)


* Patricia Parga-Vega

terça-feira, 9 de setembro de 2008

OS SENHORES REAIS DA DROGA

Notas sobre o envolvimento da CIA no comércio de estupefacientes


1947 a 1951, FRANÇA
Segundo Alfred W. McCoy, autor de The Politics of Heroin: CIA Complicity in the Global Drug Trade e The Politics of Heroin: CIA Complicity in the Global Drug Trade , as armas, o dinheiro e a desinformação da CIA permitiram aos sindicatos do crime corsos em Marselha arrebataram o controle de sindicatos de trabalhadores ao Partido Comunista. Os corsos ganharam influência política e controle sobre as docas — condições ideais para consolidarem uma parceria a longo prazo com distribuidores da máfia da droga, os quais transformaram Marselha na capital da heroína do mundo ocidental.
Os primeiros laboratórios de heroína de Marselha foram abertos em 1951, poucos meses depois de os corsos tomarem conta da zona portuária.
PRINCÍPIO DA DÉCADA DE 1950,
SUDESTE ASIÁTICO O exército nacionalista chinês, organizado pela CIA para travar guerra conta a China Comunista, tornou-se o barão do ópio do Triângulo Dourado (partes da Birmânia, Tailândia e Laos), a maior forte de ópio e heroína do mundo. A Air America, a principal companhia aérea de propriedade da CIA, transportava as drogas para toda a parte do Sudeste Asiático. (Ver Christopher Robbins, Air America , 1985, capítulo 9)
DA DÉCADA DE 1950 AO PRINCÍPIO DA DE 1970, INDOCHINA
Durante o envolvimento militar dos EUA no Laos e em outras partes da Indochina, a Air America transportava ópio e heroína por toda a parte. Muitos soldados americanos (GIs) no Vietname ficaram viciados. Era utilizado um laboratório construído no centro de comando da CIA no Laos para refinar heroína. Após uma década de intervenção militar americana, o Sudeste da Ásia tornou-se a fonte de 70 por cento do ópio ilícito do mundo e o principal fornecedor de matérias-primas para o mercado de heroína em explosão dos EUA.
1973-80, AUSTRÁLIA
O Nugan Hand Bank de Sydney era um banco da CIA em tudo, excepto no nome. Entre os seus responsáveis estava uma rede de generais e almirantes dos EUA e homens da CIA, incluindo o antigo director ciático William Colby, que era também um dos seus advogados. Com agências na Arábia Saudita, Europa, Sudeste da Ásia, América do Sul e nos EUA, o Nugan Hand Bank financiou o tráfico de droga, lavagem de dinheiro e negócios internacionais de armas. Em 1980, em meio a várias mortes misteriosas, o banco entrou em colapso com uma dívida de US$50 milhoes. (Ver Jonathan Kwitny, The Crimes of Patriots: A True Tale of Dope, Dirty Money, and the CIA )
DÉCADAS DE 1970 E 1980, PANAMÁ
Durante mais de uma década, o homem forte do Panamá, Manuel Noriega, foi um activo e colaborador da CIA muito bem pago, apesar de as autoridades estado-unidenses da droga saberem desde 1971 que o general estava pesadamente envolvido no tráfico de drogas e lavagem de dinheiro. Noriega facilitou voos "armas-por-drogas" para os contras, proporcionando protecção e pilotos, bem como abrigos seguros para responsáveis pelo cartel da droga, e discretas facilidades bancárias.

Responsáveis dos EUA, incluindo o então director da CIA William Webster e vários responsáveis do DEA, enviaram a Noriega cartas de agradecimento pelos esforços para impedir o tráfico de droga (embora só contra competidores do seus patrões do Cartel de Medellin). O governo dos EUA só se voltou contra Noriega, invadindo o Panamá em Dezembro de 1989 e sequestrando o general depois de descobrir que ele fornecia informações e serviços aos cubanos e sandinistas. Ironicamente, o tráfico de droga através do Panamá aumentou após a invasão dos EUA. (John Dinges, Our Man in Panama ; National Security Archive Documentation Packet The Contras, Cocaine, and Covert Operations.)
DÉCADA DE 1980, AMÉRICA CENTRAL /
Séries de artigos no San Jose Mercury News documentam um aspecto das operações entremeadas que ligam a CIA, os contras e os carteis da cocaína. Obcecada em derrubar o governo sandinista na Nicarágua, responsáveis da administração Reagan toleraram o tráfico de droga desde que os traficantes dessem apoio aos contras. Em 1989, o Subcomité do Senado sobre Terrorismo, Narcóticos e Operações Internacionais (o comité Kerry) concluiu uma investigação de três anos com declarando:

"Houve prova substancial de contrabando de droga através de zonas de guerra da parte de contras individuais, fornecedores dos contra, pilotos mercenários que trabalhavam com os contras, e apoiantes dos contra por toda a região... Responsáveis dos EUA envolvidos na América Central deixaram de tratar da questão da droga por receio de por em risco os esforços de guerra contra a Nicarágua... Em cada caso, um ou outra agência do governo dos EUA tinha informação respeitante ao envolvimento enquanto o mesmo se verificava, ou imediatamente depois... Decisores políticos sénior dos EUA não foram imunes à ideia de que o dinheiro da droga era uma solução perfeita para os problemas de financiamento dos contra". (Drugs, Law Enforcement and Foreign Policy, a Report of the Senate Committee on Foreign Relations, Subcommittee on Terrorism, Narcotics and Intemational Operations, 1989)

Na Costa Rica, que serviu como "Frente Sul" para os contras (Honduras sendo a Frente Norte), havia várias diferentes redes CIA-contra envolvidas no tráfico de droga. Além daqueles que prestavam serviço à operação Meneses-Blandon pormenorizada pelo Mercury News, e da operação de Noriega, houve o operacional da CIA John Hull, cujas fazendas ao longo da fronteira da Costa Rica com a Nicarágua foram a principal área de treino para os contras. Hull e outros apoiantes dos contra conectados com a CIA trabalhavam em conjunto com George Morales, um grande traficante de droga colombiano com base em Miami que posteriormente admitiu dar US$3 milhões em cash e vários aviões aos líderes contra. Em 1989, depois de o governo da Costa Rica processar Hull por tráfico de droga, a DEA contratou, clandestinamente e ilegalmente, um avião para transportar o operacional da CIA para Miami, via Haiti. Os EUA repetidamente obstruíram os esforços da Costa Rica para extraditar Hull de volta ao país a fim de ser julgado. Um outro grupo com base na Costa Rica envolvia um grupo de cubano-americanos a quem a CIA havia contratado como treinadores militares para os contras. Muitos deles estavam há muito envolvidos com a CIA e o tráfico de droga.

Eles utilizaram aviões contra e um companhia com sede na Costa Rica, a qual lavava dinheiro para a CIA, para transportar cocaína para os EUA. A Costa Rica não era a única rota. A Guatemala, cujo serviço de inteligência militar — estreitamente associado com a CIA — abrigava muitos traficantes de droga, segundo a DEA era outra estação ao longo da rota da cocaína. Além disso, o contabilista de Miami do Cartel de Medellin, Ramon Milian Rodriguez, testemunhou ter canalizado cerca de US$10 milhões para os contras da Nicarágua através do antigo operacional da CIA Felix Rodriguez, o qual actuava na Base da Força Aérea de Ilopango, em El Salvador.
Os contras proporcionavam tanto protecção como infraestrutura (aviões, pilotos, pistas de decolagem, companhias de fachada e bancos) a estas redes de droga ligadas à CIA. Pelo menos quatro companhias de transporte sob investigação para tráfico de droga receberam contratos do governo dos EUA para transportarem abastecimentos não letais para os contras. A Southern Air Transport, "antigamente" de propriedade da CIA, e depois sob contrato do Pentágono, também estava envolvida no transporte de droga. Aviões carregados de cocaína voaram para a Flórida, Texas, Lousiana e outros locais, incluindo várias bases militares designadas como "Contra Craft". Estes carregamentos não eram inspeccionados.
Quando alguma autoridade não estava ciente e fazia uma prisão, influências poderosas eram postas em marcha a fim de abafar o caso, libertar, reduzir a sentença ou a deportação.
DÉCADA DE 1980 AO PRINCÍPIO DA DE 1990, AFEGANISTÃO
A CIA apoiou os Moujahedeen pesadamente ligados ao tráfico de droga enquanto combatiam o governo apoiado pelos soviéticos e os seus planos para reformar a muito atrasada sociedade afegã. O principal cliente da agência era Gulbuddin Hekmatyar, um dos principais senhores da droga e o principal refinador de heroína.
A CIA forneceu camiões e mulas, as quais tendo carregdo armas para dentro do Afeganistão, eram utilizadas para transportar ópio para laboratórios ao longo da fronteira afegã-paquistanesa. A produção abastecia a metade da heroína usada anualmente nos Estados Unidos e três quartos daquela usada na Europa Ocidental. Responsáveis dos EUA admitiram em 1990 que não haviam investigado ou actuado contra a operação da droga pelo desejo de não ofenderem seus aliados paquistaneses e afegãos.
Em 1993, um responsável da DEA denominou o Afeganistão como a nova Colômbia do mundo da droga.
MEADOS DA DÉCADA DE 1980 AO PRINCÍPIO DA DE 1990, HAITI
Enquanto trabalhava para manter no poder líderes políticos e militares haitianos, a CIA fechava os olhos ao tráfico de droga dos seus clientes. Em 1986, a agência acrescentou mais alguns nomes à sua folha de pagamentos ao criar uma nova organização haitiana, o National Intelligence Service (SIN). O SIN foi criado alegadamente para combater o comércio de cocaína, embora os próprios responsáveis do SIN empenharem-se no tráfico, um comércio com a cumplicidade de alguns dos líderes militares e políticos haitianos.

  • william Blum
  • JCP
  • pcp
  • USA
  • USA