segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Estados Unidos: chegou a crise social




Nesta como nas outras crises sempre inerentes ao modo de produção capitalista, as principais vítimas não são os banqueiros e os especuladores que as provocam por ganância e delas saiem mais enriquecidos. As vítimas das crises, ao contrário do que as parangonas dos jornais e noticiários da TV pretendem fazer crer, são os milhões de trabalhadores e camadas médias da sociedade.


A divulgação dos últimos números do desemprego nos Estados Unidos não trouze boas notícias: só em Setembro destruíram-se 100.000 postos de trabalho. A estes somam-se os ais de 84.000 perdidos em Agosto.

O desemprego subiu para 6,1% e com estes números, desapareceram em 2008 mais de 600.000 empregos. Este índice é um dos mais altos desde a recessão de 2001, a que se juntam os aumentos dos produtos básicos, do combustível e enorme endividamento das famílias trabalhadoras.

As primeiras consequências sociais da crise reflectem-se em imagens inauditas como as cidades-tenda que cresceram nos arredores das grandes cidades como Los Angeles e São Francisco. Este é um dos retratos mais sombrios: milhares de pessoas a viverem com as suas famílias nos seus automóveis ou em tendas. Muitos dos habitantes destas cidades precárias são famílias trabalhadoras (uma grande parte negra e latino-americanos, os sectores mais afectados pelas hipotecas lixo). Muitos abandonaram os seus andares, para fugirem dos desalojamentos e das dívidas. O combustível para aquecer as casas aumentou 30% desde 2007 e, uns meses antes do Inverno, o governo dos EUA ameaçou cortar a ajuda ao combustível para aquecimento nos bairros de baixos rendimentos, dentro do corte de medidas sociais (em grande parte com menos dotações pelos cortes dos impostos aos ricos).

Já em Abril o governo anunciara que 28 milhões de pessoas necessitariam de vales de comida para comerem: o aumento mais significativo desde a década de 1960.

O mais grave é que o rebentar da bolha imobiliária iniciado em 2007 aprofundou as más condições de vida de uma parte importante dos sectores operários e populares (calcula-se apenas 25% tem um salário que cobre as suas necessidades, incluindo o seguro de saúde). Antes de rebentar a crise, no país mais rico do mundo, 51,7% milhões viviam já na pobreza, 35 milhões passaram fome durante o ano de 2006 e 50 milhões não tinham seguro médico (seja dito que não existe saúde pública nem obras sociais sindicais).

Só em Agosto, mais de 300.000 casas foram notificadas da execução: 2 em cada 416 propriedades dos EUA (CNBC, 12/9). Em Maio votou-se um pacote de ajuda aos pequenos devedores, mas este apenas foi para refinanciar as dívidas de um sector, pelo que continuam milhões de execuções hipotecárias.

Com este panorama orquestrou-se o maior transferência de dinheiro da história: milhares de milhões de dólares para salvar empresas que enriqueceram durante as últimas décadas. Apesar do fracasso da primeira tentativa de votação no Congresso, tanto o candidato democrata, Barack Obama, como o republicano, John McCain, bem como os líderes das duas bancadas mostraram a sua vontade de apoiar as grandes empresas e o governo de Bush, o mais impopular da história do país. À margem dos discursos hipócritas de campanha eleitoral, o partido democrata demonstrou, uma vez mais, que não é alternativa alguma para «a mudança» que Obama tanto apregoa.

Ouvem-se vozes de protesto

O descontentamento com a situação económica cresceu com a rejeição do plano de Paulson. Todos sabem quem pagará a factura. Bush foi claro: «estas medidas requerem que utilizemos um montante significativo dos dólares dos contribuintes», disse, referindo-se aos 700.000 milhões de dólares do Plano Paulson. Segundo sondagens feitas, mais de 70% da população rejeita a medida porque vêem que são eles, os trabalhadores e os sectores médios empobrecidos, os que perdem o trabalho, os que ficarão devedores, os que pagarão a crise.

Ainda que os principais entraves tenham vindo da parte da oposição interna no Congresso, a rejeição fez-se sentir, até agora de forma calma. Realizaram-se protestos e mobilizações em frente dos bancos e repartições públicas contra o «Bailout» [N. do T.: entrada de dinheiro fresco para evitar a falência. Tem uma conotação negativa que, livremente, poderia ser traduzido por golpada.], e no coração de Wall Street. As principais palavras de ordem são contra o governo republicano e a salvação de empresas com o dinheiro dos impostos.

Tal como na campanha eleitoral, apesar das hipocrisias que se dizem na televisão, nenhum dos partidos é uma alternativa. Com mais ou menos diferenças, democratas e republicanos demonstraram que a sua lealdade é para com Wall Street e as grandes empresas, e não para com os trabalhadores e o povo.

A única forma de mitigar esta crise é fazê-la pagar aos que a provocaram: há que suspender todas as execuções hipotecárias, dividir as horas de trabalho entre todas s mãos disponíveis para lutar contra a desocupação, pôr em funcionamento um plano de obras públicas sob controlo dos trabalhadores, para recuperar a infra-estrutura do país e que crie milhões de postos de trabalho financiados com os impostos às grandes fortunas. Nem um dólar para os bancos!Estas e todas medidas necessárias para enfrentar a crise só poderão ser impostas com a mobilização de trabalhadoras e trabalhadores e dos sectores empobrecidos independentemente dos partidos democrata e republicano.

  • Celeste Murillo

Este texto foi publicado em La Haine, Tradução de José Paulo Gascão

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