quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Vencer

Mário Nogueira, líder da FENPROF, foi muito claro na passada terça-feira à saída de um encontro com a Comissão Parlamentar de Educação a convite do seu presidente, o deputado do PS José Seguro: «Sem a suspensão da avaliação de desempenho não é possível haver qualquer outro passo para resolver este problema».

A declaração surgiu na sequência da luta generalizada decidida pelos professores em reunião do dia anterior, exigindo a suspensão do actual modelo de avaliação da carreira docente.

O próprio José Seguro fez questão de declarar que «nós consideramos ser essencial ouvir os professores e criar condições para que o diálogo seja o melhor instrumento», entrando em consonância com a opinião generalizada dos comentadores a compreender a revolta maciça dos 140 mil professores do País contra um modelo de avaliação de desempenho que, além de imposto vexatoria e autoritariamente pelo Ministério da Educação, é notoriamente absurdo e injusto.

Todavia, nessa mesma noite, a ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, afogueava-se frente a uma bateria de microfones, convocados em conferência de imprensa, para exibir a sua já famosa irredutibilidade. Começou por garantir que «hoje a avaliação é um adquirido para todas as escolas» que «têm preparado os instrumentos, os modelos, todos os procedimentos necessários à concretização da avaliação», insistindo em ignorar que, nessas escolas, a única coisa que se tornou adquirida é que este modelo de avaliação dos docentes é um alvo a abater pela generalidade dos professores.

Mas ao ser confrontada com a exigência da suspensão imediata deste modelo de avaliação apresentada por todos os sindicatos e conselhos de escola, a ministra lá concedeu que «continua a analisar o que se passa em todas as escolas e, no momento próprio, tomará as decisões que forem necessárias tomar», recuo disfarçado com «a garantia» de que «a avaliação de desempenho dos professores se fará».Quem bateu de seguida na mesma tecla foi o primeiro-ministro José Sócrates, ao repetir a lengalenga de que «ninguém tem o direito de violar a lei».

Mas quis tanto zurzir nos sindicatos em geral e na FENPROF em particular, que começou por hesitar quatro vezes para completar a frase «o dever dos sindicatos é defender o...» (à quarta hesitação lá atamancou a coisa com «...os seus associados») para finalmente, decretar que «não são os sindicatos que vão a votos. E se os sindicatos acham que vencem o Governo apenas porque o Governo está próximo das eleições estão enganados».Quem está rotundamente enganado é José Sócrates, e nem dá por isso.

Primeiro, os sindicatos vão a votos – e de todos os que representam -, ao contrário da sua ministra da Educação, que foi por ele escolhida.

Segundo, os sindicatos não querem vencer o Governo, mas suspender esta avaliação de desempenho.

Quem quer vencer os sindicatos é o primeiro-ministro, e o verbo escolhido por Sócrates não mente: realmente, um primeiro-ministro que não percebe a derrota de uma política de Educação quando a vê repudiada por 80% dos seus profissionais, manifesta, obviamente, um desprezo objectivo por quem trabalha.

Querer vencer os sindicatos, neste quadro mental, é mera decorrência.


  • Henrique Custódio


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