quinta-feira, 29 de julho de 2010

O pai da política de direita


 
Às terças-feiras, infalivelmente, Mário Soares enche, de cabo a rabo, uma página do Diário de Notícias (só legível por dever de ofício, diga-se, em abono da verdade).

 Ali, Soares, de espada em riste, trava a semanal cruzada na defesa daquela que é, inequivocamente, a menina dos seus olhos: a política de direita.

 A política de direita por ele concebida e da qual é o incontestável e incontestado pai; por ele iniciada em 1976, enquanto líder, reconhecido internacionalmente, da contra revolução; e, de então para cá, praticada por sucessivos governos PS/PSD/CDS-PP. Com os resultados que estão à vista.

Ali, Soares faz o elogio repetido do protagonista principal dessa política, na actualidade: José Sócrates, ao qual não se cansa de incentivar e no qual não pára de descobrir inteligência e coragem.

 Ali, Soares exibe a sua condição de propagandista do capitalismo do qual ele tem sido, em Portugal, o maior e mais eficaz defensor nas últimas décadas.

 Ali, Soares faz o incontinente panegírico de Obama, o líder por excelência, afinal o único que, certamente por obra e graça das guerras e ocupações do Iraque, do Afeganistão, da Colômbia, das Honduras, da Costa Rica…, é capaz de assegurar ao imperialismo norte-americano o domínio do mundo.

 Enfim, ali, Soares mostra o que é – e confirma o que sabemos que é.

 Na última terça-feira, os aplausos do pai da política de direita foram para o bispo auxiliar de Lisboa, Carlos Azevedo. Mais precisamente para as declarações por este proferidas – e que os média dominantes se fartaram de divulgar – sobre a «crise» e sobre as «soluções» para a dita.

Das propostas do bispo auxiliar, a que mais fundo tocou a sensibilidade, digamos assim, de Mário Soares foi a do «pacto social sustentado e justo entre cidadãos, partidos, sindicatos e empresários».

 Soares vê na proposta do bispo o «remédio seguro para vencer a crise».

 Porque «a crise toca a todos», não é verdade? E nada melhor do que «o empenhamento de todos, o compromisso solidário», para «vencer a crise», isto é: para assegurar a continuação da política de direita...
  
De que Soares é o pai.
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