quinta-feira, 17 de dezembro de 2009


Um jornal anticomunista e ignorante

Sob o título de «Um deputado bolchevique», o Correio da Manhã publicou um texto em que procura enxovalhar a escolha de um parlamentar comunista, para imagem de fundo do computador da Assembleia da República, suportados numa foto da dita, que publicam para ilustrar a matéria.

 
Na foto vê-se um jovem soldado a hastear a bandeira da União Soviética no alto de um edifício, num fundo que indica uma severa destruição.

 
Tendo decidido que ali estavam as provas de um sério delito, o CM determinou que a utilização da fotografia do «célebre assalto ao Palácio de Inverno», acto que marcou o início da gloriosa Revolução de Outubro, significava a revelação de um perigoso (digo eu) adepto bolchevique.

 
Sobre este episódio será necessário assinalar quatro questões.

 
1. tal texto manifesta uma evidente ignorância, pois a fotografia (como espero se consiga perceber pela discrição) não é da Revolução de Outubro, mas do hastear da Bandeira Soviética no alto do Reichstag (Edifício do Parlamento Alemão), a 1 de Maio de 1945, para marcar a conquista da capital alemã por parte do Exército Vermelho, depois de uma jornada vitoriosa que só parou com o fim da segunda guerra mundial, custando milhões de mortos àquele heróico povo.

 
2. tais linhas fazem anticomunismo a partir não só da falsidade, mas mesmo de um erro histórico por demais evidente pois a bandeira da União Soviética, que cruza a foice e o martelo em representação da aliança da classe operária com o campesinato, e leva ainda a estrela de cinco pontas, sobre o fundo vermelho, apenas foi adoptada em 1923, ou seja seis anos depois do assalto ao Palácio de Inverno.

 
3. desta vez, foi possível identificar a mistificação, a deturpação, a manipulação a que é sujeita a, assim chamada, informação sobre o PCP e sobre os seus quadros e dirigentes. Mas quantas vezes não lemos apenas as caricaturas que tal ou tal jornal fazem e difundem como se de verdades se tratasse.

 
A quarta decorre de tal escrito incluir uma referência cínica à ideia de que, perante tal imagem, o deputado do PCP poderia falar «de democracia, de direitos humanos, e de outras coisas mais» à vontade. É que é indispensável deixar dito que perante qualquer uma das imagens, podem os comunistas, os revolucionários, os democratas e os progressistas de todo o mundo orgulhar-se, e podem ali ir buscar, de facto, «inspiração» para a luta dos nossos tempos. Pois aqueles são dois belos exemplos dos contributos insubstituíveis que os trabalhadores e o povo da União Soviética deram para a luta contra a barbárie, pela paz e pelo progresso da humanidade. Mas disso, que sabe o Correio da Manhã?

  • João Frazão
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