sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Os subversivos


O Luís e a Catarina foram condenados esta terça-feira, 11 de Novembro de 2008, pelo «crime de dano qualificado de bem público». A sentença, proferida por uma juíza do Tribunal de Viseu, foi ditada 34 anos, 6 meses e 17 dias depois do derrube do fascismo nessa data histórica de 25 de Abril de 1974.

O Luís e a Catarina – com 26 e 24 anos, respectivamente – não viveram esses tempos exaltantes em que o povo saiu à rua a festejar a liberdade, em que os militares traziam cravos vermelhos nos canos das espingardas, em que os fascistas fugiam para os «brasis» da época como ratos à procura de toca.

O Luís e a Catarina também não viram a festa das primeiras eleições livres nem celebraram a aprovação da Constituição democrática, tal como não assistiram ao fim da guerra colonial nem à libertação dos presos políticos, nem à Reforma Agrária, nem às nacionalizações, nem a tantas outras coisas fruto da Revolução de Abril que deram dignidade à vida dos trabalhadores e do povo português.

O Luís e a Catarina não existiam ainda no 11 de Março nem no 25 de Novembro, mas quando abriram os olhos para a vida, quando ensaiaram os primeiros passos, quando balbuciaram as primeiras palavras, quando escreveram as primeiras letras, quando começaram a sonhar o futuro tiveram sempre uma rádio, uma televisão, um jornal, um Governo a garantir-lhes que viviam numa democracia. Eventualmente, aprenderam na escola que a Constituição portuguesa consagra direitos, liberdades e garantias a todos os cidadãos, incluindo a liberdade de expressão.

O Luís e Catarina aprenderam por certo muitas coisas nas suas jovens vidas. Cresceram, fizeram opções, tomaram partido. E num dia de Abril de 2006, na qualidade de cidadãos livres que escolheram militar na Juventude Comunista, saíram à rua para pintar num viaduto de Viseu, a grande transgressão das suas vidas: «8.º congresso da JCP. Transformar o sonho em vida. 20 e 21 de Maio. Vila Nova de Gaia».

A Câmara/PSD denunciou a pintura, a PSP apreendeu-lhes o material e identificou-os, o Ministério Público acusou-os de crime, o Tribunal de Viseu condenou-os.O Luís e a Catarina são um perigo público que é preciso combater: acreditam na liberdade.


  • Anabela fino
Já sabiam...


Foi notícia há dias que, durante o mês de Agosto, a Segurança Social levantou cerca de 300 milhões de euros dos depósitos que tinha no Banco Português de Negócios (BPN), facto ocorrido quando o Governo de José Sócrates já tinha conhecimento de que o banco estava insolvente.

Adicionalmente, soube-se que, entre Julho e Outubro últimos, estes levantamentos de depósitos no BPN realizados pela Segurança Social ascenderam a cerca de 500 milhões de euros e, mesmo assim, ainda por lá deixaram cerca de 200 milhões, pois a totalidade dos depósitos feitos pelo ministério da Segurança Social no BPN já haviam atingido os 700 milhões de euros, ou seja mais de um terço dos dois mil milhões que – reconhece agora o ministro responsável, Vieira da Silva – a respectiva tutela depositou em oito bancos nacionais.

Para rematar, estes levantamentos tão expeditos como volumosos foram encarados pelo gestor de serviço no BPN, o inefável Miguel Cadilhe, como uma «actuação hostil» por parte do Estado, pois contribuiu para acelerar o afundamento da instituição, já a braços com graves «problemas de liquidez».

Lá acelerar, decerto que acelerou, mas concluir que o acto foi «hostil», só se o foi para as ambições de Cadilhe que, segundo boatos, terá aceitado há poucos meses presidir ao periclitante BPN na mira de uma choruda reforma (fala-se em 10 milhões de euros), pelos vistos suficientemente apetitosa para tornar o economista Cadilhe insensível ao aviso que se evidenciava na recusa de vários dos seus pares em aceitar o mesmo encargo.Seja como for, os pontos que interessam na questão são bem outros.

Começa pela admissão a contragosto do ministro Vieira da Silva de que, afinal – e contrariando frontalmente garantias anteriores do próprio governante -, o dinheiro dos trabalhadores entregue à Segurança Social anda mesmo a ser «negociado» em depósitos na banca – e num volume de dois mil milhões de euros, isto para já e até eventuais novas confissões a contragosto... Continua pela escolha do BPN como «receptáculo» de mais de um terço dessa imensa verba de dois mil milhões de euros, quando há anos se avolumam boatos, suspeições e até investigações judiciárias sobre esta instituição bancária.

E desemboca-se nesta operação de «levantamentos à pressa» de 500 milhões de euros do BPN a expor o inacreditável: que o Governo de José Sócrates estava perfeitamente a par, desde pelo menos Julho último, da situação de ruptura financeira em que se encontrava o BPN, apressando-se por isso a recuperar depósitos.Isto deixa o ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, num insanável conflito com a honestidade quando em Outubro, há escassas semanas, garantia nada saber das dificuldades que afligiam o BPN.

Mas também o presidente do Banco de Portugal, Victor Constâncio, vê tornar-se inadmissível a sua confessada ignorância sobre o mesmo assunto, tal como o primeiro-ministro José Sócrates se vê na contingência de explicar por que se «jogou» o dinheiro da Segurança Social nos negócios bancários, por que se escolheu como principal «parceiro» um banco que o próprio Governo sabia estar sob suspeita e, finalmente, por que nada opôs a que a CGD lá enterrasse mais 200 milhões de euros de «empréstimo» quando a falência já estava à vista.Decerto que, mais uma vez, José Sócrates nada irá explicar. Nas próximas eleições averiguar-se-á se o eleitorado compreendeu na mesma.
  • Henrique custódio

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